David Cronenberg tem uma queda pela morbidez que me atrai. Filmes como A mosca, Gêmeos: mórbida semelhança e Na hora da zona morta (adaptação de Stephen King) funcionam até hoje. Sou do tipo de cinéfilo que pensa que filme bom não "envelhece".
Scanners pertence à essa estirpe de filmes de Cronenberg cujo principal objetivo é fazer mergulhos nos mistérios do cérebro humano, investigações sobre a nossa natureza e os limites sensoriais.
O que torna o filme ainda muito atual é que os efeitos especiais, vanguardistas para a década de 80, hoje permanecem chocantes e verdadeiros.
Assim, a trama ganha verossimilhança, e Cronenberg deita e rola em suas viagens alucinógenas.
Além de ousado, um bom cineasta precisa ter "feeling" e acreditar em sua intuição.
Assistiu ao filme e não gostou da sequência final.
O orçamento já estava estourado.
Mostrando perfeccionismo e coragem, o diretor canadense contratou um expert em efeitos e chamou os atores principais para refazer o final.
Por sinal, Michael Ironside, um dos protagonistas, conta que ganhou uma ninharia para fazer o filme. Mas construiu um currículo para depois em Hollywood fazer o pé-de-meia.
Este filme de Cronenberg persiste em sua capacidade de nos fazer meditar sobre a força do pensamento.
v
A cena mais representativa de Scanners é a que Darryl Revock (Ironside) explode o cérebro de um interlocutor diante de uma atônita, aturdida e acachapada plateia.
Por essas e outras, o adjetivo "mind-blowing" cai como uma luva para descrever Scanners.
É um filme importante na vasta e um tanto irregular filmografia de Cronenberg, mas serviu para renovar minha admiração pelo trabalho do canadense.
Cogito até a hipótese de dar uma nova chance a outro filme dele (Naked Lunch), cuja sessão, num dia muito quente, numa sala sem ar condicionado, cometi a precipitação de abandonar.
Autoquestionar-se também pode ser "mind-blowing".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é bem-vindo!