Quando Kate Winslet ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 2009, Peter Jackson deve ter murmurado: "Eu já sabia". Lançada por ele no cult movie Heavenly creatures (Almas gêmeas) em 1994, Kate iniciou com o pé direito a sua meteórica carreira. Ninguém, portanto, venha a se surpreender se daqui a quinze anos Saoirse Ronan, a cativante Susan Salmon de Um olhar do paraíso, estiver seguindo os passos de Kate. Peter Jackson tem faro. Autor dos clássicos do terrir Náusea total (Trash, 1987) e Fome animal (Braindead, 1992), mais tarde Jackson realizaria Os espíritos (1996), a trilogia O Senhor dos Anéis (2001-02-03) e King Kong (2005). E como sói acontecer quando o cara atinge o topo, começa a ser espinafrado pela crítica.
Resenhistas do calibre de Roger Ebert, entre outros, esculacharam o novo filme de Peter Jackson, sob a alegação que tem efeitos demais e embeleza um ato horrível. Acho que essas pessoas não viram o mesmo filme que eu vi, ou talvez eu tenha visto o filme com os olhos de um fã que se tornou pai há não muito tempo. Mas a verdade é que Um olhar do paraíso me emocionou bastante. Afinal, nada mais é que a história de uma família. A família Salmon e a menina dos olhos da família, a primogênita Susan. Dona de uma beleza exótica e de olhos azuis transparentes, a menina-moça de 14 anos conquista todos que a conhecem, principalmente o colega de escola Ray (Reece Ritchie). Numa das cenas que mostram a personalidade da protagonista, o irmãozinho dela, Buckley (Christian Ashdale) engole um graveto e para de respirar. Os pais não estão em casa. Incontinenti, Susan pega o carro, coloca o irmão no banco e o leva ao hospital. É por ser assim tão decidida que Susan acaba atraindo outros tipos de olhares, inclusive o de um solitário homem que vem morar na vizinhança, George Harvey (Stanley Tucci, irreconhecível). Ele será o algoz de Susan. Isso não é spoiler porque o trailer do filme conta quem é o assassino e nos primeiros dez minutos a narradora (Susan, do in-between, da região intermediária entre os vivos e os mortos) já nos conta quem foi a pessoa que a assassinou.
Depois que o brutal crime acontece, Susan é dada como desaparecida (o corpo nunca aparece, apenas o gorro e bastante sangue), e a família Salmon se desestrutura. Inconformados, o pai Jack (Mark Wahlberg), contador e nas horas vagas modelista-de-barcos-em-garrafas, e a mãe Abigail (Rachel Weisz) passam a se desentender; cada um reage de forma diferente para tentar se relacionar com a dor da perda. A irmã Lindsey (Rose MacIver) e a vó Lynn (Susan Sarandon) mesmo sem demonstrar muito têm que absorver a revolta e a saudade.
Susan Salmon, por sua vez, não consegue se libertar da vida e ir para o céu. O modo violento com que lhe foi ceifado o mais precioso bem a deixam numa dimensão intermediária, em meio a cenários surrealistas e amizades como Holly (Nikki SooHoo). Com a ajuda de Holly, Susan procura aos poucos aceitar o que aconteceu e deixar que a sua família também siga adiante.