No Feriado de 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, uma única funcionária negra atendia no setor de Pipocas e Refris a fila enorme de espectadores que se aglomerava para assistir ao filme brasileiro Ainda estou aqui, de Walter Salles.
O meu filho de 12 anos era um que estava na fila. Pegou uma pipoca grande salgada, a 22 reais. O filho maior, de 17 anos, pegou os 4 canudinhos no balcão. Os 4 refris comprei no Záffari, e foi bom, menos serviço para a sobrecarregada funcionária supracitada, obrigada a servir pipoca e bebidas. A senhora da etnia afro-brasileira, muito eficiente, cobrava escanteio e corria para cabecear.
Alô organização do Cine Laser de Passo Fundo, custava ter reforçado o pessoal no Feriado, em que o movimento seria maior? E justamente nesse Feriado da Consciência Negra.
Agora, sobre o filme em si.
Ainda estou aqui foi escolhido pelo Brasil para tentar concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional.
Artisticamente analisando a obra de Walter Salles, é muito bem-feita, mas a peneira é muito exigente, são muitos filmes bons mundo afora.
A primeira meta é entrar nos 5 filmes finalistas. Um passinho de cada vez.
Se conseguirmos entrar, as chances se tornam no mínimo de 20%, e algo me diz que o Brasil meio que se tornaria um dos favoritos, pelo hype criado, pelo frisson da imprensa, pela máquina de publicidade que está sendo ativada, e as engrenagens de apoio como de atores hollywoodianos (p. ex., Sean Penn).
A pergunta que pretendo responder aqui é:
hype ou não hype?
A definição de hype é
to make something seem more exciting or important than it is.
Eis que o filme de Walter Salles é realmente empolgante e importante o suficiente para merecer um Oscar!
E claro, eu ficaria muito feliz se o Brasil, enfim, ganhasse o seu primeiro Oscar nessa categoria, justamente com uma obra inspirada em livro de um escritor brasileiro como Marcelo Rubens Paiva, um lutador em todos os sentidos.
Ainda estou aqui é um filme sobre injustiças, mas também sobre convívio familiar.
É essa paulatina construção dos laços familiares que torna o filme tocante e universaliza sua mensagem de luta pelos direitos humanos.
O cuidado na recriação de época também merece um comentário à parte, desde a fotografia até os veículos e imóveis, tudo beira a perfeição.
Falar nas atuações seria "chover no molhado", de modo que vou me abster. Apenas vou me concentrar em algo que costumo analisar nesse blog, que é a direção.
Walter Salles realiza um trabalho discreto na direção, tanto que o seu nome só aparece nos créditos finais. O foco dele não é o mérito pessoal e sim em contar a história. Acredito que ele tomou a decisão certa e conseguiu seu intento com louvor.
Não vou escrever o clichê "agora vamos torcer", porque torcida é algo inútil no caso de prêmios da Academia.
Como acontece no enredo do filme, inspirado em fatos verídicos acontecidos no Brasil em dezembro de 1970, 25 anos depois e 44 anos depois, tudo vai depender dessa articulação, da rede de contatos, das camadas de inter-relacionamentos envolvidas entre as pessoas com direito a voto.
Elas têm que estar motivadas a assistir ao filme e a votar nele, por motivos artísticos ou políticos, ou ambos.
Uma coisa é certa: Ainda estou aqui é um filme muito bem realizado que merece a estatueta de Melhor Filme Internacional.
Por motivos artísticos, políticos ou ambos.
Na verdade, está mais do que na hora de o cinema brasileiro entrar nesse seleto clube dos países com Oscar de Melhor Filme Estrangeiro/Internacional.
Assistir ao filme é uma grande oportunidade para todos, independente de onde a pessoa pensa estar no espectro político, de se aprofundar no assunto, sem medo de enfrentar os erros que foram cometidos em nome dessa ou aquela ideologia.
Para uma família de cinéfilos, assistir a Ainda estou aqui é mais do que apenas um programa de família, é fazer o tema de casa.