segunda-feira, abril 07, 2008

A megera domada


Com este post, o olhar cinéfilo comemora o quinto aniversário.

A peça A megera domada, encenada no Teatro de Câmara Júlio Piva, na R. da República 575, em Porto Alegre, é teatro de alto nível made in Porto Alegre. Assisti ao espetáculo no dia 5 de abril, já com Sandra Possani no papel da megera (em substituição a Roberta Savian). Três espetáculos no próximo fim de semana encerram a breve temporada.

Bebendo um vinho oferecido por cortesia, o público aguarda a abertura da sala. Enquanto entra e se acomoda, a primeira surpresa: os atores passam a apresentar números denominados por eles como "de risco". Dessa forma, o público retardatário tem oportunidade de chegar, e os atores de "quebrar o gelo", além de mostrar outras facetas do seu talento.

Começa o espetáculo propriamente dito, e o que se vê encheria de orgulho até mesmo o próprio Shakespeare, que dirá os gaúchos: um show de tradução, direção, iluminação e interpretação.

Batista (Carlos Mödinger) só vai liberar a linda Bianca (Elisa Volpatto) para casar depois que a irascível primogênita e consumada megera Catarina (Sandra Possani) desencalhar. Os sedentos candidatos a abiscoitar o coração de Bianca torcem para que Petrúquio (Heinz Limaverde), seduzido pelo dote de 20 mil coroas, consiga dobrar a indobrável Cati, em meio a palpitantes jogos de palavras.
A tradução realizada (sob encomenda e sob medida) por Beatriz Viégas-Faria revela-se brilhante sempre, com destaque para o embate verbal aguçadíssimo entre o resoluto Petrúquio (o pretendente) e a irredutível Catarina (a "megera"). Como bem ressalta o jornalista Renato Mendonça, Beatriz "não evita o desafio de reinventar em português os muitos trocadilhos do texto". Ou seja, dá uma inspiradora aula de tradução.
A moderna direção de Patrícia Fagundes não é menos inspirada e segura. O espectador tem a impressão de que nada acontece no palco sem ter sido meticulosamente pensado, e que o elenco segue as determinações/orientações/sugestões da diretora à risca. Tudo isso sem perda da naturalidade de cada um. Em resumo, a diretora aproveita ao máximo a verve e o talento de cada um dos atores.

Iluminação e figurino enfatizam o preto, o branco e o vermelho. Parte técnica, produção executiva, trilha sonora: o apuro nos detalhes contribui para o excelente resultado. Por fim, a trupe de atores é realmente algo! Além dos citados acima, Rafael Guerra, Álvaro Vilaverde, Felipe de Paula, Lisandro Belloto e Leonardo Machado dão show na hora exigida, e são coadjuvantes quando lhes compete.

Noite perfeita, apesar das cadeiras-destruidoras-de-coluna do charmoso Teatro de Câmara.

Thanks, grandma, for taking care of the baby!