terça-feira, dezembro 27, 2016

Invasão zumbi

Os tempos de George Romero se foram. Agora o delay entre a mordida e a infecção, entre a morte e o "retorno à vida", é quase instantâneo. Nada de mortos-vivos perambulando lentamente na noite em preto e branco. Nada de retornados vagando morosamente ao luar. Em cores vívidas, eles estão cada vez mais rápidos. Num piscar de olhos, uma pessoa saudável é atacada e transformada.

O zumbi globalizado é também multimídia, vem numa onda irresistível criada no país oriental símbolo do capitalismo, da tecnologia digital e das modernas malhas ferroviárias: a Coreia do Sul. O diretor coreano Yeon Sang-ho, formado em Pintura Ocidental, capricha no gore e compõe um quadro assustador, desenvolvendo personagens marcados pelo individualismo e a incompreensão. A ação acompanha o insensível gerente de um fundo de ações, que promete levar a filha a Busan, onde mora a mãe dela, de quem está separado. Mas o dia escolhido para a jornada de trem é justamente o dia em que uma inexplicável convulsão está tomando conta da cidade.
Uma estranha e violenta onda começa a se espalhar rapidamente por toda a região. E a julgar por sua incontrolável avidez, tudo indica que, em breve, vai se espalhar por todo o país.



Com pinceladas expressionistas, o diretor vai apresentando outros personagens desta saga. O marido e a esposa grávida. As irmãs de meia-idade. Um clandestino. Um grupo de adolescentes de um time de beisebol (e os tacos vão ser itens importantes na luta pela sobrevivência desse pessoal). Tacos, terror e tensão trepidam nesse trem tantalizante. O ser humano como ele é: o instinto de sobrevivência fala mais alto que a solidariedade? O egoísmo supera a vontade de ajudar?


Filme pipoca para ser curtido em pré-estreia com sala semilotada (e emudecida de pavor) às 22h10 ou análise sobre o inescapável medo da morte? Bizarro acréscimo à mitologia dos desmortos ou lufada de ar fresco em clássicos sobre rodas de ferro, da estirpe de A dama oculta (Alfred Hitchcock, 1938), Assassinato no Expresso Oriente (Sidney Lumet, 1974), Expresso para o inferno (Andrei Konchalovski, 1985) e Trem da vida (Radu Mihaileanu, 1999), entre outros? Mera curiosidade de um subgênero de um subgênero, ou o filme imperdível da virada de um ano tumultuado? Talvez mais intencionalmente que pareça, Invasão zumbi (Train to Busan) serve de metáfora perfeita para um mundo em desarmonia.

segunda-feira, novembro 21, 2016

Perfume de mulher: a arte de fazer do limão uma limonada


Coloquei no prato do blu-ray player o picture disc de Lenda dos guardiões, de Zack Snyder.

Meu filho de 9 anos e eu esperamos ansiosos carregar o conteúdo, mas, surpresa! Em vez da animação produzida em 2010 com base na série de livros de Kathryn Lasky, o que apareceu na tela foi algo surpreendente: o menu de um inesquecível filme de 1992, que deu a Al Pacino o Oscar de Melhor Ator. A bizarrice me deixou perplexo, mas a vida sempre me ensinou a fazer do limão, uma limonada.

Perfume de Mulher, de Martin Brest, foi minha limonada dominical, uma refrescante limonada suíça, com as doses certas de doçura e acidez.

O roteiro, adaptado de um filme italiano de 1974, é o material com que todo grande ator sonha, e Al Pacino encarnou o papel do acridoce tenente-coronel Frank Slade de um modo tocante e enternecedor.

O elenco tem dois atores coadjuvantes: Chris O’Donnell, que realizou com Charlie Simms talvez seu mais importante e exigente papel no cinema, e Phillip Seymour Hoffman, interpretando George Willis Jr., num dos primeiros passos da carreira que ainda progrediria até o ápice do Oscar de Melhor Ator, em Capote (2005). Hoffman faleceu em 2014.

Todo grande filme é feito de grandes cenas, e vou destacar adiante as cinco cenas/sequências mais memoráveis de Perfume de mulher. Antes, um pouco de contextualização sobre o enredo.

Nas cenas iniciais, o ambiente do filme lembra um pouco outro clássico do último quartil do século XX, Sociedade dos poetas mortos, do australiano Peter Weir, ao enfocar o ambiente de uma tradicional escola de ensino médio (High School), com os alunos todos uniformizados. Charlie Simms (O’Donnell) é um aluno que ganhou uma bolsa de estudos. Ele trabalha na biblioteca e precisa fazer bicos aos fins de semana para se sustentar, diferentemente de outros rapazes, como George Willis e seus amigos.

Um incidente acontece envolvendo o diretor, Sr. Trask (James Rebhorn), e uma sindicância é aberta na escola para apurar os responsáveis. Charlie se vê num dilema: dedura os amigos ou corre o risco de ser expulso da escola.

Nesse meio-tempo, o jovem Charlie se oferece para um trabalho no feriado prolongado de Ação de Graças. Cuidar de um deficiente visual com um gênio bastante difícil. Entra em cena Al Pacino na pele e nas narinas do aparentemente amargurado tenente-coronel Frank Slade.


*ALERTA DE SPOILER *

*SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU A ESTE FILME, TALVEZ PREFIRA PARAR DE LER O TEXTO NESTE PONTO*


*AS CINCO SEQUÊNCIAS INESQUECÍVEIS DE PERFUME DE MULHER*


Logo que os familiares de Slade partem em sua viagem, deixando o preocupado Charlie sozinho com Frank, Perfume de mulher se transforma numa espécie de ‘road-movie’, com direito a táxi e voo na primeira classe para um destino inesperado: Nova York!

O abismado Charlie deixa-se enlear na teia preparada pelo veterano Frank, e não vê outra saída senão acompanhá-lo na aparentemente tresloucada aventura.

Uma após a outra as cenas/sequências clássicas se sucedem.

 CENA 1 – Último tango em Nova York


A cena em que Frank Slade dança tango com a bela e desconhecida Donna (Gabrielle Anwar) é, disparadamente, a mais clássica do filme, uma cena que sintetiza o melhor que o cinema é capaz de fazer. Tudo nessa sequência funciona às mil maravilhas: as palavras escolhidas a dedo pelo tenente-coronel para convencer a moça, a música, o ambiente, o olhar estupefato de Charlie: tudo contribui para o sentimento de emoção à flor da pele – e do olfato.

CENA 2 – Lavagem de roupa suja na ceia de Ação de Graças




O clima pesa quando Frank, acompanhado do sempre perplexo Charlie, aparece de surpresa na casa do irmão mais velho para a ceia.

Os familiares não escondem o constrangimento, mas conseguem contornar a situação, até o ponto em que a ceia termina, e Frank começa a alfinetar o sobrinho Randy (Bradley Whitford). Revelações sobre o background do tenente-coronel e a causa de sua cegueira elevam a tensão a um ponto quase insuportável.

CENA 3 – Dirigindo cegamente uma Ferrari



Por mais absurda e inverossímil que ela seja, esta sequência é outro ponto alto do filme, desde a proverbial conversa com o funcionário da concessionária para convencê-lo a liberar a Ferrari para o test-drive até o momento em que o policial manda pará-los nas ruas desertas do cais. Primeiro, Charlie, que tem habilitação, pilota a máquina potente. Depois, num bairro deserto, entrega o volante para Frank, que gosta da brincadeira e começa a acelerar além dos limites do razoável para quem não enxerga nada. Trepidante? Palpitante? Aterrorizante? Alguém aí já foi passageiro num veículo pilotado perigosamente por alguém? Charlie fica com o coração na mão, mas o pior ainda está por vir: além de acelerar, Frank avisa que vai fazer uma curva em alta velocidade.

CENA 4 – Impulso suicida



De volta ao Astoria, Frank manda Charlie comprar charutos. Antes de sair do hotel, porém, Charlie desconfia de algo errado e volta. Encontra Frank em traje de gala militar, de pistola em punho. A sequência é chave no filme, pois Charlie arrisca tudo para convencer Frank a não cometer suicídio. Com alta carga emocional, a cena tenta mostrar que nada está perdido, sempre existe uma chance.  

CENA 5 – Discurso de Frank na escola


Durante o filme inteiro, Charlie passa fazendo ligações para George, a fim de combinar o depoimento na escola. Frank acompanha tudo e dá alguns conselhos a Charlie. No derradeiro momento do filme, ele aparece de surpresa, escoltado pelo motorista da limusine, Manolo, para ficar ao lado de Charlie durante a sindicância, em pleno auditório lotado da escola. O sr. Trask interroga primeiro George, que, depois de muito ser pressionado, dá com a língua nos dentes e cita os nomes dos autores da “traquinagem”. Charlie reluta a confirmar, mas tudo indica que não vai aguentar a pressão e também vai “dar nome aos bois”.

Não vou contar mais nada, mesmo com o aviso de spoiler. Apenas dizer que no final Frank toma a palavra para defender Charlie, num discurso (que hoje parece bastante apropriado) sobre o tipo de líder que os Estados Unidos gostariam de ter no futuro.

No frigir dos ovos, apesar da extensa metragem (duas horas e meia), Perfume de mulher valeu a revisita, mesmo sendo uma revisita não planejada, fruto de uma falha industrial.
É a delicada história de uma improvável amizade, mas também o pungente retrato de uma alma conturbada, prestes a desistir de tudo, que, ironicamente, enxerga a luz no fim do túnel.
Isso só reforça a “mensagem” do filme: nem tudo está perdido, e a vida é arte de fazer do limão, uma limonada!

segunda-feira, novembro 14, 2016

"A segunda mãe" + "Não me chame de filho" = o reconhecimento de Anna Muylaert no circuito internacional

A carreira internacional da diretora e roteirista brasileira Anna Muylaert (que venceu em 2002 o Festival de Cinema de Gramado com o filme Durval Discos) está em plena fase de consolidação.

Seus dois filmes mais recentes obtiveram boa distribuição mundial, prêmios em festivais e excelentes resenhas em sites conceituados.

Por exemplo, no RogerEbert.com,


Que horas ela volta? (2015), com Regina Casé, obteve 3 estrelas de 4 possíveis.

Mãe só há uma (2016), com Naomi Nero e Mateus Nachtergaele, obteve 3,5 estrelas de 4 possíveis.

Os dois filmes abordam temáticas diferentes, mas enfatizam a importância das mães.

Esta ênfase pode ser confirmada nos títulos escolhidos para a distribuição internacional:

Que horas ela volta? virou The Second Mother:

http://www.rogerebert.com/reviews/the-second-mother-2015




E Mãe só há uma virou Don't Call me Son:
http://www.rogerebert.com/reviews/dont-call-me-son-2016





quarta-feira, outubro 19, 2016

Kóblic


argentino Sebastián Borensztein (Um conto chinês) realiza um filme com ingredientes que lembram faroestes clássicos da estirpe de Matar ou morrer (High Noon) e Sem lei e sem alma (Gunfight at the O.K. Corral). O paralelo com os western da década de 1950 se justifica, não apenas porque Ricardo Darín é um ator à altura de Gary Cooper e Burt Lancaster (embora, no entanto, Borensztein ainda precise fazer muitos filmes para ter uma filmografia tão ampla quanto Fred Zinnemann e John Sturges, mas ele ainda é novo), mas também por outras similaridades entre os roteiros.

Em Matar ou morrer, a câmera filma incessantemente a via férrea, por onde o xerife, interpretado por Gary Cooper, sabe que um vilão e seu bando estão prestes a chegar. Em Kóblic, o espectador passa o tempo inteiro com uma sensação pesada, de que algo está para se revelar, de que alguém ou algo está no encalço do protagonista. 

Tomas Kóblic é um piloto que vai morar na remota Colônia Elena, uma cidadezinha como outra qualquer, onde mora um amigo, dono de uma empresa de "agroaplicaciones", ou seja, pulverizações agrícolas. O espectador não sabe exatamente o motivo dessa mudança, e isso faz parte da estratégia do roteiro, para criar uma aura de mistério em relação ao personagem, constantemente atormentado por lembranças entrecortadas de um voo em que acontecem fatos atrozes.

Kóblic tenta se adaptar à rotina, pulverizando as lavouras, ao melhor estilo de um Dusty Crophopper.

As cenas desta parte do filme são plasticamente calculadas, com a paisagem dos pampas se sobressaindo, entre lavouras de canola florescida e pastagens nativas.

Uma cena chave do filme é a pane do avião. Não vou entrar em detalhes, para não gerar um spoiler desnecessário. Mas o fato é que o avião estraga e fica estragado, sem que ninguém busque peças ou tente consertar a aeronave a tempo de continuar as aplicações. 

Isso vem a calhar, pois Kóblic tem mais tempo para dedicar à misteriosa Nancy (Inma Cuesta), que cuida do posto de combustíveis. Só que a bela balzaquiana é comprometida.

Devagarinho, paulatinamente, o suspense e a tensão do filme são construídos, com as personagens sendo apresentadas de modo quase didático. O delegado Velarde (o impressionante Oscar Martínez), chefe do Destacamento Policial, é uma figura temida no vilarejo. Ele procura mostrar sua autoridade e não gosta de forasteiros. 

O antagonismo entre Kóblic e Velarde é um dos leit-motifs do filme, assim como o esperado duelo entre Wyatt Earp e os irmãos Clanton é a razão de ser de Sem lei e sem alma

Velarde usa de seu poder para tentar descobrir a identidade verdadeira do novo piloto, e seu amigo, o dono do posto, lhe confessa: está desconfiado sobre a fidelidade da esposa.

O cenário está pronto para a escalada da violência, em meio a intrigas, torturas, voos da morte, surpresas, reviravoltas.

O cineasta Borensztein, que também coassina o roteiro, usa o estofo histórico para criar um personagem forte, ao mesmo tempo, herói e anti-herói, com um passado que lhe assombra - e um presente sem lei e sem alma, onde o que vale é matar ou morrer. 


terça-feira, outubro 18, 2016

OSINCA no Salão de Atos da UFRGS - Onde o erudito encontra o contemporâneo

Em evento beneficente para a construção da Casa de Apoio do HCPA, com apoio da Fundação Médica do RGS e da Fuccar de Carazinho, a OSINCA fez um show com a participação de convidados especiais.

Resultado: a plateia presente ao Salão de Atos assistiu a uma grande apresentação da OSINCA, que foi aplaudida de pé.

O repertório, como prometido, mesclou música barroca, árias, trilhas de filme e canções pop, exatamente como faz o primeiro CD da OSINCA.


A Orquestra Sinfônica de Carazinho teve a ilustre companhia do Coral da UFRGS, dos solistas Cintia de los Santos (soprano) e Luiz Wiedthauper (tenor), e dos músicos Duca Leindecker e Pezão. Ninguém cobrou cachê.

A fase inicial do show foi dedicada ao barroco, com um bloco só de Händel, começando com Hallelujah! do oratório "Messias" (a faixa 10 do CD) e, se não estou enganado, Lascia ch'io pianga e Ombra mai fu (das óperas "Rinaldo" e "Xerxes", respectivamente) (as faixas 2 e 7 do CD).


No entremeio das músicas, o maestro Fernando Turconi Cordella contou que Johann Sebastian Bach, nos dicionários de música da época, era considerado apenas um professor de música e afinador de instrumentos, em comparação com Händel, já consagrado.

Eu já comentei sobre isso, mas não custa frisar de novo: esse tipo de informação histórica enriquece a experiência do espectador e cria uma empatia com o público.

Essa foi a deixa para a orquestra tocar Eine Kleine Nachtmusik, a propósito, a faixa que abre o CD.

A apresentação seguiu com a homenagem ao cinema, com trechos das trilhas dos filmes Lista de Schindler e A missão, a primeira assinada por John Williams e a segunda, por Ennio Morricone (faixas 6 e 5 do CD).

Também entrou na seleção da noite Con te Partiró, uma iniciação às óperas, nas palavras do maestro. Segundo ele, é preciso muita energia para admirar 4 horas de ópera. Talvez o brasileiro prefira isso mesmo: pequenos drops para sentir o gostinho.

Posso estar enganado de novo, mas acho que duas faixas do CD não foram tocadas: a 3 e a 9, Chamamé e um allegretto de Beethoven, da Sinfonia n.7.

Outro dia vou fazer um post sobre o CD. Não posso escutar agora no volume que eu gostaria.

Forever Young, do Alphaville, a faixa 8, seria tocada no bis, após Let it Be (que não entrou no CD).




Mas, antes disso, um Steinway & Sons foi introduzido sobre rodinhas no palco. Num dos momentos mais emotivos da noite, o maestro interpretou o Prelúdio da Gota d'Água de Chopin, e dedicou a peça à professora de piano e a avó, que estavam na plateia.

É a primeira vez, após 10 anos, que Fernando Cordella faz um solo de piano num concerto. A julgar pela amostragem, talvez ele pudesse reavaliar sua estratégia e não demorar uma década para repetir a dose.

O show entrava na parte final, em que coestrelaram, ao violão e voz, Duca Leindecker (Cidadão Quem) e, na bateria, Pezão (Papas da Língua).

Tocaram uma canção de cada uma das bandas gaúchas e também colaboraram com Let it Be, dos Beatles, com Duca Leindecker cantando os primeiros versos imortalizados na voz de Paul McCartney e depois passando a bola para a soprano e o tenor.

Let it Be teria fechado a apresentação, não fosse a plateia exigir o BIS.

A bateria de Pezão acrescentou uma densidade extra ao intricado arranjo pop-erudito de Forever Young.





domingo, outubro 16, 2016

III ENCONTRO REGIONAL SUL DOS FÃS-CLUBES TEX E ZAGOR DO BRASIL - 15 e 16 de outubro de 2016

Novamente Carazinho sedia um evento de importância nacional, desta vez envolvendo os aficionados das histórias em quadrinhos da "Família Bonelli", com os célebres personagens Tex, Zagor e Ken Parker.








Fã de Ken Parker, levei minha coleção de álbuns e séries editadas no Brasil. Outros expositores levaram álbuns raros, oriundos da Itália, do multifacetado personagem criado por Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo.



Em um ambiente de camaradagem, os fãs negociam, compram, vendem, trocam. A troca não se limita a objetos de interesse e de culto. O intercâmbio mais relevante é o de experiências e contatos, amizades que iniciam em torno de um interesse comum.


Seguem algumas fotos do evento, que contou com os cosplayers de Tex, Kit Carson e Zagor, e uma visita inusitada.














segunda-feira, outubro 10, 2016

The Beetles em Carazinho




No dia 7 de outubro, pontualmente às 20 h, no Teatro do Sesc, na Capital da Hospitalidade (ou, de acordo com a nova nomenclatura, a Capital do Galeto com Massa, como queiram), aconteceu o evento do ano para os beatlemaníacos de plantão: o show dos Beetles.

Os Fab Four portenhos realizaram uma apresentação consistente. 
Alguém que não gosta de adjetivos um tanto vagos poder-se-ia perguntar 
“Mas, o que, afinal de contas, seria 'uma apresentação consistente'?"
Se a intenção é elogiar, por que não definir a apresentação como belíssima, magnífica, encantadora, mágica?

Aí que está: “consistente” é o elogio mais, digamos, consistente para uma banda de rock cover.


“Consistente” significa, em primeiro lugar, que a banda agradou ao público que lotou os mais de 300 lugares do Teatro. Ao mesmo tempo, que essa satisfação da audiência não teve a ver apenas com o ato de celebrar a música dos Beatles, mas também com a precisão e a qualidade das performances individuais e da banda. Em outras palavras, os quatro músicos dominam com perícia seus respectivos instrumentos e, quando começam a tocar juntos, demonstram entrosamento e afinação. Por último, mas não menos importante, a consistência envolve a escolha do repertório.

Sim, este foi o maior trunfo dos The Beetles no show: souberam dosar as mais populares com surpresas escolhidas a dedo, verdadeiras raridades, que os fãs puderam degustar enquanto enriqueciam seus conhecimentos liverpoolianos.


Antes de analisarmos o setlist, porém, vale mencionar o aspecto da “imitação”. Na verdade, eu tive a a impressão de que cada um dos membros da banda estudou tanto os trejeitos e a postura de seus alter-egos que isso “incorporou” neles, que se tornou algo orgânico, quase natural. Assim, por exemplo, Marcos Gonzatto dedilha suavemente sua plangente guitarra com uma das pernas dobradas, como fazia George Harrison;


Jack Bendik balança a cabeça, faz o backing vocals (e o leading vocals também, por supuesto) e se ergue ao fim das canções, como fazia Ringo Starr;



Francisco Desalvo empina o nariz e mostra a personalidade forte e discreta de John Lennon;




e Nino Zalazar é o showman que Paul McCartney sempre foi e continua sendo, o mais comunicativo, capaz de sustentar o show sozinho em duas vezes para os outros trocarem de figurino. No quesito “semelhança”, só falta uma coisa para Nino: precisa aprender a tocar com a canhota!




Posto isso, vamos ao que interessa, comentar algumas das 33 canções entoadas pelos simpáticos hermanos, que iam trocando de figurino conforme a “fase” dos Beatles que exploravam.
O primeiro figurino abordou a fase mais “madura” dos Beatles, com algumas canções do White Album. Logo de cara, o público percebeu que, se aquilo fosse uma aula, seria uma aula em nível “avançado”.
Senão, vejamos: após um início com as densas Come together, Don't let me down e Get back (as duas últimas, tocadas no famoso concerto no terraço, de 30 de janeiro de 1969), vem a primeira surpresinha da noite.
A banda avisa que vai tocar uma do George Harrison. Fico esperando a clássica, mas um tanto óbvia, Here comes the sun. E a banda dispara nada menos que a lendária While my guitar gently weeps.
Em seguida, outra canção não tão conhecida: Go to get you into my life, do álbum Revolver (ver setlist abaixo).

Os quatro moços de Buenos Aires continuaram a mostrar seu virtuosismo e seu domínio do repertório dos Beatles com a pouco conhecida e tocada Yer blues, do Álbum Branco.
O experimental Álbum Branco continua dando a tônica com Back in the USSR e Revolution. Fecham a primeira parte do show Hey Jude e uma da carreira solo do Lennon, Imagine, para, segundo a banda, sacramentar a união entre os povos brasileiro e argentino.




Ah, cabe aqui um comentário sobre a estratégia da banda para “trocar de figurino”. Durante Imagine, Nino sai de cena, deixando os outros três tocando.

Pouco depois ele volta com novo ‘outfit’ para tocar duas acústicas (Blackbird e And I love her), enquanto os demais se retiram.

Assim, a música nunca parava, e tudo acontecia de maneira harmônica.
(Falando em harmônica: uma das coisas que senti falta foi a utilização de uma harmônica, ou gaita de boca, tocada com suporte, como em I should have know better. Fica a sugestão para uma próxima!)





A segunda parte do show, com um traje escuro de golas verdes, como o usado pelos Beatles no Japão em 1966, enfocou as canções dos anos 64/65.
A que eu mais curti nessa parte foi, é claro, Ticket to ride, uma de minhas preferidas.


 Nova troca de roupa para a reta final, com as dançantes canções da primeira fase.
Foi uma tática interessante inverter a cronologia, começando com as mais maduras e culminando com as rápidas e leves músicas dos primeiros discos.


A descontração toma conta e a plateia se levanta.
E ainda tempo para um bis, em um show memorável.


Setlist (atenciosamente enviado por e-mail por Francisco/Lennon) 
           (a pesquisa dos álbuns das músicas é de minha autoria, assumo os eventuais lapsos)


Come together – Abbey Road (1969)
Don't let me down – Single Get back/Don’t let me down (1969)
Get back – Let it be (1970)
While my guitar gently weeps – The Beatles (Álbum Branco, 1968)
Got to get you into my life – Revolver (1966)
Let it be – Let it be (1970)
Yer blues – The Beatles (Álbum Branco, 1968)
Back in the USSR – The Beatles (Álbum Branco, 1968)
Revolution – The Beatles (Álbum Branco, 1968)
Hey Jude – Single Hey Jude/Revolution (1968)
Imagine – Imagine, segundo álbum solo de Lennon (1971)
-------- acústico-------
Blackbird – The Beatles (Álbum Branco, 1968)
And I love her – A hard day’s night (1964)
------------------------------
Day tripper – Single Day Tripper/ We can work it out (1965)
Baby's in black – Beatles for sale (1964)
Eight day's a week – Beatles for sale (1964)
I feel fine – The Beatles (Beatles 65, 1965)
Everybody's trying to be my baby – Beatles for sale (1964)
Ticket to ride – Help! (1965)
Help! – Help! (1965)
------acustico 2--------
Piada Armandinho
Norwegian wood – Rubber Soul (1965)
Yesterday – Help! (1965)
------------------------------
A hard day's night – A hard day’s night (Os reis do iê-iê-iê, 1964)
Can't buy me love – A hard day’s night (Os reis do iê-iê-iê, 1964)
From me to you – Twist and shout (1964)
All my loving – With the Beatles (1963)
I wanna be your man – With the Beatles (1964)
Piada whisky a go go
Rock & roll music – Beatles for sale (1964)
I saw her standing there – Please please me (1963)
Roll over Beethoven – With the Beatles (1963)
I want to hold your hand – Single (1963) / Meet the Beatles (1964)
------bis------
She loves you – Twist and shout (1964)
Twist & shout – Please please me (1963) / Twist and shout (1964)

Site oficial da banda:


quarta-feira, julho 13, 2016

Festival Arena Pop Rock - CACHORRO GRANDE

O vocalista da Cachorro Grande volta à terra natal. O show teve direito a um bis no mínimo inusitado: Helter Skelter, do álbum branco dos Beatles, música já tocada por outras bandas como U2, Aerosmith, Siouxsie & the Banshees.



A banda composta por Beto Bruno (vocal), Marcelo Gross (guitarra), Rodolfo Krieger (baixo), Pedro Pelotas (teclado) e Gabriel Azambuja (bateria) tocou músicas de várias épocas e algumas versões estendidas.

Festival Arena Pop Rock - REAÇÃO EM CADEIA

A banda gaúcha de grunge/rock alternativo que já abriu show do Linkin Park fez em terras passo-fundenses um show competente e completo.
No repertório da banda o ponto culminante foi a canção mais pop: "Me odeie". Destaque também para os contagiantes riffs de Daniel Jeffman.


A formação conta com Jonathan Corrêa (voz e violão), Daniel Jeffman (guitarra).
Marcio Abreu (baixo) e Nico Ventre (bateria)