Hoje em dia há uma aparente falta de talento na indústria de cinema. Assim, qualquer cineasta com um mínimo de inspiração pode ser a "bola da vez", ganhar os holofotes e, de quebra, ser escalado para encabeçar o novo filme de uma velha e combalida franquia. Numa era sem heróis, a indústria se esforça para inventar alguns.
O que Taika Waititi tem com isso? Nada. Ele apenas tem uma boa dose de imaginação e talento. O cineasta neozelandês segue à risca a cartilha de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa: "Ah, se ousares, ousa!". Os filmes de Waititi são agradáveis, abordam temas interessantes, são repletos de citações, provocam discussões, risos e talvez algumas lágrimas. Ninguém poderia exigir mais de um diretor hoje em dia.
Acontece que Jo-Jo Rabbit ganhou nada mais nada menos que um Oscar de Melhor Roteiro. Estamos falando do ápice da qualidade textual em termos de cinema. Algo me diz que a honraria foi mais pela "temática" do que pelo roteiro em si, que tem várias partes desconjuntadas, e que, em muitos momentos, "it does not ring true".
Não é preciso ser um gênio para perceber que esta é a resenha de alguém que estava com muita vontade de assistir ao filme, mas, ao pagar o "pay-per-view" em streaming, coisa que nunca fizera em sua carreira de cinéfilo, e assistir ao filme em sua casa, com a internet travando toda hora, decepcionou-se.
Claro que eu teria apreciado mais a experiência em uma sala de cinema decente, mas é inegável que eu esperava mais deste filme. É o tipo do filme inferior ao trailer. Não estou dizendo que não vale a pena assistir a Jo-Jo Rabbit ou que o filme não merece a atenção que recebeu. Ele se destaca justamente porque vivemos numa era de mesmice, na qual um mínimo de originalidade e ousadia é suficiente para a tentativa de criar "the next big thing".
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A indústria do cinema parece em vias de falta de oxigenação. Já estava a perigo antes da pandemia, e agora o seu futuro é mais incerto ainda.
O cinema está em franca decadência em dois planos: na qualidade das produções e nas políticas de distribuição.
A arrogância de manter a política de ingressos caros, a burrice de inventar regras burras e de tirar a autonomia dos funcionários.
A mania de nivelar por baixo a inteligência do público e a obsessão por pasteurizar cineastas promissores.
Eu já vi este filme antes... Tantos diretores talentosos que "vendem a alma para Hollywood" e, após dirigirem filmes de franquias famosas, ficam mascarados e "perdem a mão". Acabam presos numa gaiola como coelhinhos e jamais voltam a ser os mesmos.
É um círculo raramente virtuoso. Quando se é independente, reclama-se da falta de grana. Quando se tem grana, reclama-se da falta de liberdade artística. Vamos ver se Taika Waititi conseguirá o tão sonhado equilíbrio entre sucesso comercial e artístico, coisa que pouquíssimos diretores foram capazes de conseguir.
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