2002. Cientista americano trabalhando em Seul ordena colaborador local a despejar litros de produto químico de alta toxidez no ralo da pia do laboratório. 'Mas esse produto perigoso vai parar no Rio Han,' protesta o cientista sul-coreano. 'Obedeça', diz o ianque.
Com essa rápida cena, Bong Jong-Hoo (diretor de Puhran dah suh uigeh, 2000, microcosmos da sociedade sul-coreana, e Memories of Murder, 2005, baseado em caso verídico, sobre a investigação de uma série de estupros seguidos de assassinato) explica o que vai acontecer quatro anos depois, em 2006, ano em que se desenrola a maior parte da ação de O hospedeiro.
Antes de apresentar ao público a enorme teratologia gerada pela irresponsabilidade de um cérebro mesquinho, Bong mostra seus protagonistas humanos: a família do senhor Park Heui-bong (Byun Hee-bong), dono de um trailer que serve lulas e outros alimentos ao grande povo que usa a beira do Rio Han para lazer.
A família do pacato e justo Park inclui o filho, o meio devagar Gang-du (Song Kang-ho), que lhe ajuda no trailer e cuja maior realização foi lhe dar a neta Hyeon-seo (Ko A-seong), de treze anos de idade, por sua vez, grande admiradora da tia Nam-ju (Bae Doona), orgulho da família e premiada atleta do arco-e-flecha. Pouco mais tarde vai aparecer o terceiro filho de Park, Nam-il (Park Hae-il). Por incrível que pareça, não é na incrível criatura que habita o Rio Han que Bong baseia seu filme de 119 minutos: é nessa bem construída e caracterizada estrutura familiar.
Também para introduzir seus heróis o talentoso roteirista é extremamente econômico; o espectador não precisa esperar muito para começar a ficar com a respiração suspensa, os olhos arregalados e o queixo caído. A ação vertiginosa de O hospedeiro, com pitadas de ironia social e de crítica a governos totalitários, é uma mistura inusitada de nonsense, humor negro, ficção científica, melodrama, terror e terrir, para mencionar alguns dos ingredientes.
O fato de o filme imprimir um ritmo intenso de surpresas (leia-se maneiras surpreendentes de aproveitar velhos clichês) ajuda a explicar o sucesso mundial de crítica e público; e justamente porque o roteiro é 'uma surpresa após a outra' vou me abster de contar detalhes. O que não me impede de tentar explicar melhor o porquê desse monstruoso sucesso: O hospedeiro não é a fantástica história de um aterrorizante e gigantesco anfíbio; é a simples história de uma família que luta para resgatar um bem valioso.
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