quinta-feira, dezembro 22, 2005

Os Produtores

A trajetória deste filme é curiosa: cinema - Broadway - cinema de novo. Tudo começou em 1968, quando Mel Brooks, que, de acordo com Jean Tulard, 'com Woody Allen, é o representante mais ilustre da escola cômica judaica de Nova Iorque', logo na estréia como cineasta, recebeu, por 'The Producers', o Oscar de Melhor Roteiro original. O filme teve Gene Wilder no papel de Leopold Bloom e no Brasil ganhou o título 'Primavera para Hitler'.
Concebido inicialmente como uma peça, era natural que a película merecesse uma montagem na Broadway, o que aconteceu no final dos anos 90. O sucesso na Broadway animou Brooks a readquirir os direitos do filme e produzir a nova versão fílmica, que estréia dia 23, sob a direção de Susan Stroman.

Leo Bloom (Matthew Broderick, em atuação hilária) é um contador atrapalhado que se associa a Max Bialystock (Nathan Lane, em atuação não menos hilária), um produtor gigolô de velhotas, com o intuito original de realizar o maior fracasso da história da Broadway. Três etapas precisam ser preenchidas: escolher o pior roteiro, contratar o pior diretor e descobrir o pior elenco. A dupla de picaretas, dentre as pilhas de roteiros disponíveis, escolhe o que parece ter o maior potencial de desastre. Trata-se do curioso “Uma primavera para Hitler”, de autoria de um criador de pombos-correio nazista. Para a direção, os ‘produtores’ assinam com um afetado diretor que tem no currículo bombas que não duram mais de uma semana depois da estréia. Por fim, como atriz principal, ‘selecionam’ Ulla (Uma Thurman), escultural secretária sueca sem experiência nenhuma de palco e que pouco fala inglês. O papel de Hitler acaba nas mãos do columbicultor fascista.
O filme da cineasta e coreógrafa Susan Stroman (You’ve got mail) revisita, de forma inteligente mas um tanto prolongada, o gênero comédia musical.

domingo, dezembro 18, 2005

King Kong


A carreira de Peter Jackson tem raízes na ficção e no horror. Vide Fome animal – um clássico escatológico. O cerne da ‘fase neozelandesa’ é o lisérgico Almas gêmeas (Heavenly Creatures) – que chamou a atenção pela delicadeza e coragem com que tratou o lesbianismo. A ‘fase americana’ começou com o suspense The Frighteners e culminou com a trilogia O Senhor dos Anéis, com Oscar de Melhor Diretor conquistado em 2004. King Kong é seu novo filme.
Conhecer a evolução da carreira do neozelandês Peter Jackson ajuda a entender as decisões por ele tomadas em King Kong. Seria talvez um clichê, mas de forma alguma uma inverdade, afirmar que ele tinha em mente, além de reverenciar e dar roupagem nova ao clássico da década de 30, refilmado na década de 70, revisitado em 2017, realizar a versão ‘definitiva’ da história. Para isso, contou-a com todos os detalhes imagináveis. O problema é que, para entrar nas minúcias, é preciso tempo e película. Felizmente, Peter Jackson tem cacife para evitar cortes e fazer o filme que quer, na metragem que escolher.
Um diretor visionário (Jack Black) alicia uma aspirante a atriz (Naomi Watts) e um autor de peças de teatro (Adrien Brody) a embarcarem num precário navio a fim de rodar um filme numa misteriosa ilha que não está no mapa. O que eles vão encontrar lá? Só posso dizer que Jackson ‘se puxou’ e, para dar verossimilhança interna a esta versão da ‘bela e a fera’, não poupou situações das mais variadas, entre o inacreditável-risível – a corrida de brontossauros no desfiladeiro – ao grotesco-asqueroso – a carnificina perpetrada por sanguessugas, lacraias e gafanhotos gigantes na tripulação do barco Venture.
O nome do navio que leva a troupe à ilha, por sinal, resume o que é King Kong para Peter Jackson: um grande risco. Ao se aventurar numa refilmagem, corre o risco de perder público, pois muitas pessoas não se animam a ir ao cinema para ver uma sessão da tarde de roupagem nova. Ao empreender um filme de três horas de duração, arrisca-se a ser acusado de prolixo e ‘overlong’. Ao não cortar o filme no estúdio, arrisca-se a alguém inventar um intervalo e recomeçar a projeção cortando uma seqüência. Ao escalar atores como Jack Black e Adrien Brody e Naomi Watts, nenhum de ‘grande apelo de bilheteria’, aposta as fichas de seu empreendimento nele, o principal astro – King Kong.
E cá pra nós, Kong é o tipo do herói com carisma suficiente para ‘roubar’ todas cenas em que aparece. O modo com que King Kong se comunica com o objeto de sua paixão é expressivo. O relacionamento entre Kong e atriz passa por todas fases – da predatória à admirativa, do receio à confiança, da dúvida à certeza, do desentendimento à compreensão. Mas – como todo relacionamento em que uma parte ama e a outra sente apenas amizade – uma das partes sairá mais ferida que a outra.
Falando em compreensão e ferimentos, teria muito mais a dizer sobre King Kong, porém, o leitor há de compreender, a última coisa que quero ser acusado é de ferir suscetibilidades e cometer ‘spoiler’. Então só digo mais isso: é crime cortar um minuto sequer de King Kong – não é, seu responsável pela projeção do Cine Bella Citá de Passo Fundo?

terça-feira, dezembro 13, 2005

De tanto bater, meu coração parou




De Battre Mon Coeur S'Est Arrêté.

Tom (Romain Duris, de Arsène Lupin) não tem escrúpulos, nem exercendo de forma ilícita sua atividade profissional, que envolve ‘administração’ de imóveis, nem servindo de álibi para as traições conjugais do amigo. Está sempre com cara de poucos amigos, aliás: tem poucos amigos. Seus dois colegas de rolos imobiliários, seu pai que está de namoradinha nova, e seus fones de ouvido, por onde sai sempre música eletrônica.

Quem olha de fora e vê Tom, vê apenas isso: um cara frio e calculista, uma pessoa bruta, violenta até, um franco atirador, um solteiro convicto de 28 anos, um young urban professional (yuppie) versão French underground, um cara que não gosta de ninguém além de si mesmo. Mas para compreender Tom, é preciso ver além das aparências.

Um convite para fazer um teste é a oportunidade inesperada de seguir a profissão da falecida mãe – pianista. Empolgado com a esperança de resgatar o talento inato, porém não cultivado, passa a ter aulas particulares com uma pianista chinesa. O diretor-roteirista é Jacques Audiard, do elogiado “Read my Lips” (2002).

As Crônicas de Nárnia - O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa


Quatro irmãos londrinos cujo pai está na guerra são enviados pela mãe para longe dos bombardeios. De um dia para o outro, Pedro, o primogênito, Suzana, Edmundo e Lúcia, a caçula, se vêem morando na enorme casa de um professor. Eles recebem ordem expressa da governanta de não importunarem o dono da casa. Os quatro tentam se adaptar à situação porque sabem que é a melhor alternativa. Lúcia, porém, reclama dos lençóis, que não são tão macios como os de casa.
Um dia, entediados com Suzana, que fica lendo uma enciclopédia e fazendo perguntas para testar o conhecimento dos irmãos, os quatro resolvem brincar de hide & seek. A brincadeira de esconde-esconde é o fato desencadeador: Lúcia se esconde dentro do único móvel de um dos quartos do segundo andar - um imponente guarda-roupa que estava coberto por um lençol. Dentro do guarda-roupa, Lúcia roça em muitos cabides com casacos de pele, tentando chegar ao fundo, mas ele não chega. Em vez disso, começa a sentir as folhas de uma árvore no rosto e quando se dá conta, está com os pés sobre a neve. Entre um misto de frio, deslumbramento e espanto, em vez de voltar ao portal que lhe dera acesso a este mundo desconhecido, prossegue seus passos na neve, espicaçada pela curiosidade. Pouco à frente, encontra um poste de luz – que será um ponto de referência ao longo do filme.
Lúcia não demora encontra um habitante desta outra dimensão; homem da cintura para cima, bode da cintura para baixo: um fauno, como ele se denomina. A pequenina humana e o fauno fazem amizade instantânea e ele a convida para um chá. Hesitante, a menina concorda e passa umas horas aprazíveis na casa do novo amigo. Então ela volta e conta para os irmãos, que não acreditam em uma palavra do que ela diz.
É evidente que não vou continuar a contar tudo com tanto detalhe. Na verdade, não vou contar mais nada. Apenas que a história envolve uma profecia; uma rainha malvada; luta pela liberdade de Nárnia; leão, castores, cavalos, lobos e raposas falantes (o leão, por sinal, com a fala inconfundível de Liam Neeson); faunos, minotauros, centauros, outros seres mitológicos e, é claro, uma batalha.
Marketing exagerado e furos no roteiro à parte, As Crônicas de Nárnia tem coisas boas, principalmente quando se concentra na construção e inter-relacionamento dos personagens.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Madredeus - Teatro do Sesi - 06/12/05



Um Amor Infinito – este é o título do novo trabalho do Madredeus e, também, do espetáculo apresentado em Porto Alegre, por iniciativa do grupo SONAE e Supermercado Nacional, com produção do Opinião.
Com dois violões, baixo acústico, sintetizadores e voz, Madredeus iniciou o show às 21 h 15. Teresa Salgueiro, a vocalista, avisou que o show seria em duas partes, com intervalo de quinze minutos. No palco minimalista, a banda apresentou as novas músicas. Ao término de cada uma delas, os fãs suspiravam, murmuravam consigo ‘que belo!’, gritavam ‘bravo!’, assobiavam, chamavam Teresa de ‘linda!’, pediam ‘Haja o que houver’ e aplaudiam. Muito.
Madredeus não veio a Porto Alegre para fazer o repertório do clássico Antologia. Só tocaram duas de seu mais vendido cd no Brasil, e só no bis. No mais, foi uma demonstração da qualidade da banda, que deixou claro que não precisa, para fazer um show primoroso, carregado de constante emoção, ficar revisitando toda hora músicas queridas do público. Aplausos intensos forçaram a banda a retornar duas vezes ao palco.
Foi no primeiro bis, com o público entoando primeiro baixinho, depois mais alto, a pedido de Teresa, e ela pode mandar que a gente obedece, ‘Haja o que houver’, que a sintonia entre público e banda durante todo o show chegou ao auge, que público e banda escancararam a reciprocidade do que sentem um pelo outro: um amor infinito.