quarta-feira, março 22, 2017
A conquista do Oeste
No intento de contar como o Oeste foi conquistado, o roteirista James R. Webb tomou uma decisão bastante inteligente: o ponto de vista é feminino. Na verdade, A conquista do Oeste (How the West was Won, 1962) nada mais que é a saga da família Prescott, em especial, as duas irmãs mais velhas, Eve e Lilith.
Eve é interpretada por Carrol Baker, e Lilith, por Debbie Reynolds, a mãe de Carrie Fisher. As duas irmãs mostram a têmpera das pioneiras estadunidenses. Bastante decididas e práticas, as irmãs Prescott, no entanto, acreditam no verdadeiro amor.
O filme é estruturado em cinco segmentos, três deles dirigidos por Henry Hathaway, um pelo lendário John Ford e o outro por George Marshall. Cada segmento permite que um ator se destaque, de James Stewart a Gregory Peck, de John Wayne a Henry Fonda.
RIOS (Henry Hathaway)
O primeiro segmento mostra o caminho fluvial da migração ao Oeste. A família enfrenta perigos como as corredeiras e um bando de malfeitores, mas também conhece um intrépido caçador, Linus Rawlings (James Stewart), que acaba se apaixonando por Eve.
PLANÍCIES (Henry Hathaway)
O segundo segmento foca na trajetória de Lilith, que se torna uma dançarina de cabaré. Um de seus fãs morre e a coloca no testamento: agora, Lilith é a feliz proprietária de uma mina de ouro na Califórnia. Ela se une a uma caravana e no caminho sofre o assédio de dois pretendentes: o sisudo e insistente Roger Morgan (Robert Preston), chefe da caravana e dono de uma fazenda, e o charmoso Cleve Van Valen (Gregory Peck), viciado em pôquer e sem ter onde cair morto. Lilith terá que tomar uma decisão: ceder aos constantes pedidos de Roger e tornar-se mãe de família, ou sentir o coração palpitando ao lado do imprevisível Cleve.
Os dois primeiros segmentos e o último têm na direção Henry Hathaway, um sujeito que estudou o processo que estava usando (Cinerama, que usa três câmeras na filmagem e três projetores de 35 mm sincronizados sobre uma tela gigantesca com arco de 146°), e realizou um trabalho fenomenal no sentido de aproveitar a oportunidade para realizar algumas das tomadas mais geniais do cinema.
GUERRA CIVIL (John Ford)
Nos extras o espectador fica sabendo o que já desconfiava: John Ford não curtiu muito lidar com o trambolho da câmera desengonçada e monstruosa, não teve a versatilidade necessária para usar a tecnologia a seu favor. "Apenas" fez circunspecta e burocraticamente o seu trabalho. E olha que isso não equivale a dizer que essa parte não tem seus bons momentos. John Wayne participa como um dos oficiais ianques, o general Tecumseh. Durante uma conversa com outro general do alto escalão, os dois sofrerão um atentado de um confederado desertor (Russ Tamblyn, ator que faz um depoimento no documentário dos extras). Zeb Rawlings (George Peppard, de Bonequinha de luxo), o filho de Eve Prescott com Linus Rawlings, é o protagonista deste segmento.
ESTRADA DE FERRO (George Marshall)
Este segmento tem a célebre sequência do estouro da manada de bisões, que soube maximizar os efeitos tridimensionais do Cinerama. Zeb, agora tenente, atua como apaziguador entre os construtores da ferrovia e a tribo dos Arapahos. Henry Fonda dá o ar de sua graça como um caçador ermitão que tem um bom relacionamento com os indígenas.
FORAS DA LEI (Henry Hathaway)
Arrematando a saga, Zeb e família vão à estação buscar ninguém menos que a tia Lily. Mas Zeb, antes de retornar ao vilarejo onde tem o cargo de xerife, precisa resolver um assunto: Charlie Gant (Eli Wallach, o vilão de Sete homens e um destino). O excelente documentário dos extras conta que um dublê se acidentou durante a notável cena de ação que se passa em cima do trem, em que Zeb se pendura numa das toras de pinheiro transportadas no vagão.
Narrado por Spencer Tracy, com um elenco grandioso conduzido por três grandes diretores, abarcando um período de meio século da História dos Estados Unidos, filmado na deslumbrante técnica Cinerama e com um enredo que mereceu o Oscar de Melhor Roteiro, A conquista do Oeste é um filme nada menos do que épico.
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