Eu apoio o novíssimo cinema polonês na Netflix.
Sempre que assisto a um filme polonês seleciono os dois joinhas, mesmo sabendo que, no fundo, o filme não merecia tanto.
É um sinal de minha reverência e respeito à escola polonesa de fazer filmes e um voto de confiança a esses jovens cineastas, ainda tateantes, mas que revelam facetas de um talento ainda não completamente polido.
PLANO DE AULA
Estranha mistura de "Sociedade dos poetas mortos" com "Um dia de treinamento", Plano de aula é um bom filme de ação dos "Daniels" poloneses.
O diretor: Daniel Markovicz. O roteiro: Daniel Bernardi.
O herói (sim, herói ainda tem acento, meus amigos e minhas amigas, porque é oxítona terminada em ditongo decrescente, como hotéis) aqui é um ex-policial traumatizado, que afoga no uísque as mágoas de ver a esposa assassinada em represália a sua atuação no combate ao tráfico de drogas.
Um professor amigo dele pede ajuda para investigar um esquema de distribuição de drogas numa escola.
Não espere profundidade na construção dos personagens. Mesmo assim, o roteiro, apesar dos deslizes e exageros, tem lá seus bons momentos e algumas reviravoltas.
No final tudo meio que se precipita, e essa é a maior crítica que tenho a fazer, tanto a Plano de aula (Plan Iekcji) quanto ao próximo filme.
AMOR EM TEMPOS DE POLARIZAÇÃO
Palpitante assunto abordado com viés tragicômico.
O filme de Pietr Kumik aposta no maniqueísmo do "eu estou certo e você está errado".
A "certa", no caso, é a heroína (sim, heroína tem acento, meus amigos e minhas amigas, porque o "i" é a vogal tônica do hiato), Pola, uma linda e inteligente estudante, apesar de "esquerdista radical".
O "errado" é Staszek, um jovem que, após abandonar o futebol por conta de uma lesão, se deixa levar pela influência de um primo e começa a acompanhar um grupo de neonazistas. A ideologia deles não interessa a Staszek, mas sim o fato de ser aceito em um grupo. O roteiro se esforça para mostrar que, apesar disso, Staszek é no fundo um cara legal.
Eventually (cuja tradução NÃO é "eventualmente") o grupo começa a radicalizar suas ações.
O líder dos neonazistas, Roman, e primo de Staszek, é um doido de pedra que planeja ora explodir uma sinagoga, ora mandar pelos ares um ônibus numa parada gay.
Eventually (cuja tradução NÃO é "eventualmente") Staszek acaba se apaixonando por Pola e a posição política da gatinha também o faz balançar e a questionar sua participação no grupo.
O que sustenta o filme não é, como seria de se esperar, um roteiro com tiradas inteligentes mostrando os pontos fracos de alguém ser "polarizado", mas sim a química entre os dois protagonistas.
Sim, o casal de pombinhos consegue sustentar o interesse pelo filme, que é deveras limitado do ponto de vista de crítica social, mas que tem lá suas ironias tipicamente polonesas e o humor tipicamente polonês.
Entre os clichês que funcionam está o do neonazista que descobre, digamos, uma nova faceta de sua personalidade.
Amor em tempos de polarização (Kryptonin: Polska) também se resolve apressadamente e dá uma sensação de frivolidade no final. Mas tem lá seus momentos engraçados, principalmente quando mostra a estupidez dos extrema-direitas. E aí que reside o principal problema do filme. Ele só ridiculariza um dos lados.
Faltou, é claro, mostrar o quanto os extrema-esquerdas também podem ser estúpidos, o quanto a esquerda caviar pode ser contraditória e patética.
O desafio seria fazer um filme sério, em que alguém de centroesquerda se apaixonasse por alguém de centrodireita e cada um se esforçasse sinceramente por tentar entender o pensamento do outro. Isso seria algo construtivo.
Mas, pensando bem, seria um tanto boring! É tão mais fácil e divertido se deixar atrair pelos polos, mesmo para quem mora num país governado pelo centro, digo, centrão.
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