domingo, outubro 15, 2006
Dália Negra
Brian De Palma, o diretor de ‘Fêmea Fatal’, filma o roteiro baseado no livro The Black Dahlia (1987), de James Ellroy (nascido em 1948), inspirado no assassinato de Elizabeth Short, acontecido em Los Angeles, em 1947. Os jornais da época contam que a moça de 22 anos, depois de passar uma semana desaparecida, foi encontrada morta num terreno baldio, com o corpo cortado ao meio na altura da cintura e o rosto mutilado. Depois de muitas investigações, a polícia de Los Angeles listou vários suspeitos, mas não deu solução ao crime. Ellroy (que teve a mãe assassinada em circunstâncias similares) utilizou o assassinato da ‘Dália Negra’– para uns, o nome pelo qual a moça morta era conhecida no submundo, para outros, uma invenção dos jornalistas da época – como premissa para criar tramas e personagens densas.
Buckie (Josh Hartnett) e Lee (Aaron Eckhart), ex-pugilistas que embrenharam na carreira policial, passam a investigar o assassinato de Elizabeth. Antigos rivais no boxe, agora os dois formam uma parceria no combate ao crime. Nas horas vagas, Buckie freqüenta a casa dos Lee, e é secretamente apaixonado por Kay (Scarlett Johansson), a mulher do colega. Durante a investigação, torna-se obcecado pela obscura personalidade da Dália Negra e envolve-se sexualmente com uma sósia da vítima (Hilary Swank).
Quem acompanha a carreira de Brian De Palma sabe que seus filmes oscilam entre sucessos ou fracassos ‘comerciais’ e – respectivamente ou não – sucessos ou fracassos ‘artísticos’. Dália Negra foi espinafrado pela crítica e após 4 semanas em cartaz rendeu apenas metade do custo de produção (50 milhões de dólares). Além de desagradar críticos e produtores, De Palma aborreceu também os fãs de Ellroy, pelas liberdades tomadas em relação ao livro. E quanto aos cinéfilos?
Em primeiro lugar, é de se pensar se existe, a priori, a categoria ‘cinéfilo’. Afinal, cinéfilos são excêntricos, iconoclastas, exigentes, críticos, contraditórios, apaixonados – e não se submetem a generalizações. Podem esperar ansiosos novos filmes dos diretores preferidos, mas se lhes aprouver não perdem a chance de desdenhá-los. Sob esse prisma, o próprio nome deste blog está viciado na origem. Deveria ser ‘olhar de um cinéfilo’. Não existe olhar cinéfilo. Cada cinéfilo tem seu olhar. Posto isso, Dália Negra, na filmografia DePalmiana, está mais para ‘Síndrome de Caim’ do que para ‘Os Intocáveis’. Mas sempre é uma experiência palpitante ir ao cinema para assistir o novo filme de um diretor preferido.
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