segunda-feira, novembro 20, 2017

Liga da Justiça

Zack Snyder recebeu o crédito integral pela direção de Liga da Justiça. O roteirista e diretor Joss Whedon pegou as rédeas do projeto com o bonde andando e filmou algumas cenas, mas ganhou apenas o crédito de corroteirista. O estúdio vem sendo criticado por essa decisão. Acho que foi uma decisão pragmática, por dois motivos: Snyder filmou, digamos, 90% do material, concebeu todas as tomadas principais e as filmou com muito talento e também "tem mais nome" que o substituto. A César o que é de César, detratam os críticos de plantão, exigindo o crédito para Whedon.



Abre parênteses. Esse é o tipo de discussão que só os nossos intrigantes tempos modernos permitem. A obsessão com o politicamente correto está tornando irrespirável o mundinho das redes sociais. As pessoas não abrem mais as janelas e lançam o olhar para o horizonte. O índice de miopia está aumentando. Os músculos do sistema ocular especializados para a visão de longa distância estão atrofiando. Resultado: a visão panorâmica perde a força e a pessoa precisa de óculos precocemente. Porém, mais perigoso ainda que atrofiar a visão, é atrofiar o cérebro. Fecha parênteses.



Assistir a Liga da Justiça comprova que o estúdio estava certo. Está na cara que o filme é dirigido por Snyder, diretor que deixa sua marca autoral nos projetos em que atua. O roteiro tem dois polos principais: trazer Super-Homem de volta e combater o Lobo da Estepe. De quebra, apresenta o background de The Flash e do Aquaman, dá um destaque merecido à Mulher Maravilha e um bom humor que faltava ao Batman.

Mas o leitor incauto poderá indagar: como assim, marca autoral em filme de super-herói? Pois é, a afirmação pode soar estranha, mas isso é possível. No caso da direção de cinema, não é necessário que o diretor seja também o roteirista e o autor da história para imprimir sua marca. Como você aborda o material é que define a autoria. O estilo é o homem, já disse Buffon, e o diretor de cinema que tem um estilo, ou uma marca registrada, imprime isso em todos os seus filmes.

E qual é a marca registrada de Zack Snyder? Não vou ser eu o primeiro a tentar elencar isso. Basta analisar o currículo do cidadão e procurar elementos que unem as obras.
Este artigo do site cinelinx cita nada menos que 5 marcas registradas do diretor: linha do tempo intensificada, zoom de ação, soco na cara em câmera lenta, partículas em movimento e colagem na introdução. São detalhes técnicos que permeiam seus filmes.


Até mesmo os patrulhadores de plantão, ou seja, os piores e mais radicais detratores de Snyder, que o acusam de ser "direitista, misógino, racista e homofóbico" reconhecem que ele é um auteur, "para o bem ou para o mal". 

Eu que ingenuamente não imagino me enquadrar nesses rótulos percebo outro elemento unificador: admiro cada um de seus filmes. Sou apenas um apaixonado por cinema, e, dos diretores das novas gerações, hoje em dia o cinema de Snyder se destaca, junto com o de Paul Thomas Anderson, Sofia Coppola, Tom Hooper, Darren Aronofsky, Wes Anderson e outros. É por esses nomes que eu discordo da sombria afirmação de Thomas Sotinel em seu perfil sobre Almodóvar, de que hoje não existiriam mais diretores auteurs.

O diretor, que se afastou da pós-produção de Liga da Justiça para se recuperar do suicídio da filha, recentemente realizou um curta-metragem de baixo orçamento, conforme informou em seu Twitter. A página também traz alguns compartilhamentos dos bastidores da filmagem de Liga da Justiça. Sem dúvida, ele é o diretor do filme, com todos os méritos.




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