sábado, dezembro 18, 2010

Oceanos

O documentário Oceanos (2010), dos diretores Jacques Cluzaud e Jacques Perrin, tem três etapas bem distintas, mas durante todo o filme prevalece a decisão convicta de não carregar as imagens com informações detalhadas sobre as espécies mostradas ou sobre qualquer outra coisa. Essa decisão contribui para que o espectador preste atenção nas imagens, e as imagens falam por si só.


Na primeira parte do filme, a atenção é focalizada para a incrível e deslumbrante diversidade das espécies oceânicas. O espectador de todas as idades (até de três anos) fica boquiaberto com as imagens ao mesmo tempo singelas e surpreendentes. Peixes, répteis, aves, crustáceos, mamíferos, kelps (algas gigantes) e toda a sorte de organismos pelágicos são mostrados em cenas de fabulosa plasticidade de encher os olhos de encanto. Até mesmo nas cenas de predador/presa, o equilíbrio e as leis da natureza são inexoravelmente respeitadas.

Na segunda etapa da película, o maravilhoso se torna sombrio. Aparece a espécie mais evoluída do planeta Terra! E nunca um filme deixou um fato tão claro: a espécie de cérebro mais requintado, a espécie capaz de invenções inimagináveis, a espécie que está no topo da pirâmide é a que mais ameaça a intricada e delicada teia de interrelações biológicas neste pálido ponto azul. Talvez a vida, em tudo o que ela tem de uniformidade e de diversidade, não devesse ter evoluído até o ser humano. É, caro(a) leitor(a), esta parte do filme é deprimente e depressiva. Dá vergonha de ser gente. Ainda bem que meu filho já estava dormindo.

A terceira parte é um contraponto à segunda, e uma volta às imagens fantásticas da primeira parte, agora com ênfase na reprodução, na esperança de continuidade. Quando as luzes se acendem, porém, as imagens que não saem da retina são aquelas que mostram a ação do belo e inteligente ser humano.

sábado, dezembro 11, 2010

Amor por acaso (2010)

O ator brasileiro Márcio Garcia estreia na direção de um longa-metragem com rara felicidade, comercialmente falando. Não que o filme vá ser um sucesso de bilheteria, é muito cedo para afirmar isso. Refiro-me à ideia de fazer uma coprodução com os norte-americanos e, assim, abranger um público potencial maior. Astros como Dean Cain (que faz par romântico com Juliana Paes), John Savage e Eric Roberts participam da película, que tem como principal qualidade o fato de não se levar a sério.
A cena que antecede os créditos finais é uma demonstração cabal disso. Mas não vou contá-la para não estragar a surpresa. Só vou dizer que Márcio Garcia parafraseia Hitchcock em sua mania de aparecer nos filmes. Quanto à "trama", bem, digamos que não se distingue muito de outras comédias românticas com esse tipo de título. Por sinal, não é o primeiro Amor por acaso (aliás, já existem vários) que aparece nas telas nem será o último. Da mesma forma, o título ianque (Bed & Breakfast) também não é nada original (Roger Moore já protagonizou um filme homônimo em 1992). Como se vê, Márcio Garcia não está preocupado em fazer algo diferente ou com muita identidade própria. O que ele pareceu preocupado em fazer foi filmar rapidinho um roteiro bobinho com algumas personagens engraçadas e umas cenas razoavelmente divertidas. As boas participações de Eric Roberts, na pele de uma personagem surpresa, do ator que faz o advogado da personagem Ana (Juliana Paes) e, principalmente, do labrador Roman, que vive Kevin, o melhor amigo do pobre-menino-em-processo-de-separação Jake (Dean Cain).

Claro que o filme é um prato cheio para ser espinafrado pela crítica oficial e não oficial. Mas não estou aqui para isso. Meu olhar é (quase) sempre condescendente e benevolente. Por isso, procuro analisar o que o filme tem de positivo. A trilha sonora é legalzinha, o inglês da Juliana Paes não é dos piores e até rola uma certa "química" entre o par romântico. Mind you, Marcio Garcia tem futuro como diretor.

sábado, dezembro 04, 2010

A rede social


Antes de mais nada: parabéns a você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! No dia 6 de dezembro de 2005 foi publicado o primeiro post de meu blog no endereço blogspot. O post de hoje é comemorativo a essa significativa data. Na verdade o blog tem 7 anos e oito meses, se contarmos o período abril 2003 - dez 2005 (fase weblogger, infelizmente perdida no buraco negro dos blogs apagados sem aviso prévio ao owner).
Para comemorar o aniversário de um blog que cultua bons roteiros e cinema autoral, nada mais apropriado que falar de A rede social (2010), do diretor ianque David Fincher, cuja filmografia é: The Girl With the Dragon Tattoo (2011); The Social Network (2010); The Curious Case of Benjamin Button (2008); Zodiac (2007); Panic Room (2002); Fight Club (1999); The Game (1997); Seven (1995) e Alien 3 (1992).
O grande trunfo do filme é o roteiro de Aaron Sorkin e Ben Mezrich (autor do livro The Accidental Billionaires: The Founding of Facebook a Tale of Sex, Money, Genius, and Betrayal). É cada vez mais raro se assistir a um filme que se baseie apenas em diálogos. E A rede social baseia-se apenas nisso: conversas entre os variados personagens. Conversas puras e simples, sem espaço para pieguices nem emoções exacerbadas. O ator em ascensão Jesse Eisenberg (cuja maior realização até aqui havia sido Zumbilândia) interpreta o principal nome por trás da rede social Facebook: Mark Zuckerberg. Mark é retratado como um estudante de informática em Harvard com dificuldades de se integrar socialmente. Leva um fora da namorada Erica (Rooney Mara) e sobram-lhe pouquíssimos amigos. Entre eles, o melhor é Eduardo Saverin (Andrew Garfield), que acaba financiando o projeto de Mark (criar uma rede social na Internet). O capital inicial investido foi mil dólares. Com isso, Eduardo ficou com 30% da empresa recém-criada.
O problema é que semanas antes de o site entrar no ar, Mark havia sido procurado por três estudantes de Harvard e contratado para bolar uma espécie de rede social especial para os alunos da universidade. Quando descobrem que Mark havia colocado uma rede social no ar, os três se sentem usurpados da ideia. Dustin Moskovitz (Joseph Mazzello) e os gêmeos Winklevoss (ambos interpretados por Armie Hammer) não se conformam com o que eles consideram apropriação intelectual indébita. Paralelamente, a rede criada por Mark começa a atrair a atenção de muita gente, como o cara que criou o Napster e investidores de peso.
O filme aborda questões como honra, sobra de inteligência cerebral e falta de inteligência emocional, escolha errônea de amizades, sucesso subindo à cabeça, dificuldade de relacionamento, busca de ressarcimento nos tribunais, etc. A rede social é uma aula de como contar esse tipo de história: montagem dinâmica e direção discreta.