sábado, janeiro 07, 2006

A passagem


Marc Forster nasceu em Ulm, na Alemanha, mas foi criado no bucólico interior da Suíça. Quando, aos 12 anos, assistiu um filme pela primeira vez (Apocalypse Now, na televisão), resolveu ser diretor de cinema. Sua filmografia densa inclui Everything Put Together (2000), história de uma mãe que luta para se recuperar da perda trágica do filho; A Última Ceia (Monster’s Ball, 2001, que valeu o Oscar de Melhor Atriz a Halle Berry), sobre uma mulher que se envolve com o policial que executou o marido no corredor da morte – uma das cenas mais fortes do filme é o suicídio do personagem de Heath Ledger; e em 2004, Finding Neverland (Em Busca da Terra dos Sonhos), em que a mãe de quatro filhos está com os dias contados. Diga-se de passagem: em 1998, no período de três meses, Forster perdeu pai, avó e irmão (este, por suicídio).
A obsessão do diretor Marc Forster por temas mórbidos permanece em Stay (A passagem, 2005), onde Henry Letham (Ryan Gosling) é um estudante de Belas Artes que confessa, na quarta-feira, ao psiquiatra substituto (Ewan McGregor), que pretende suicidar-se no sábado à meia-noite. O psiquiatra conta o fato à sua namorada de cicatrizes nos pulsos (Naomi Watts), pessoa indicada para tentar ajudá-lo a evitar que Henry cumpra o prometido. O roteiro é um jogo de xadrez com o espectador, que nunca sabe o que é verdade ou delírio. Pelas cenas oníricas e detalhes enigmáticos, o filme lembra o cult belga Malpertuis, com Orson Welles. Diálogos desencontrados, atos falhos, dúvidas recorrentes, gêmeos incidentais, visões fantasmagóricas e conversas surreais, tudo costurado por fusões ágeis e uma câmera dinâmica, mantêm o interesse até a sequência final – que pretende ser explicativa, mas provoca uma série de questionamentos.

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