domingo, abril 17, 2011
A árvore
Julie Bertuccelli estreou na direção de longas-metragens com Since Otar Left (2004). Seu segundo filme (não contando o documentário sobre o artista Otar Iosseliani, filmado em 2007) começou a nascer quando uma amiga lhe deu de presente o livro Our Father Who Art in the Tree, de autoria da australiana Judy Pascoe. Além de estabelecer um curioso intertexto com seu "romance fetiche" (O barão nas árvores, de Italo Calvino, cujos direitos autorais, havia descoberto Julie, estavam indisponíveis), o livro abordava temas que ela desejava abordar em linguagem fílmica. Esses temas são, nas palavras da própria diretora: "a infância, a força da imaginação e da invenção como fonte de sobrevivência e o inexorável poder da vida superando a tristeza". Dawn (Charlotte Gainsbourg), no auge de seus trinta e muitos anos, vê-se viúva com quatro filhos. Cada um administra a perda a seu modo. Dawn entra numa depressão situacional, mas sai dela por meio do trabalho como auxiliar na loja do encanador George (Marton Csokas), o patrão que toda viúva pediu a Deus. Tim (Christian Byers), o filho mais velho, é o mais prático: não abandona os planos e, ao mesmo tempo, assume o papel de "homem da casa". O introspectivo Lou (Tom Russel) fica meio na dele. Charlie (Gabriel Gotting), o caçula de 3 anos, retarda o início da fala. Mas é Simone (Morgana Davies), de 8, que reage da maneira mais inusitada. Transfere o amor que sentia ao pai à árvore em que o pai soltou o último suspiro. Começa a falar com a imensa figueira e conta à mãe que a árvore responde, que na árvore mora o espírito do pai morto. A coprodução franco-australiana (a atriz protagonista e a diretora são francesas, o restante do elenco e os cenários são australianos) trata do assunto da perda sem pieguice e com momentos de lirismo e plasticidade. Não é para menos que o espectador sente um clima de intenso envolvimento autoral com o tema "perda". Em 2006, durante a pré-produção do filme, o renomado diretor de fotografia Christophe Pollock, então marido de Julie Bertuccelli, faleceu precocemente, aos 52 anos de idade.
sábado, abril 16, 2011
Rango e Rio
Rango e Rio. Animações tão distintas quanto balada western e samba. Um faroeste protagonizado por Rango, o desengonçado camaleão, e uma aventura protagonizada por Blu, a arara azul que não sabe voar. O humor de Rango é seco e sarcástico. O humor de Rio é leve e explícito. Rio tem lindos e fofos personagens. Rango só tem bicho feio. Rango tem poeira e seca. Rio tem areia e mar. Rio é carnaval. Rango é surreal. Em Rio, Blu é inteligente porque, apesar de ter nascido no Brasil, foi criado nos Estados Unidos. Em Rango, não há personagens inteligentes. Rio tem duas heroínas: Linda, a dona da livraria em Minnesota, americana e inteligente, e Jade, a arara azul, brasileirinha e burra. Rango não tem heroínas. Rio é colorido. Rango é fosco. Rio é alegre. Rango é soturno. Rio é sofisticado. Rango é tosco. Rio até consegue ser engraçadinho, Rango nem tenta. Em Rio, os vilões são meliantes da periferia. Em Rango, o vilão é um político acima de qualquer suspeita. Gore Verbinski dirige Rango. Carlos Saldanha, Rio. Dois filmes hollywoodianos, mas Rango tem sabor de Cannes. Faça um teste. Leve o seu filho aos dois filmes.