segunda-feira, março 06, 2017

O Bom Gigante Amigo


Durante a Oficina de Tradução Literária de Beatriz Viégas-Faria, os participantes tiveram o prazeroso desafio de verter para o português o conto The Enormous Crocodile, de Roald Dahl. A enriquecedora experiência despertou meu interesse pela obra do canônico autor galês, que inclui, entre outros, os livros A fantástica fábrica de chocolate, Matilda, James e o pêssego gigante e O fantástico Sr. Raposo, os quais inspiraram, respectivamente,  os filmes homônimos dirigidos por Mel Stuart (remake de Tim Burton), Danny DeVito, Henry Selick e Wes Anderson.

A nova adaptação fílmica da rica obra de Roald Dahl baseia-se no livro The BFG e é dirigida por ninguém menos que Steven Spielberg, em associação com a Disney.

Após as experiências bem-sucedidas com a captura de movimentos em As aventuras de Tintim, Spielberg volta a lançar mão da técnica para dar veracidade e verossimilhança aos personagens, que ganham o melhor dos humanos (as expressões faciais, o gestual, a movimentação corporal) aliado ao melhor da tecnologia (o tamanho gigantesco, as feições bizarras, os detalhes grotescos, as peripécias impossíveis, etc.).

O imaginativo material original é transmitido à tela com o sóbrio roteiro de Melissa Mathison, que já havia trabalhado com Spielberg em E.T. e faleceu pouco antes de O Bom Gigante Amigo chegar aos cinemas.
Ilustração de Quentin Blake para o livro The BFG (1982)


Em O Bom Gigante Amigo, publicado em 1982, Roald Dahl retoma o personagem criado por ele em 1975, no livro Danny e o campeão do mundo. Com a ajuda de Melissa Mathison, Spielberg transpõe com bastante fidelidade às telas essa fábula sobre o valor da amizade e do respeito às diferenças.

O Bom Gigante Amigo conta a história de uma órfã, Sophie (Ruby Barnhill), que avista, da janela do orfanato, na calada da noite, um misterioso gigante (Mark Rylance) perambulando pelas ruas de Londres. O gigante sem pestanejar a captura e a leva para a Terra dos Gigantes, onde ele é chamado de nanico. Na caverna do gigante, Sophie é colocada para dormir no cesto da gávea de um barco cujo tombadilho é usado como cama pelo gigante.

Com o tempo, Sophie descobre que a principal atividade do BGA, como a esperta menina começa a chamá-lo, é armazenar os sonhos em potes para inseri-los mais tarde na cabeça das crianças adormecidas. Sophie também descobre que, na Terra dos Gigantes, o BGA sofre bullying de outros nove abomináveis gigantes, que, por sinal, adoram comer um petisco, ou seja, um ser humano como ela.

Mesmo com a integridade física ameaçada, Sophie bola um plano mirabolante para salvar BGA que envolve até a Rainha da Inglaterra (Penelope Wilton).

O filme de Spielberg é um tanto cadenciado, vai contando a história paulatinamente, com atenção aos detalhes primordiais, como o léxico do BGA, digno da inventividade de outro G., no caso, Guimarães Rosa.

A sequência em que o BGA e Sophie são recebidos no palácio é a mais espirituosa, com a hospitalidade britânica sendo posta à prova de um modo inimaginavelmente desafiador. O BGA retribui as gentilezas oferecendo a fantástica frobscottle, a bebida que ele fabrica, cujas bolhas descem e não sobem.




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