segunda-feira, setembro 04, 2006

O que você faria?




Num dia de protestos antiglobalização em Madri, sete profissionais disputam uma vaga de executivo na empresa Dekia (uma cruza de Dell com Nokia?). Enquanto nas ruas o tumulto acontece, no departamento de recursos humanos da Dekia predomina a calma. Lá embaixo, o mundo se desintegra, aqui, sorrisos e vozes pausadas. Os cinco homens e duas mulheres chegam e são convidados por uma secretária a preencher formulários. Em pouco tempo estão participando de um jogo onde o cumprimento de cada etapa acarreta a eliminação de um dos concorrentes – qualquer semelhança com o Big Brother não é mera coincidência – e conduz a um único vencedor.
Baseado na peça intercontinental (sucesso em Madri e na Cidade do México) "O Método Grönholm", de Jordi Galcerán, o novo filme de Marcelo Piñeyro (Plata Quemada) aborda o sistema utilizado pela Dekia selecionar seu pessoal: posicionar o grupo em situações que requerem análises técnicas, morais, econômicas – e éticas. Ao se defrontarem com um problema, os aspirantes ao cargo precisam demonstrar, por meio de conversas articuladas e raciocínios embasados, capacidade de trabalhar em grupo e de tomar as decisões acertadas. Os candidatos precisam se adaptar com rapidez às circunstâncias, e os espectadores ficar atentos às sutilezas e ironias do roteiro.
Claustrofóbico, tenso, o filme de Piñeyro faz um intertexto com O Anjo Exterminador, de Luís Buñuel. Com a diferença: no clássico filme espanhol, os convidados de uma festa querem sair desesperadamente da casa e lá são retidos por uma força fantástica; enquanto no filme do argentino Pineyro, os concorrentes fazem de tudo para não sair, mas vão, um a um, sendo expulsos por uma força real – o capitalismo selvagem. ‘O que você faria?’ (2005) é um exercício de antropofagia, um retrato dos tempos modernos internacionalizados. Por uma vaguinha na Dekia, vale tudo. Cada um por si, Deus por todos. Afinal, money talks, bullshit walks.

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