sexta-feira, outubro 31, 2025

Frankenstein com spoiler na primeira frase da resenha


CONTÉM SPOILERS, LEITURA NÃO RECOMENDADA PARA QUEM AINDA NÃO ASSISTIU AO FILME


Guillermo Del Toro, eu te perdoo.

Quem já viu o filme sabe por que essa frase é um spoiler, quem não viu ainda, bem, peço perdão pelo spoiler, mas não foi por falta de aviso.

Também não é culpa minha que Del Toro transformou o seu filme em uma parábola sobre a importância da capacidade de perdoar.

A cena final do Frankenstein (2025) da Netflix é um misto de pieguice com ternura, conforme o nível de rigor de quem assiste.

A minha história com Del Toro partiu da admiração à decepção.

Admiração pelos tempos de O labirinto do fauno e A colina escarlate, decepção com a acusação de plágio de A forma da água e a megalomania de Pinóquio de Guillermo del Toro.

Já que o tema principal de Frankenstein acaba sendo o perdão, nada mais adequado que eu aproveite o cavalo que passa encilhado e suba no lombo dessa onda de forgiveness.




Guillermo Del Toro, estás perdoado.

Não que um cineasta ególatra precise do perdão de um cinéfilo obscuro, mas fica registrado aqui, este filme que você fez no ano de 2025 com dinheiro da Netflix é uma visão "bonitinha" da história, uma visão pró-monstro.

A criatura é a vítima da ganância e da megalomania de seus criadores.

A criatura interpretada pelo ator australiano Jacob Elordi, do alto de seus 1,96 m, é talvez o "Frankenstein" mais frágil de todos os tempos. A fragilidade no sentido de vitimização, de um ser que não pediu para ser como é, mas sofre na pele e na alma a maldição de estar vivo e enfrentar a rejeição de quem não compreende a sua essência.



Por abordar e explorar esses temas com mais apuro que outras adaptações, Guillermo Del Toro realiza um trabalho importante em preservar a lenda e insuflar nela um novo sopro vital, o sopro de quem consegue transformar o desdém e a raiva em perdão. 

 

sexta-feira, outubro 10, 2025

Uma batalha após a outra

 


O novo filme do diretor Paul Thomas Anderson está sendo alvo de polarização. O público vai assistir e, se for bolsonarista, se revolta. Se for lulista, leva muito a sério e levanta bandeiras.

Mas quem mais se diverte é o centrista.

Para mim, o filme funciona bem como filme de ação com boas pitadas de comédia intercaladas.

Não creio que o filme tenha a intenção de se tornar um libelo anti-isso ou antiaquilo ou pró-isso ou pró-aquilo.

Mas está sendo abraçado dessa forma por uma parte da crítica, tanto que o Brian Tallerico, do site Roger Ebert, termina a sua resenha com uma "chamada à ação": 

Keep fighting.




Ok, todos nós de alguma forma estamos precisando sempre batalhar, vencer uma batalha após a outra, um dia após o outro, resolver toda sorte de perrengues que vão surgindo, e tentando sermos felizes no processo.

Direita, esquerda ou centro, somos todos humanos, demasiado humanos, mas creio que as pessoas que atualmente se posicionam nos polos deixam de curtir um pouco as graças da vida.

Para começar, deixam de achar graça dos ridículos da direita e dos ridículos da esquerda. Ficam dourando a pílula quando aperta o próprio sapato.

E o filme de PTA acaba ridicularizando a direita e a esquerda, embora sua mensagem revolucionária tenda um pouco a romantizar a esquerda. O fato de que o filme satiriza os dois lados também é enfatizado na resenha de Derek Jacobs, do site Plot & Theme, onde afirma que, do começo ao fim, OBAA satiriza os extremos políticos (One Battle After Another is a satire of political extremes, from start to finish). 

A propósito, muita gente abandonou a sessão, será que foi por essa questão política ou acharam o filme chato?

No meu ponto de vista, de chato o filme não tem nada, é do tipo uma coisa puxa outra e quase de ação ininterrupta.

As perseguições na erma rodovia no fim do filme são um triunfo cinemático, o espectador chega a sentir vertigens pelo modo com que as câmeras são instaladas no veículo junto ao asfalto ondulante.

As atuações de DiCaprio e Del Toro são complementares e bem-humoradas.

Sean Penn é candidato a mais um Oscar?

Teiana Taylor, Chase Infiniti e Regina Hall imprimem veracidade a seus papéis.

No frigir dos ovos, Uma batalha após a outra se enquadra como bom entretenimento, com algum estofo para se pensar, mas principalmente na parte de relacionamentos, sangue versus criação...




Na parte política, mostra o quanto um grupo revolucionário pode ser implacável e matar inocentes. Os fins justificam os meios, é isso?

E também mostra o quanto um grupo racista pode ser pernicioso e assustador.

Não entendo porque o filme possa ser abraçado por um dos lados e rejeitado pelo outro.

Longe de ser um libelo, Uma batalha após a outra traz elementos que provocam debate involucrados em um produto palatável, que honra a melhor tradição do cinema americano.