domingo, maio 28, 2006

X-Men - The Last Stand



Um cientista descobre que seu filho é mutante e, depois de anos de pesquisa, desenvolve uma ‘cura’ para as mutações – uma substância que, num piscar de olhos, transforma o mutante em humano comum. Scott vai ao lago onde Jean parecia ter morrido (ver X-Men 2) e descobre que sua namorada está viva. Jean descobre que Xavier estivera todo esse tempo castrando seus poderes e a impedindo de utilizar toda sua energia. Xavier descobre que Jean é mais forte que ele, Storm e Wolverine juntos. A nova aluna que atravessa paredes descobre que para impedir o plano de Magneto precisa salvar o menino que deu origem ao antídoto. O menino-antídoto descobre que Magneto e seus novos mutantes revolucionários chegaram na ilha de Alcatraz para lhe matar e salvar a causa mutante. Magneto e seus novos mutantes revolucionários descobrem que Wolverine e Storm lideram a contra-revolução. Storm descobre que Wolverine ama Jean. Wolverine descobre que Rogue quer tomar a injeção anti-mutante para não ficar a vida toda sem tocar o namorado. Rogue descobre que o namorado foi andar de patins no lago congelado com a nova aluna que atravessa paredes. As paredes do cinema descobrem que as mulheres foram ao cinema para ver Wolverine e os homens, para ver Mistique. Mistique descobre que, sem suas exóticas escamas azuis, não serve mais para Magneto, e tampouco para o espectador. E o espectador descobre que pagou para ver personagens da Marvel mas acabou vendo uma versão piorada de Carrie, a Estranha.

sexta-feira, maio 12, 2006

Hamlet

O Hamlet encarnado por Ethan Hawke, apesar de viver em Nova York e manejar, nas horas vagas, uma filmadora digital, quando abre a boca, fala as mesmas palavras escritas por William Shakespeare em 1601. Esta foi uma bola dentro do diretor / roteirista Michael Almereyda. Não podendo competir com palavras perfeitas, as manteve, mudando o ambiente, o cenário, a época. A idéia não é nova – vide Romeu e Julieta de Baz Luhrman. Em Hamlet (2000), as cenas foram muito bem estudadas, a fim de fazer encaixar as falas no contexto do final do século XX. A decisão de manter, palavra por palavra, o texto original, paga o tributo merecido a Shakespeare. Já que o assunto aqui são as palavras, Harold Bloom, em Shakespeare, The Invention of the Human, comenta que "a conclusão mais shakespeareana de Nietzsche é puro Hamlet: podemos encontrar palavras apenas para aquilo que está morto em nossos corações, de forma que há necessariamente uma espécie de desprezo em todo ato de fala. O resto é silêncio; fala/ discurso é agitação, traição, inquietude, auto-tormento e tormento dos outros."

As palavras que brotam destes personagens não são quaisquer palavras, são palavras perenes da literatura universal. Mas quanto à linguagem cinematográfica?? Aí que reside o triunfo maior do filme. Almereyda realiza um trabalho eficiente na adaptação de uma peça escrita em 1601 para o limiar do século XXI. O país vira a corporação Dinamarca. O castelo vira o prédio Elsinor. Algumas cenas, é claro, são cortadas. Bem dizer todo o primeiro ato. Algumas modificações são feitas. Marcelo vira Marcela, namorada de Horácio. Talvez para evitar qualquer conotação homossexual entre Hamlet e Horácio, os amigos inseparáveis. No Hamlet de Shakespeare, é Marcelo que fala: 
– Há algo podre no reino da Dinamarca.

 No de Michael Almereyda, este comentário é deletado. Mas as demais principais falas estão todas lá, inclusive o solilóquio To be or not be, that is the question (Existir ou não existir, aí está o problema, na tradução de Elvio Funck), que é murmurado, com um desânimo pungente, por um Hamlet perdido em meio às estantes da Blockbuster, mais especificamente, a seção de ação. Hamlet, tão detratado pela sua inação, avança e a câmera vai recuando, mostrando as placas ACTION afixadas às estantes. Sobre a intrigante personalidade de Hamlet, vale pinçar alguns comentários de Bloom, livro citado acima: 

 "Hamlet não faz nada prematuramente; algo nele está determinado em não ser super determinado".

 "A quintessência de Hamlet é nunca estar completamente comprometido a qualquer instância ou atitude, qualquer missão, ou mesmo a qualquer coisa". 

 "Hamlet é muito inteligente para aceitar qualquer papel, e a inteligência em si é descentralizada quando aliada ao desinteresse exacerbado do príncipe". 

 Bloom também reclama de um Hamlet que viu na Broadway, interpretado por Ralph Fiennes. Já Ethan Hawke desincumbe-se bem da tarefa... em sua interpretação, o aspecto sombrio de Hamlet é muito bem trabalhado. Destaques também para Julia Stiles – uma Ofélia perturbadora – e Bill Murray  no papel do controvertido Polônio. 

A cena final quase põe o filme a perder. Mas a principal falha de Michael Almereyda foi cortar o aspecto pândego e irônico de Hamlet. Mesmo não sendo um filme perfeito, quem assistir ao Hamlet do diretor Michael Almereyda e abominar, das duas uma, ou ambas: não gosta de literatura ou/e não gosta de cinema. 

Outras versões de Hamlet no cinema: 

1996: De Kenneth Brannagh, a mais extensa e fiel, com quase 4 horas de duração. 

1990: De Franco Zeffirelli, com Mel Gibson. 

1948: De Laurence Olivier, a versão "definitiva", Oscar de Melhor Filme e Ator.



Leitura recomendada: "Hamleto", traduzido pelo poeta brasileiro Tristão da Cunha. Disponível em e-book.

segunda-feira, maio 08, 2006

Missão Impossível III



A câmera hitchcockiana de Brian De Palma inaugurou, em 1996, a série Missão Impossível no cinema; com requinte e classe, o diretor de Dublê de Corpo e Os Intocáveis realizou um bom filme de suspense e espionagem, entremeado de algumas cenas de aventura. Em 2000, coube a John Woo, que, pelos seus maneirismos, coreografias e marcas registradas, é um cineasta do tipo ame ou odeie, dirigir a continuação, com menos estofo e mais cenas eletrizantes. Esse processo de pasteurização culminou, em 2006, com o vertiginoso Missão Impossível 3, do diretor J.J. Abrams (criador da série Lost), que contém nada além de ação.
Uma das críticas possíveis ao formato fílmico é a de que a existência de um protagonista descaracterizou o charme da série televisiva, que era o de uma mecânica de equipe, onde todos exerciam funções específicas e de igual importância. Já a ‘franquia’ MI tem Luther Strickel (Ving Rhames), presente nos três filmes, e ele, o onipresente e cada vez mais pasteurizado Ethan Hunt (Tom Cruise). Do primeiro ao terceiro filme da série, a massa muscular de Ethan foi inflando e a cinzenta definhando. As missões foram exigindo mais peripécias mirabolantes e menos esforços pensantes. No entanto (ou portanto?), a bilheteria norte-americana do primeiro alcançou 180 milhões e a do segundo, 215 milhões de dólares.
Tom Cruise de novo atua sem dublês; alguém poderia se perguntar se é por honestidade com a platéia ou por narcisismo, para provar a si que ainda é capaz. Ou será que Tom Cruise já chegou ao patamar que não precisa mais provar nada a ninguém? O fato é que Tom Cruise corre, pula, salta, escala, escorrega, se dependura, despenca, em suma, faz tudo que fazia há 20 anos melhor, mais rápido e mais eficiente. Para homens comuns, 44 anos equivalem a rugas de preocupação, calvície em estádio avançado e tufos de cabelos grisalhos; para Tom Cruise, a maturidade, experiência e charme irresistível. Enquanto noutros a idade provoca efeitos indesejáveis, para Tom Cruise é sinônimo de mais adequação, felicidade e produtividade. Como se isso não bastasse, Tom Cruise está na idade em que atinge várias gerações de corações femininos.
Por conta disso, do maquiavélico vilão Owen Davian, interpretado pelo oscarizado Phillip Seymour Hofmann, de Zhen, a bela agente de traços orientais (Maggie Q), e do roteiro alucinante, que não privilegia o raciocínio, pode-se esperar que o terceiro supere a bilheteria dos dois primeiros.