Na região Nordeste do Brasil, cabra é sinônimo de pessoa, sem conotação pejorativa. Qualquer indivíduo é mais um “cabra” na linguagem atual e corrente. Primitivamente, o termo correspondia a capanga, pistoleiro, sujeito subalterno em grupo de cangaceiros.
Eis que o personagem interpretado por Pierre Richard, ator homenageado no Festival, é um sujeito muito pateta e desastrado.
Dono de um azar que desafia a lógica, é enviado ao México em companhia de um detetive experiente (Depardieu) para descobrirem o paradeiro de uma jovem desaparecida.
Pierre Richard personaliza um humor que lembra muito o de Peter Sellers em filmes como Um convidado bem trapalhão e a série da Pantera Cor-de-Rosa, um humor físico, cheio de tropeços, quedas e infortúnios, realmente coisa de uma das pessoas mais desventuradas da face da Terra. Mas por incrível que pareça cada mancada e cada situação vão aproximando a dupla de enviados do seu objetivo de encontrar a moça desaparecida.
O apego
Outra face da moeda do cinema francês, o drama contemporâneo, realizado em 2024, um filme que provoca pouco riso e mais reflexão, afinal, aborda assuntos complexos como a diferença entre apego e amor.
Antes de ir à maternidade para ter o segundo filho, um casal precisa deixar o filho pequeno a cuidados da vizinha de porta.
Uma tragédia acontece na maternidade.
O viúvo fica em uma situação deplorável, sem a esposa, com dois filhos para criar, a recém-nascida e o garoto, cujo pai é o primeiro marido da falecida.
Com a proximidade e o convívio nesses dias de sofrimento, o viúvo pensa ter se apaixonado pela vizinha, bem mais velha do que ele, porque ela lhe dá um ombro amigo e ajuda a cuidar do enteado.
Ela, dona de uma livraria especializada em obras de cunho feminista, o convence de que está enganado, que é só uma tentativa de processar o luto, e evita se envolver em um relacionamento sexual.
Tudo ficou apenas em um beijo na boca tímido.
Logo o viúvo pula nos braços de uma mulher mais jovem, sem se dar conta de que estava tentando ainda se agarrar a uma tábua de salvação.
Dessa vez, porém, a moça também está carente e solitária, e um romance se principia.
O pai biológico do menino é outro personagem que vai atuar nesse cadinho de sentimentos borbulhantes e confusos, que leva o espectador, inevitavelmente, a fazer paralelos e avaliações com a sua própria vida.
Por isso que é bom ser cinéfilo.
O cinema sempre pode ser um refúgio, um lugar para se esconder, mas também para se acalmar.
Dois ótimos filmes que melhoraram o meu dia, o primeiro, me fazendo rir, o segundo, me fazendo ter orgulho da família que formei com minha esposa, que mesmo feminista me deu dois filhos, e mais orgulho ainda vou ter, é claro, se o primogênito passar no vestibular.
Sem pressões, é claro.