segunda-feira, agosto 14, 2006

Me, You and Everyone We Know

É difícil ficar indiferente a filmes que têm como maiores trunfos a originalidade, a honestidade e a coragem do roteiro. Filmes que mostram o ser humano em todas suas idiossincrasias, dúvidas, incongruências; em todos seus fracassos, medos, anseios. Filmes que ousam, surpreendem, provocam. Filmes como "Eu, Você e Todos Nós". Algumas pessoas abandonaram a sessão. Revoltadas? Enojadas? Decepcionadas? Os que ficaram, porém, a cada cena, a cada diálogo, a cada fala inusitada das personagens, a cada revelação, a cada descoberta – riam e se emocionavam. Richard (John Hawkes) enfrenta uma separação. Obrigado a estabelecer um novo padrão de relacionamento com os filhos – Peter (Miles Thompson), 14, e Robby (Brandon Ratcliff, um dos destaques do elenco), 7 – e a buscar a readaptação, procura o re-equilíbrio no ambiente de trabalho. Pois se tem algo que Richard sabe fazer bem é vender sapatos. Christine (Miranda July) ganha a vida como taxista para a terceira idade. Nas horas vagas, desenvolve uma arte especial, multimídia, e sonha com o dia em que poderá expô-la. Os destinos de Richard e Christine começam a se entrelaçar quando ela leva um senhor de idade para comprar um par de tênis na loja onde ele trabalha. As personagens paralelas, que incluem uma menina que faz enxoval, uma dupla de amigas adolescentes e um admirador pervertido, a esquisita administradora do museu de arte moderna, contribuem para formar uma roda viva de interações. A produção Me, You and Everyone We Know, que marca o surgimento da cineasta e atriz californiana Miranda July, não tem nada de mais. É um filme de baixo orçamento e alta despretensão. No ano de seu lançamento (2005), ganhou o prêmio de Melhor Filme de Estreia, em Cannes, e o Prêmio Especial do Júri pela Originalidade da Visão, em Sundance; mas, a rigor, não inova em nada, não é feito para chocar, embora algumas cenas possam ser consideradas ofensivas ou sem propósito. E qual o propósito de um filme totalmente fora do mainstream, senão despertar reações opostas? Não me animaria a indicá-lo para ninguém – mas pagaria para ver de novo.


quarta-feira, agosto 02, 2006

Breve História da Inglaterra

Tess, de Roman Polanski, um
dos muitos filmes citados
no livro 
Breve História da InglaterraBreve História da Inglaterra (a.k.a. O Romance da Inglaterra)

No primeiro semestre de 2006, alunos de Letras da Unisinos tiveram oportunidade de ler uma obra ainda não publicada. O autor, o professor e tradutor Elvio Funck, disponibilizou aos alunos uma cópia do seu “O Romance de Inglaterra”. A obra está em fase de revisão (ver entrevista abaixo) e, a julgar pelo interesse que tem provocado no meio acadêmico, tem tudo para ser um sucesso quando sair em livro.
Projeto construído ao longo de duas décadas, apresenta, de modo conciso e dinâmico, os mais importantes episódios da História da Inglaterra. Conciso, pois em menos de 300 páginas dá um apanhado consistente da trajetória do povo inglês, desde a invasão romana em 55 a.C. até o vigente reinado de Elizabeth II. Dinâmico, pois enriquecido com notas em que o autor dialoga com o leitor, salientando curiosidades, dirimindo dúvidas, citando filmes e livros, tecendo uma rede intertextual entre a história e a literatura da Grã-Bretanha.
Estruturado com uma explanação preliminar sobre a Inglaterra antes de 1066, a obra concentra o foco na ‘caleidoscópica história daquele país insular’ a partir desse ano. Dedica um capítulo a cada um dos 40 soberanos ingleses desde Guilherme, o Conquistador, até a atual Elizabeth II. Os capítulos contêm vários subtópicos e reservam espaço para destacar as maiores contribuições intelectuais e literárias de cada período.
No final do livro, uma série de ‘bônus’: uma árvore genealógica da casa real inglesa, uma lista dos poetas laureados ingleses, sugestões bibliográficas e, last but not least, uma seção intitulada “Reis e Rainhas da Inglaterra e o Cinema”. Enfim, uma obra essencial não só para o estudante da língua inglesa, como para todo apaixonado por história, literatura e... cinema!

Entrevista com o autor de Breve História da Inglaterra, a.k.a. O Romance da Inglaterra (concedida por e-mail)

Olhar Cinéfilo: Quando surgiu a ideia de escrever a obra?
Elvio Funck: Da necessidade que eu via de que os alunos de Literatura Inglesa tivessem um background mínimo da História política, social e literária da Inglaterra. É um mínimo. A Bibliografia deve ajudar os mais curiosos.

O.C: Quanto tempo, entre pesquisa e redação, este projeto envolveu? Quantas foram as obras lidas/consultadas?
E.F: O projeto vem desde a metade da década de 80, quando eu lecionava HISTORICAL BACKGROUND OF ENGLISH LITERATURE no Pós-Graduação de Literatura Anglo-Americana, na UFRGS. As obras consultadas estão listadas no final, mas muita coisa foi ficando na cabeça com leituras que eu nem saberia localizar.

O.C: Como foi o processo de redação?
E.F: Foi evoluindo lentamente, a partir dos xérox que eu dava a cada semana no curso de Lit Ing aqui na UNI (eram dois semestres sólidos antes das reformas). Quando eu comecei a redigir a versão definitiva, há uns três anos, eu já tinha muitas notas.

O.C: Quais os critérios utilizados na escolha do material a ser incluído?
E.F: Entre as obras, as mais indicadas na cadeira de História da Inglaterra que fiz no Pós e nas cadeiras de Literatura Inglesa, que foram as que mais frequentei. Procurei também ater-me a aspectos mais interessantes e curiosos e não a grandes elucubrações filosóficas ou literárias. O livro é um “primer”= cartilha.

O.C: Por que a decisão de fazer um capítulo para cada um dos 40 monarcas ingleses?
E.F. Achei que seria um bom “trilho” a seguir, dada a cronologia bem definida e dada a intenção de dar destaque maior à história mais do que à literatura.

O.C. Nessa pré-publicação, a lista da literatura inglesa termina em 1992. Essa lista será atualizada na versão a ser publicada em livro? Pode adiantar alguns autores britânicos contemporâneos mais importantes?
E.F. Pinter, Murdoch (falecida em 1999), Le Carré, Greene (já falecido), Naipul, Theroux, Lodge, Drabble, Spark, Stoppard, Amis (pai e filho), Jean Plaidy (Victoria Holt) ainda são destaque e notícia literária. Estou um pouco desligado dos “moderníssimos”. É difícil dizer os que vencerão a barreira do tempo... Quando o ROMANCE for publicado em livro (talvez no ano que vem), vou tentar entrar em contato com professores de Lit. Inglesa que conheci e que ainda estão na ativa. De qualquer forma, quanto mais lemos os modernos, tanto mais gostamos dos autores dos séculos anteriores...

O.C. Está prevista para quando a publicação? Qual editora?
E.F. Quem está disposto a publicar é o Prof. Jorge Appel, da Editora Movimento. Como ele já está com minha tradução (interlinear) do MACBETH e do KING LEAR, o Romance vai ficando um pouco para trás, mas não muito. Já está aprovado para publicação, mas exige mais revisões.

O.C. Quais são seus três autores ingleses preferidos? Quais são suas três obras literárias inglesas preferidas?
E.F. Deixando fora Shakespeare, JANE EYRE, THE RAZOR´S EDGE e THE BELL, só para te satisfazer, porque esta é uma pergunta quase impossível de responder. Autores: (fora Shakespeare): Boswell, Paul Theroux (adoro travelogues), Iris Murdoch, Thomas Hardy, Jean Plaidy (a grande dama do romance histórico). Preferidos neste momento...

O.C. Quais são suas três personagens literárias inglesas preferidas?
E.F. O herói (anti-herói) de LUCKY JIM (Amis), a própria Jane Eyre, e Larry de THE RAZOR´S EDGE. São os que me vêm à cabeça agora. Gosto também da Tess, de Hardy.

O.C. Que livro(s) o senhor está lendo hoje? E quais os novos projetos?
E.F. Estou lendo agora HOW FAR CAN YOU GO? de David Lodge. Novos projetos: continuar a fazer tradução interlinear (os editores pediram) e talvez um pequeno dicionário de Verb Government... Quem sabe um romance epistolar. “Mais projetaria, se não fora para tantos projetos, tão pouca a vida”.