O filme do esteta Edward Berger é o pré-indicado ao Oscar pela Alemanha. A julgar pela recepção que o filme está tendo mundo afora desde a sua estreia no Festival de Toronto em setembro e, no fim de outubro, na Netflix, há uma boa chance de ele acabar entre os 5 finalistas de Melhor Filme Internacional.
O enredo baseia-se na obra In Westen Nichts Neues, escrita por Erich Maria Remarque e publicada a primeira vez em 1929, cuja ação se passa durante a I Guerra Mundial, sob o prisma dos alemães. A primeira adaptação ao cinema foi em 1930 (All Quiet on the Western Front / Sem novidades no front), Oscar de Melhor Filme, com direção de Lewis Milestone.
A história é contada do ponto de vista de Paul Bäumer, um rapaz que se alista no exército aos 17 anos para combater nas trincheiras do front ocidental. Os ideais que o levaram a se alistar vão aos poucos sendo minados pelo dia a dia brutal e sem sentido do front de batalha.
A alimentação precária da tropa é algo que fica bem realçado em várias sequências. A sujeira e a falta de condições sanitárias, também.
A construção dos personagens se dá sem pressa, com os vários combatentes do pelotão sendo apresentados ao espectador, em meio a cenas de combate e nas tréguas.
A maioria dos soldados tem menos de 18 anos e se vê obrigada a esquecer dos sonhos de um dia ter uma namorada e uma vida próspera para chafurdar no infernal "front do ocidente", comandados por insensíveis marechais.
Algumas cenas horripilantes se destacam, como a que o jovem soldado alemão se vê sozinho com um soldado francês num lodaçal que circunda uma cratera cheia d'água fétida.
É matar ou morrer, e Paul não hesita em sacar o punhal e, após derrubar o oponente, cravar várias vezes a lâmina no peito do inimigo. Paul se afasta dele, mas o moribundo emite sons gorgolejantes que fazem Paul cair em si e se arrepender de seus atos. Uma das muitas cenas do filme que retratam com crueza a estupidez das guerras.
O estreante Felix Kammerer faz um trabalho digno de nota no papel do protagonista. A fotografia é outro destaque, assim como a trilha sonora hipnotizante e, nos momentos que antecedem as lutas sangrentas, mesmo assustadora. Por sua vez, o diretor Edward Berger revela um olhar preocupado em veicular conteúdo potente, mas com veracidade e beleza, até onde a insensatez pode ser bela.
Em pleno 2022, um filme antibélico, em que os líderes por trás da guerra são dementes, teimosos, orgulhosos e cegos, poderia soar deslocado, se hoje vivêssemos num mundo em paz, sem governantes de potências bélicas com essas características.
Mas o libelo de Edward Berger soa atualíssimo e por isso merece ser visto, apreciado e comentado.
Uma das coisas interessantes é estabelecer um paralelo entre o filme germânico de hoje e o americano de 1930, bem como entre o livro e os filmes. Um artigo da Collider aborda as diferenças do livro de Remarque e do filme atual.
Da estirpe do já citado Sem novidades no front (Lewis Milestone), Gallipoli (Peter Weir) e 1917 (Sam Mendes), to name a few, Nada de novo no front de Edward Berger entra para essa seleta galeria de filmes essenciais e imperdíveis sobre a I Guerra Mundial.
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