sexta-feira, setembro 01, 2023

Peckinpah em dose dupla

 O magnífico acervo de uma das poucas locadoras que ainda persiste em atividade estimula os cinéfilos a se transformarem em garimpeiros.

De uns tempos para cá, encontrei um veio ainda inexplorado por mim nessa verdadeira mina que é a Zílvia Locadora de Passo Fundo, cidade encravada no coração do Planalto Médio Gaúcho.

Estou falando da rica filmografia do lendário e genial diretor Sam Peckinpah.

Já resenhei o cult Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia.

Este post aborda dois outros filmes fundamentais na trajetória de Peckinpah:

Sob o domínio do medo

e

Pat Garrett & Billy The Kid.


1. SOB O DOMÍNIO DO MEDO (1971)


O jovem casal Amy e Charlie Sumner vai passar uma temporada no interior da Inglaterra, onde a moça nasceu e tem suas raízes. O americano com quem ela casou (interpretado por Dustin Hoffman, cuja carreira decolou após o estrondoso sucesso de A primeira noite de um homem) é um acadêmico e pesquisador que passa os dias enchendo um quadro negro com cálculos e mais cálculos. Cheia de vida e sensualidade, Amy (Susan George) se sente alijada e desprezada pelo impassível marido.


Um grupo de trabalhadores locais está fazendo uma obra no terreno da propriedade (pelo jeito não é só o povo brasileiro que gosta de fazer um "puxadinho").

O problema é que um dos caras já foi namorado dela anos atrás.

A violência e a tensão sexual são os focos neste filme de Sam Peckinpah inspirado no livro The Siege of Trencher's Farm (O cerco da Fazenda Trencher). 


Eles convidam o marido para caçar e então a violência, em suas mais variadas formas, se precipita de um modo avassalador.

Nos extras do dvd, Peckinpah conta detalhes sobre a produção e a decisão sobre mudar o título para Straw Dogs. Os extras também trazem entrevistas interessantíssimas com Dustin Hoffman e Susan George.


Em tempo: no Brasil Straw Dogs foi lançado como Sob o domínio do medo e em Portugal, Cães de palha.



2. PAT GARRETT & BILLY THE KID (1973) VERSÃO DO DIRETOR




O filme segue a relação entre dois amigos que se separam, após muitos anos de camaradagem e vida desregrada. Tudo muda quando Pat Garrett se torna um xerife e pede para Billy The Kid ir embora para outras plagas.

Billy, porém, não é o tipo de sujeito que se intimida.

O impasse que se instaura é o background perfeito para Peckinpah realizar uma obra-prima estética e formal.




Críticas têm sido feitas aos protagonistas que teriam deixado de imprimir profundidade a seus personagens. James Coburn encarna um Pat Garrett implacável e Kris Kristofferson, um Billy The Kid não menos implacável, com a diferença de ser mais simpático e caloroso como ser humano.

A atuação de Bob Dylan também motivou críticas pela simplicidade e economia, mas também seria querer demais do bardo, que criou clássicos para a trilha.

A genialidade de Sam Peckinpah salta aos olhos - e ouvidos - quando no meio de um faroeste começa a tocar uma canção singela, que se tornaria um clássico da música pop, gravado por Guns N'Roses 



e Zé Ramalho



, entre outros artistas de peso.

E o pasmado espectador se dá conta de quem inventou a arte de mesclar música pop com imagens. Sim, Sam Peckinpah inventou o videoclipe propriamente dito nesta cena: 



Em tempo: no Brasil o filme foi lançado como Pat Garrett & Billy The Kid e em Portugal, Duelo na poeira.