domingo, abril 28, 2013
Skyfall
O apuro estético e o estilo clássico do diretor Sam Mendes fizeram bem à franquia. Roteiro bem configurado que dá estofo ao protagonista e direção que mescla ação trepidante e suprema plasticidade transformam Skyfall em primoroso entretenimento.
Exemplo desse estofo é a cena chave em que 007 visita um museu e admira um quadro de William Turner (1775-1851): O navio de guerra “Temerário” é rebocado ao seu derradeiro atracadouro para ser desmontado (1838). É uma cena importante, não só porque o espião encontra o seu novo contato, mas também por questões simbólicas: o jovem agente compara Bond ao Temerário.
Skyfall é justamente a história de um velho guerreiro lutando contra uma precoce aposentadoria. O roteiro estrutura-se em três atos bem definidos:
Ato I: morte e ressurreição de Bond.
Ato II: entra em cena o vilão Silva (Javier Bardem) / escaramuças e romances.
Ato III: combate final, tendo como cenário a velha propriedade da família Bond.
O imponente e inexpugnável casarão dos Bond tem, como a casa de campo alugada pelo casal Clarissa e Henry em A teia da aranha (peça teatral de Agatha Christie adaptada à prosa por Charles Osborne, sucesso de vendas na coleção L&PM pocket), um priest hole, ou seja, uma passagem secreta para esconder ou facilitar a fuga de padres católicos perseguidos na Inglaterra na época da Rainha Elizabeth.
É inegável que boa parte do charme deste filme reside no Ato III, que remete ao suspense de faroestes clássicos como Matar ou morrer e Sem lei e sem alma.
domingo, abril 21, 2013
Carros 2
Em Carros 2 (2011), John Lasseter realizou uma ousada guinada em relação à simplicidade de Carros (2006). Além do acréscimo da tecnologia 3-D, novos personagens são introduzidos a granel: Finn McMíssil, Holly Caixadebrita, Francesco Bernoulli, Miles Eixoderroda, Professor Z, etc. Espião, agente secreta, carro de F-1, empresário do ramo dos combustíveis, cientista louco, etc. O enredo nada simplório mescla aventura de espionagem e competição automobilística. Mate e Relâmpago Mcqueen são tragados num turbilhão de intrigas, suspeitas e sabotagens entremeadas com uma subtrama envolvendo laços de amizade abalados pela vergonha que Mcqueen sente do amigo caipira. Por sinal, se em Carros o protagonista era McQueen, em Carros 2, Mate é alçado à condição de personagem principal, na esteira do sucesso da coletânea Car Toons: As grandes histórias de Mate. Em tempo: um dos bônus de Carros 2 é Mate aéreo, curta em 3-D que vem complementar a coletânea lançada com as aventuras do simpático guincho. Em tempo 2: já havia escrito en passant sobre Carros 2, no post Amizades e... rodas!
Cars Toon: As grandes histórias do Mate
Primores de concisão, repletas de citações cinéfilas, Car Toons: As grandes histórias do Mate (2010) seguem sempre a mesma premissa: a turma reunida ao redor de Mate que narra um incrível "causo" ocorrido com ele. Lá pelas tantas, McQueen protesta que a história é implausível, quando Mate revela: o carro de corrida não só estava lá, como também teve atuação relevante para o desfecho da história. Todos os nove curtas são excelentes exemplos de valorizar o essencial e, ao mesmo tempo, rechear cada valioso segundo com detalhes somente percebidos após várias reprises. Difícil destacar algum, mas sem dúvida o que conta a "origem" do heavy metal beira a genialidade. Lasqueira!
A origem dos guardiões
Quando Breu desencadeia um plano maligno e globalizado para que as crianças deixem de acreditar nos guardiões (Papai Noel, Fada do Dente, Sandman e Coelho da Páscoa), os quatro são obrigados a solicitar a ajuda de Jack Frost, o adolescente que domina a água em estado sólido – geada, neve, granizo. Relutante, Jack concorda em ajudar, com a esperança de descobrir suas origens – o moço de cabelos gélidos não se lembra de sua infância. Com ações maquiavélicas (o rapto de um batalhão de fadinhas do dente e a destruição de uma remessa de ovos de páscoa), a perversa entidade vai paulatinamente minando a credibilidade dos guardiões, até restar apenas uma só criança com verdadeira fé nas criaturas boas e protetoras. A animação da Dreamworks, estreia na direção do desenhista Peter Ramsey, não ironiza quem deve ser levado a sério: as crianças e seus guardiões.
domingo, abril 07, 2013
O mistério da libélula
Este blog completou 10 anos de existência no dia 6 de abril.
Esta semana não assisti a nenhum filme, pois perdi um ente querido, de quem herdei a paixão pelo cinema: a minha mãe, D. Nidia Müzell de Oliveira Guerra, que aos 74 anos nos deixou. Em memória dela e para não deixar passar em branco o aniversário de uma década do blog, resgato um texto escrito em agosto de 2002, de uma espécie de "arquivo perdido" com as resenhas escritas "pré-blog". Tempos que não voltam mais, tempos em que Carazinho, minha cidade natal, ainda tinha cinema.
O carro percorre lentamente as ruas de
Carazinho, anunciando pelo alto-falante. "Não percam! O mistério da libélula,
em cartaz, no Cine Brasília. Um filme especial
para os admiradores de bons programas cinematográficos!" Tucanaram os
cinéfilos!
Quando o filme é só uma desculpa para poder consumir uma boa pipoca e sair de casa, saca?
Muito bem, lá estava eu, triturando as saborosas polpas de milho ao avesso, e o Kevin Costner enfrentando sérios problemas na tela.
A história é bem triste. Um médico despede-se da esposa, ela está grávida, mesmo assim não recusa o chamado da Cruz Vermelha Internacional, da qual é voluntária.
Um acidente acontece, e ele recebe a pior das notícias. Não há sobreviventes. E o corpo da esposa não é resgatado. Dias depois, o viúvo recebe uma encomenda que sua esposa havia feito para o quarto da criança. Um enfeite de libélulas. A partir daí, coisas estranhas e sobrenaturais começam a ocorrer.
Ele vai se tornando obcecado, e resolve conhecer o setor que a esposa trabalhava no hospital - a oncologia infantil. Com as crianças que a esposa cuidava, recebe mais indícios de que ela está tentando se comunicar com ele. Um dos guris doentes, depois de ser reanimado e salvo da morte, desenha sempre um símbolo, uma espécie de cruz ondulada.
O que significa aquele símbolo? O que sua esposa, esteja onde estiver, está tentando lhe dizer? Para obter essas respostas, Kevin Costner procura Linda Hunt, a anãzinha que fez o fotógrafo de O ano em que vivemos em perigo, lembra? Fazia tempo que essa excelente atriz não dava as caras. Ela é uma freira que vai ajudar o desesperado personagem de Kevin Costner.
O mistério da libélula tem tudo para receber críticas, ser taxado de melodrama, de apelar para o clichê, de ser previsível, piegas, exagerado e forçado. Porém (sempre há um porém) (e vão dizer que porém também é clichê) (e chega de parênteses), o filme pode emocionar quem não foi ao cinema para criticar e pegar furos do roteiro.
Esta semana não assisti a nenhum filme, pois perdi um ente querido, de quem herdei a paixão pelo cinema: a minha mãe, D. Nidia Müzell de Oliveira Guerra, que aos 74 anos nos deixou. Em memória dela e para não deixar passar em branco o aniversário de uma década do blog, resgato um texto escrito em agosto de 2002, de uma espécie de "arquivo perdido" com as resenhas escritas "pré-blog". Tempos que não voltam mais, tempos em que Carazinho, minha cidade natal, ainda tinha cinema.
O mistério da
libélula
Quanto ao filme de Tom Shadyac, tenho a
dizer que fui seduzido pelo título, e pela curiosidade de conferir o atual
estádio de interpretação do Kevin Costner. Encarei.
Sabia, de antemão, que não podia esperar
muito.Quando o filme é só uma desculpa para poder consumir uma boa pipoca e sair de casa, saca?
Muito bem, lá estava eu, triturando as saborosas polpas de milho ao avesso, e o Kevin Costner enfrentando sérios problemas na tela.
A história é bem triste. Um médico despede-se da esposa, ela está grávida, mesmo assim não recusa o chamado da Cruz Vermelha Internacional, da qual é voluntária.
Um acidente acontece, e ele recebe a pior das notícias. Não há sobreviventes. E o corpo da esposa não é resgatado. Dias depois, o viúvo recebe uma encomenda que sua esposa havia feito para o quarto da criança. Um enfeite de libélulas. A partir daí, coisas estranhas e sobrenaturais começam a ocorrer.
Ele vai se tornando obcecado, e resolve conhecer o setor que a esposa trabalhava no hospital - a oncologia infantil. Com as crianças que a esposa cuidava, recebe mais indícios de que ela está tentando se comunicar com ele. Um dos guris doentes, depois de ser reanimado e salvo da morte, desenha sempre um símbolo, uma espécie de cruz ondulada.
O que significa aquele símbolo? O que sua esposa, esteja onde estiver, está tentando lhe dizer? Para obter essas respostas, Kevin Costner procura Linda Hunt, a anãzinha que fez o fotógrafo de O ano em que vivemos em perigo, lembra? Fazia tempo que essa excelente atriz não dava as caras. Ela é uma freira que vai ajudar o desesperado personagem de Kevin Costner.
O mistério da libélula tem tudo para receber críticas, ser taxado de melodrama, de apelar para o clichê, de ser previsível, piegas, exagerado e forçado. Porém (sempre há um porém) (e vão dizer que porém também é clichê) (e chega de parênteses), o filme pode emocionar quem não foi ao cinema para criticar e pegar furos do roteiro.