O faz-tudo James Gunn é o nome por trás do sucesso até certo ponto inesperadamente estrondoso da agora franquia Guardiões da galáxia. O que era para ser um mais um filmeco de super-heróis acabou se tornando instantaneamente uma franquia com fãs ávidos e fanáticos, e a maior parte deles nunca pegou nas mãos um gibi dos personagens.
Isso é até certo ponto compreensível. Afinal, vivemos num mundo confuso em que é fashion ser geek, em que é geek ser fashion.
Nos cérebros deste mundo, o humor no-limite-do-sutil-com-o-escracho de James Gunn parece ter encontrado um solo fértil onde crescer e florescer. As pessoas se divertiram no primeiro Guardiões da galáxia e agora lotam os cinemas para se divertir ainda mais com o Vol. 2.
Piadas explícitas, piadas implícitas, piadas feministas, piadas non-sense, piadas inocentes, piadas picantes, piadas de amor platônico, piadas politicamente incorretas, piadas, piadas e mais piadas. James Gunn, diretor e roteirista, é o tipo do cara que perde o amigo, mas não perde a piada.
Entre uma piada e outra, Gunn (o roteirista de Madrugada dos mortos e diretor de Super, divertida paródia sobre os filmes de super-heróis) tenta seguir duas linhas narrativas: a história de Ego (Kurt Russell), que à primeira vista aparenta ser um cara charmoso e carismático, e a história de Yondu (Michael Rooker), o ladrão de pele azul que criou Peter Quill. Enquanto desenvolve aspectos sobre esses personagens, o diretor/roteirista, na verdade, está familiarizando a plateia com o background do protagonista, o Senhor das Estrelas (Chris Pratt). Não vou entrar em detalhes spoilerísticos, apenas comentar que, no frigir dos ovos, as duas linhas convergem e tudo passa a fazer sentido, em prol de uma "mensagem".
O mais incrível é que Gunn tem bala na agulha. Não perde de vista o seu objetivo. É uma espécie de Howard Hawks da atualidade: acredita que cinema é entretenimento, e acrescenta música (Mr. Blue Sky, da Electric Light Orchestra, abre os trabalhos), e acrescenta ação, e acrescenta todos os elementos necessários para manter a atenção de pessoas de todas as idades. Sei de um menino de 5 anos que assistiu ao filme inteiro, fazendo comentários, como "Corre, Groot!". E de um adulto calejado que sorriu ao ver o videoclipe mais insano para uma canção de sua banda preferida.
Sim, Gunn tem a mira certeira: tem como alvos o público geek e o público família. Famílias em peso na fila, tirando fotos, empolgadas, afinal, ir ao cinema para ver Guardiões da galáxia vol. 2 é um programa emocionante, que vale a pena ser registrado na retina e nas redes sociais. Primos, noras, irmãs, pais, mães, vovós, pombinhos apaixonados, genros, filhos, irmãos, primas, filhas. Pequenos e marmanjos, jovens e barbados, tatuados e calvos, todos se divertem igualmente. O filme termina e a maioria não arreda pé. Espera até o fim. Não quer perder nenhuma das cenas durante os créditos. Novamente, Gunn acertou na mosca.
domingo, abril 30, 2017
segunda-feira, abril 24, 2017
O fabuloso filme de Jean Pierre Jeunet
O fabuloso destino de Amélie
Poulain (2001) é um filme fácil de ver e gostar. O roteiro é dinâmico e
original. A história é contada de forma leve e bem-humorada. O elenco dá vida
aos personagens. Resultado: o espectador se diverte e se emociona com as
peripécias da jovem Amélie Poulain.
Amélie é filha única de um casal de
professores. Até os seis anos, tudo vai bem em sua vida, quando perde a mãe em
circunstâncias tragicômicas. A atriz mirim Flora foi escolhida depois de
seleção rigorosa. Fala apenas uma frase. Seu olhar expressivo já diz tudo. O
diretor só começava a filmar depois da pequena Flora declarar: “Eu estou pronta”.
Detalhe: ela é filha de pai francês e mãe brasileira.
Um pulo e Amélie aparece já moça. Os
mesmos cabelos e olhos castanhos cheios de expressão, agora representados por
Audrey Tautou. Esta menina hipnotiza o público em sua rotina comum.
É balconista de um café com estranhos clientes. Entre eles, um escritor
fracassado e um namorado rejeitado.
Outros personagens de sua vida são seu gato, com quem divide o
apartamento, e os vizinhos do prédio. Um misterioso pintor com ossos de vidro.
Uma senhora que vive a reler as cartas do esposo morto. Um mal-humorado dono de
fruteira, que vive a humilhar seu empregado de um braço só. Aos fins de semana,
Amélie visita o pai viúvo, aposentado e acomodado. Quanto à vida
"pessoal": o coração de Amélie anda à procura de algo mais, algo que
realmente valha a pena.
Uma série de coincidências leva
Amélie a descobrir uma caixa com itens colecionados por um menino, na década de
50. Amélie encasqueta em localizar o dono da caixa e lhe devolver as relíquias
de sua infância. Daí por
diante, contar seria estragar as muitas surpresas do filme. Amélie atua como
uma catalisadora de emoções. Através de seu modo de ser, transforma todas as
pessoas ao redor, quase esquecendo de si.
Uma das "mensagens" do
filme seria essa. Para isso que servem os amigos, afinal. Dar um toque, um
empurrãozinho. Alguém fará por Amélie o que ela está fazendo pelos outros?
Sobre o diretor Jean Pierre Jeunet:
começou a carreira na publicidade e fazendo videoclipes. Em longa-metragem codirigiu Delicatessen (91), onde predominava o
humor negro. Realizou Ladrões de sonhos (95),
mantendo o estilo esquisito. Um passo para o cinema mais pop foi dado com Alien 4 (97).
Amélie é uma bem-vinda volta às
origens. Um filme com o melhor do cinema francês: o humor, a música, a
linguagem, uma penca de personagens característicos... Um filme merecedor de seu Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Diga-se de passagem: em 2014, Jeunet, cineasta pouco prolífico, mas de estilo bastante especial, voltou a acertar em cheio, com o prodigioso A viagem extraordinária, filmado em 3-D.
sábado, abril 22, 2017
Onde começa o inferno
Foi de uma frase de Howard Hawks que Peter Bogdanovich pinçou o título de seu livro "Afinal, quem faz os filmes" (Who the devil made it).
A frase, na tradução de Henrique Leão, é a seguinte:
[...] Eu gostava de quase todo mundo que me fazia perceber quem diabos estava fazendo o filme [...] Porque o diretor é quem conta a história, e deve ter o seu próprio método de contá-la.
Onde começa o inferno (Rio Bravo, 1959) é um emblemático exemplo da filmografia desse diretor que acreditava que o cinema não era uma arte, e sim um negócio, um divertimento.
E fica evidente que ele se divertiu muito fazendo Rio Bravo, um filme que, como a maioria de seus filmes, girava "em torno de personagens, e não de situações". Bogdanovich perguntou isso a Hawks, que respondeu: "Seguir uma trama não é muito complicado; mas, quando não se tem um enredo, já não é tão fácil contar uma história".
Onde começa o inferno revela essa marca registrada de Hawks. Um western em que a conversa é mais importante que os tiroteios. Não há uma trama intricada, um roteiro repleto de reviravoltas e sacadas geniais. Há a construção das personagens, os diálogos bem urdidos. Há a forte relação de amizade entre um xerife e seu ajudante, que se transformou num beberrão após uma desilusão amorosa. Há a paixão inevitável entre uma jovem procurada pela justiça e o xerife. Há a carismática presença de outro ajudante, manco, que conhece o xerife como ninguém, e em quem o xerife sabe que pode confiar. Há, também, o alívio cômico, na pele do atrapalhado dono do hotel.
Para se ter uma ideia de quanto Hawks segue à risca sua cartilha de considerar o cinema uma diversão: ele aproveitou a presença de dois cantores no elenco e deu a eles um número musical, numa cena que caiu como uma luva no contexto do filme. Os quatro, mesmo preocupados com a situação em que precisam manter sob custódia um preso na delegacia daquela remota cidadezinha texana, precisam de um momento de distração, de alegria, que a música lhes traz.
Falando em música, a canção entoada por Dean Martin (que teve de alugar um avião para comparecer à reunião marcada por Hawks e, assim, ganhar o papel de Dude, o ajudante bêbado) nesta cena é de Dimitri Tiomkin, como também é a trilha do filme. O mesmo compositor, aliás, premiado pela canção de outro faroeste, Matar ou morrer (High Noon, 1952). Que, por sinal, foi a inspiração para Rio Bravo, conforme Hawks, que havia se aborrecido com a falta de ajuda oferecida ao protagonista do filme de Fred Zinnemann. Em Rio Bravo, acontecem situações mais naturais, não apenas a recusa para salvar a pele. Numa delas, a mocinha se oferece para ajudar o xerife, que se recusa a aceitar, por vaidade, orgulho, ou medo de envolvê-la.
Feathers, a moça que se apaixona pelo xerife, é vivida por Angie Dickinson. Completam o elenco: o cantor Ricky Nelson, na pele do jovem e decidido Colorado; o camaleônico e triplamente oscarizado Walter Brennan como Stumpy, o engraçado ajudante coxo; e, por último, mas não menos importante, ele, o xerife John T. Chance, mais um personagem marcante neste verdadeiro sinônimo de faroeste clássico: John Wayne.
Em tempo: falando em John, o diretor John Carpenter, fã incondicional de Hawks e de Rio Bravo, acabou realizando dois filmes inspirados no clássico de Howard Hawks: Assalto à 13ª DP (1976) e Fantasmas de Marte (2001).
A frase, na tradução de Henrique Leão, é a seguinte:
[...] Eu gostava de quase todo mundo que me fazia perceber quem diabos estava fazendo o filme [...] Porque o diretor é quem conta a história, e deve ter o seu próprio método de contá-la.
Onde começa o inferno (Rio Bravo, 1959) é um emblemático exemplo da filmografia desse diretor que acreditava que o cinema não era uma arte, e sim um negócio, um divertimento.
E fica evidente que ele se divertiu muito fazendo Rio Bravo, um filme que, como a maioria de seus filmes, girava "em torno de personagens, e não de situações". Bogdanovich perguntou isso a Hawks, que respondeu: "Seguir uma trama não é muito complicado; mas, quando não se tem um enredo, já não é tão fácil contar uma história".
Onde começa o inferno revela essa marca registrada de Hawks. Um western em que a conversa é mais importante que os tiroteios. Não há uma trama intricada, um roteiro repleto de reviravoltas e sacadas geniais. Há a construção das personagens, os diálogos bem urdidos. Há a forte relação de amizade entre um xerife e seu ajudante, que se transformou num beberrão após uma desilusão amorosa. Há a paixão inevitável entre uma jovem procurada pela justiça e o xerife. Há a carismática presença de outro ajudante, manco, que conhece o xerife como ninguém, e em quem o xerife sabe que pode confiar. Há, também, o alívio cômico, na pele do atrapalhado dono do hotel.
Para se ter uma ideia de quanto Hawks segue à risca sua cartilha de considerar o cinema uma diversão: ele aproveitou a presença de dois cantores no elenco e deu a eles um número musical, numa cena que caiu como uma luva no contexto do filme. Os quatro, mesmo preocupados com a situação em que precisam manter sob custódia um preso na delegacia daquela remota cidadezinha texana, precisam de um momento de distração, de alegria, que a música lhes traz.
Falando em música, a canção entoada por Dean Martin (que teve de alugar um avião para comparecer à reunião marcada por Hawks e, assim, ganhar o papel de Dude, o ajudante bêbado) nesta cena é de Dimitri Tiomkin, como também é a trilha do filme. O mesmo compositor, aliás, premiado pela canção de outro faroeste, Matar ou morrer (High Noon, 1952). Que, por sinal, foi a inspiração para Rio Bravo, conforme Hawks, que havia se aborrecido com a falta de ajuda oferecida ao protagonista do filme de Fred Zinnemann. Em Rio Bravo, acontecem situações mais naturais, não apenas a recusa para salvar a pele. Numa delas, a mocinha se oferece para ajudar o xerife, que se recusa a aceitar, por vaidade, orgulho, ou medo de envolvê-la.
Feathers, a moça que se apaixona pelo xerife, é vivida por Angie Dickinson. Completam o elenco: o cantor Ricky Nelson, na pele do jovem e decidido Colorado; o camaleônico e triplamente oscarizado Walter Brennan como Stumpy, o engraçado ajudante coxo; e, por último, mas não menos importante, ele, o xerife John T. Chance, mais um personagem marcante neste verdadeiro sinônimo de faroeste clássico: John Wayne.
Em tempo: falando em John, o diretor John Carpenter, fã incondicional de Hawks e de Rio Bravo, acabou realizando dois filmes inspirados no clássico de Howard Hawks: Assalto à 13ª DP (1976) e Fantasmas de Marte (2001).
sexta-feira, abril 21, 2017
A garota no trem
Ao resenhar um filme estou tentando, em última análise, responder a uma pergunta simples: "Por que cargas d'água fui atraído para ver este filme?". O que me levou a estender a mão e pegar este filme na prateleira da locadora? Em outras palavras, o que me motivou a investir meu tempo e meu dinheiro neste ou naquele muitas vezes obscuro objeto de desejo cinéfilo? Ao cabo deste texto, espero que tenha conseguido desvendar o mistério.
Adaptado do romance homônimo escrito por Paula Hawkins, o filme A garota no trem, dirigido por Tate Taylor (o diretor nascido em 3 de junho que realizou o filme Histórias cruzadas), por seu ritmo pausado e por sua relativa falta de cenas de ação, não se enquadraria como "thriller", mas sim como o que se costumava rotular de "suspense psicológico".
Para isso contribui o fato de que um dos personagens secundários é um psicoterapeuta, alguém que, por conta de sua profissão, deixa as pessoas falarem e exorcizarem seus próprios demônios por meio do desabafo.
A garota no trem, o livro, tem três pontos de vista. Três mulheres muito diferentes contando a mesma história, cada uma sob seu olhar. O modo como cada uma enxerga a si e as outras é a chave para o sucesso do livro, um best-seller traduzido no Brasil por Simone Campos.
Erin Cressida Wilson, a roteirista, explica nos extras que era muito grande o desafio de valorizar o material literário, de transformar a linguagem literária em linguagem cinematográfica.
Os recursos de cada mídia são bastante diferentes, e cenas que funcionam em texto, não necessariamente vão funcionar no roteiro a ser filmado.
O livro, aos poucos, desvela, sob três prismas diferentes, uma intricada história de atração, obsessão e manipulação.
No filme, o foco se concentra em Rachel, a "garota no trem". Ela tenta se recuperar do fim de um casamento, que, em sua percepção, ela mesma colocou a perder, por conta de sua condição de alcoolista. O ex-marido, Tom Watson (Justin Theroux), agora está casado novamente, com uma filha pequena, e Rachel diariamente avista pela janela do trem o casarão onde o novo casal mora.
As outras duas mulheres principais da trama são a nova esposa Anna (Rebecca Ferguson) e Megan (Haley Bennet), contratada para cuidar da neném.
Embora casada com Scott (Luke Evans), Megan é o tipo de mulher que desperta os olhares de muitos homens.
O espectador já sabe de antemão: inevitavelmente, um crime vai acontecer. E também já desconfia que é o tipo de história em que cada um carrega um segredo perturbador.
Nisso é inevitável, também, o paralelo com outro suspense, menos soturno e mais bem definido em termos de gênero: A mão que balança o berço, de Curtis Hanson. No filme de Hanson, a violência explode quando uma mente pérfida e maquiavélica busca vingança de modo calculista.
Em A garota no trem, o suspense se constrói paulatinamente, em camadas, com ênfase na análise psicológica das personagens.
Mas eis que o texto está chegando ao fim, e, ao que me consta, ainda não consegui responder à pergunta que levantei no começo do texto. Meu interesse por histórias de suspense? Quem sabe...
Em busca da resposta, súbito um nome me vem à mente. Uma tênue e nebulosa suspeita. Mas não sou assim. Em geral, eu escolho filmes pelo diretor, e não pelo elenco. Mas Freud explica: "Emily Blunt".
Adaptado do romance homônimo escrito por Paula Hawkins, o filme A garota no trem, dirigido por Tate Taylor (o diretor nascido em 3 de junho que realizou o filme Histórias cruzadas), por seu ritmo pausado e por sua relativa falta de cenas de ação, não se enquadraria como "thriller", mas sim como o que se costumava rotular de "suspense psicológico".
Para isso contribui o fato de que um dos personagens secundários é um psicoterapeuta, alguém que, por conta de sua profissão, deixa as pessoas falarem e exorcizarem seus próprios demônios por meio do desabafo.
A garota no trem, o livro, tem três pontos de vista. Três mulheres muito diferentes contando a mesma história, cada uma sob seu olhar. O modo como cada uma enxerga a si e as outras é a chave para o sucesso do livro, um best-seller traduzido no Brasil por Simone Campos.
Erin Cressida Wilson, a roteirista, explica nos extras que era muito grande o desafio de valorizar o material literário, de transformar a linguagem literária em linguagem cinematográfica.
Os recursos de cada mídia são bastante diferentes, e cenas que funcionam em texto, não necessariamente vão funcionar no roteiro a ser filmado.
O livro, aos poucos, desvela, sob três prismas diferentes, uma intricada história de atração, obsessão e manipulação.
No filme, o foco se concentra em Rachel, a "garota no trem". Ela tenta se recuperar do fim de um casamento, que, em sua percepção, ela mesma colocou a perder, por conta de sua condição de alcoolista. O ex-marido, Tom Watson (Justin Theroux), agora está casado novamente, com uma filha pequena, e Rachel diariamente avista pela janela do trem o casarão onde o novo casal mora.
As outras duas mulheres principais da trama são a nova esposa Anna (Rebecca Ferguson) e Megan (Haley Bennet), contratada para cuidar da neném.
Embora casada com Scott (Luke Evans), Megan é o tipo de mulher que desperta os olhares de muitos homens.
O espectador já sabe de antemão: inevitavelmente, um crime vai acontecer. E também já desconfia que é o tipo de história em que cada um carrega um segredo perturbador.
Nisso é inevitável, também, o paralelo com outro suspense, menos soturno e mais bem definido em termos de gênero: A mão que balança o berço, de Curtis Hanson. No filme de Hanson, a violência explode quando uma mente pérfida e maquiavélica busca vingança de modo calculista.
Em A garota no trem, o suspense se constrói paulatinamente, em camadas, com ênfase na análise psicológica das personagens.
Mas eis que o texto está chegando ao fim, e, ao que me consta, ainda não consegui responder à pergunta que levantei no começo do texto. Meu interesse por histórias de suspense? Quem sabe...
Em busca da resposta, súbito um nome me vem à mente. Uma tênue e nebulosa suspeita. Mas não sou assim. Em geral, eu escolho filmes pelo diretor, e não pelo elenco. Mas Freud explica: "Emily Blunt".
segunda-feira, abril 03, 2017
A chegada
O filme de Denis Villeneuve tem uma heroína improvável. A Dra. Louise Banks (Amy Adams) é filóloga, tradutora e professora universitária. No começo do filme, ela é obrigada a interromper a aula sobre uma linguagem sui generis (a língua portuguesa) por conta de notícias assustadoras que começam a desviar a atenção dos alunos via web. Em 12 pontos da Terra, conchas bizarras pairam sobre o solo, inspirando medo e histeria.
Aí que entra a Dra. Banks na história. Ela tem um contrato de tradução vigente com o governo e pode ter acesso a informações confidenciais. Por isso, é convidada pelo general Weber (Forest Whitaker) para trabalhar na equipe nova-iorquina, junto com o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner).
As tentativas de decifrar a complexa linguagem são mescladas com cenas de Louise com a sua filha. Com ousadia, o diretor canadense Denis (a pronúncia é "Deni") Villeneuve adapta a premiada narrativa (o conceituado Prêmio Nebula na categoria "novella", ou seja textos entre 17.500 e 40.000 palavras) Story of Your Life, de Ted Chiang. Sem dúvida, assistir ao filme desperta muita curiosidade para ler a noveleta. Pessoas que leram a obra afirmam que a leitura ajuda a compreender o filme (só entre neste link se estiver disposto a se deparar com spoilers) e a preencher as lacunas. A adaptação foi realizada pelo roteirista Eric Heisserer, especializado em suspense e terror, e a edição ficou a cargo de Joe Walker, que conta nos extras seus esforços para deixar o filme mais enxuto.
sábado, abril 01, 2017
Doutor Estranho
O currículo de Scott Derrickson mostra uma forte tendência a temas esotéricos, sobrenaturais e ficção científica. Entre outros, dirigiu Hellraiser: Inferno (2000), O exorcismo de Emily Rose (2005), O dia em que a Terra parou (2008, refilmagem do clássico de Robert Wise) e A entidade (2012). Digamos que não é qualquer cineasta que pula de orçamento e consegue de certa forma manter a "coerência" temática: Doutor Estranho tem elementos que mesclam todos esses temas. Com um custo de 165 milhões de dólares, acabou sendo a produção mais cara sob a direção de Scott Derrickson, na qual ele teve plenas condições de mostrar os conhecimentos obtidos em seu Mestrado em Cinema pela USC.
Doutor Estranho tem uma grande qualidade: não se propôs a abarcar mais do que deveria. Apenas introduziu a origem do personagem, o background do exímio e bem-sucedido cirurgião (antes do acidente) que se transforma num arrogante farrapo humano (após o acidente), mas que depois resolve reconsiderar. Enfrenta um dilema: será que nem tudo, afinal, a ciência pode explicar?
Isso que torna o filme agradável: Dr. Strange (Benedict Cumberbatch) precisa reavaliar suas ideias, dar o braço a torcer. Precisa dar ouvidos à poderosa Anciã (Tilda Swinton), para conseguir galgar novos patamares.
Com a ajuda de Mordo (Chiwetel Ejiofor, contracenando com Benedict novamente, após o oscarizado Doze anos de escravidão), tentará deter o ataque de Dormammu (e aqui, uma curiosidade: a captura de movimentos faciais dessa entidade maligna foi realizada pelo próprio Benedict, que ganhou experiência na técnica ao interpretar Smaug na trilogia O Hobbit), que pretende enredar o nosso planeta na Dimensão Negra. O cameo de Stan Lee é particularmente notório: está dentro de um transporte público lendo As portas da percepção, de Aldous Huxley, e exclamando: "Nossa, isto é hilário!".
Doutor Estranho tem uma grande qualidade: não se propôs a abarcar mais do que deveria. Apenas introduziu a origem do personagem, o background do exímio e bem-sucedido cirurgião (antes do acidente) que se transforma num arrogante farrapo humano (após o acidente), mas que depois resolve reconsiderar. Enfrenta um dilema: será que nem tudo, afinal, a ciência pode explicar?
Isso que torna o filme agradável: Dr. Strange (Benedict Cumberbatch) precisa reavaliar suas ideias, dar o braço a torcer. Precisa dar ouvidos à poderosa Anciã (Tilda Swinton), para conseguir galgar novos patamares.
Com a ajuda de Mordo (Chiwetel Ejiofor, contracenando com Benedict novamente, após o oscarizado Doze anos de escravidão), tentará deter o ataque de Dormammu (e aqui, uma curiosidade: a captura de movimentos faciais dessa entidade maligna foi realizada pelo próprio Benedict, que ganhou experiência na técnica ao interpretar Smaug na trilogia O Hobbit), que pretende enredar o nosso planeta na Dimensão Negra. O cameo de Stan Lee é particularmente notório: está dentro de um transporte público lendo As portas da percepção, de Aldous Huxley, e exclamando: "Nossa, isto é hilário!".