A estrela em ascensão Maggie Gyllenhaal em Mais estranho que a ficção interpretou a simpática dona de uma confeitaria fiscalizada pela receita federal; neste filme de Danny Leiner, Maggie continua no ramo das guloseimas: é a sisuda Emme, proprietária e "designer" da empresa The Great New Wonderful (o título original do filme), cujo nicho de mercado é projetar e executar a confecção de tortas estilizadas, de vários andares, para fregueses burgueses dispostos a investir uma grana considerável no bolo da festa. Emme comanda a equipe que visita clientes em potencial e mostra o incrível portfólio de bolos exóticos. Em vez de desenvolver as personagens dessa história, Danny Leiner opta por, aparentemente, diluir a "unidade temática" e acompanhar a rotina de outras pessoas, cujo único ponto em comum, aparentemente, é viverem na mesma cidade - Nova York. O filme se passa em setembro de 2002, e o clima na cidade é de reconstrução pelo aniversário dos atentados 11 de setembro. O metódico psicólogo Dr. Trabulous (Tony Shalhoub) tenta fazer vir à tona a raiva contida de um cliente aparentemente bem, mas no fundo perturbado por ter presenciado uma tragédia. Um casal tem problemas com o filho obeso, mimado e violento. Os seguranças Avi e Satish atuam como frilas na salvaguarda de insignificantes chefes de estado que visitam a cidade; entre um trabalho e outro, avaliam suas vidas e conquistas. A grande atriz Olympia Dukakis (Feitiço da lua) interpreta Judy Berman, senhora que não dialoga com o marido e reencontra um amigo de infância. Cinco crônicas de uma cidade que se recupera do choque e reconstrói sua auto-estima, cujas personagens vão se encontrar num momento prosaico. Cabe ao espectador costurar as - aparentemente - desconectadas histórias e descobrir sua "unidade temática".
quarta-feira, outubro 31, 2007
terça-feira, outubro 16, 2007
Tropa de elite
Formado em administração de empresas, José Padilha, 40, tem, além de percepção estética, faro comercial. Sabe escolher os temas que vai abordar e, ao juntar R$10 milhões para fazer Tropa de elite, calculava obter bom retorno na bilheteria, com 2,5 milhões de espectadores. Não contava, entretanto, que cópias do filme vazassem devido à ação inescrupulosa dos técnicos de legendagem, o que provocou uma avalanche de pirataria sem precedentes. Estima-se que mais de 3 milhões de brasileiros tenham assistido ao filme antes da estréia nos cinemas. Mas a celeuma da pirataria e o 'boca-a-boca' das pessoas que viram as cópias clandestinas não parecem ter prejudicado o potencial de desempenho nos cinemas: no primeiro fim-de-semana o filme já alcançou 700 mil espectadores.
Padilha iniciou sua carreira no mundo cinematográfico na produção de documentários, como Os carvoeiros (1999, com direção do britânico Nigel Noble) e Estamira (2004). Estreiou na direção com Ônibus 174 (2002), contando a história de Sandro Nascimento, autor do seqüestro que paralisou o Brasil em junho de 2000. Tropa de elite (2007) é seu primeiro filme de ficção.
Baseado no livro Elite de tropa, em que o antropólogo Luiz Eduardo Soares, inspirado em narrativas dos policiais André Batista e Rodrigo Pimentel, cria uma rede de episódios que revelam aspectos do comando, do treinamento e da atuação do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), Tropa de elite mantém a preocupação social de Padilha; agora, porém, o ponto de vista é o da polícia.
Não à toa que o atribulado Capitão Nascimento (Wagner Moura) tem esse nome. Nascimento - mesmo sobrenome do seqüestrador do ônibus 174 - é o fato que motiva o capitão a ouvir as súplicas da mulher, que está esperando um filho, e a pedir o afastamento do front do BOPE. Para isso, Nascimento precisa encontrar um substituto à altura de seu sangue frio e sua perícia operacional.
Aí que entram na história os "aspiras" André Matias (André Ramiro) e Neto (Caio Junqueira), dois amigos de infância que entraram na polícia repletos de ideais e boas intenções. Aos poucos, começam a ver como tudo funciona, mas não se rendem ao "sistema": permanecem honestos e dispostos a combater a corrupção. Os dois acabam selecionados para fazer o curso que permite a entrada no BOPE e, enquanto são avaliados pelo Capitão Nascimento, passam por experiências que causam mudanças de comportamento.
Talvez a mudança mais chocante ocorra com o aspirante André Matias, o bom moço estudante de Direito, que, para conviver no meio universitário de modo anônimo, faz vistas grossas quanto ao consumo de maconha pelos colegas. Boas cenas de violência e ação não faltam à Tropa de elite, mas uma das grandes cenas do filme se passa na sala da faculdade, em que André participa - inicialmente, calado - de um debate em que os policiais são tratados como corruptos. Outro complicador é a paixão de André por Maria (Fernanda Machado), que trabalha numa ONG encravada numa favela dominada por traficantes.
Na verdade, em Tropa de elite, as personagens têm importância secundária. O que vale é a "verdade por trás da ficção", ou seja, o quanto os episódios contados no filme retratam aspectos da realidade do meio policial. É a revelação dessa realidade espantosa que faz os espectadores terem a necessidade de falar e meditar sobre o filme.
Padilha iniciou sua carreira no mundo cinematográfico na produção de documentários, como Os carvoeiros (1999, com direção do britânico Nigel Noble) e Estamira (2004). Estreiou na direção com Ônibus 174 (2002), contando a história de Sandro Nascimento, autor do seqüestro que paralisou o Brasil em junho de 2000. Tropa de elite (2007) é seu primeiro filme de ficção.
Baseado no livro Elite de tropa, em que o antropólogo Luiz Eduardo Soares, inspirado em narrativas dos policiais André Batista e Rodrigo Pimentel, cria uma rede de episódios que revelam aspectos do comando, do treinamento e da atuação do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), Tropa de elite mantém a preocupação social de Padilha; agora, porém, o ponto de vista é o da polícia.
Não à toa que o atribulado Capitão Nascimento (Wagner Moura) tem esse nome. Nascimento - mesmo sobrenome do seqüestrador do ônibus 174 - é o fato que motiva o capitão a ouvir as súplicas da mulher, que está esperando um filho, e a pedir o afastamento do front do BOPE. Para isso, Nascimento precisa encontrar um substituto à altura de seu sangue frio e sua perícia operacional.
Aí que entram na história os "aspiras" André Matias (André Ramiro) e Neto (Caio Junqueira), dois amigos de infância que entraram na polícia repletos de ideais e boas intenções. Aos poucos, começam a ver como tudo funciona, mas não se rendem ao "sistema": permanecem honestos e dispostos a combater a corrupção. Os dois acabam selecionados para fazer o curso que permite a entrada no BOPE e, enquanto são avaliados pelo Capitão Nascimento, passam por experiências que causam mudanças de comportamento.
Talvez a mudança mais chocante ocorra com o aspirante André Matias, o bom moço estudante de Direito, que, para conviver no meio universitário de modo anônimo, faz vistas grossas quanto ao consumo de maconha pelos colegas. Boas cenas de violência e ação não faltam à Tropa de elite, mas uma das grandes cenas do filme se passa na sala da faculdade, em que André participa - inicialmente, calado - de um debate em que os policiais são tratados como corruptos. Outro complicador é a paixão de André por Maria (Fernanda Machado), que trabalha numa ONG encravada numa favela dominada por traficantes.
Na verdade, em Tropa de elite, as personagens têm importância secundária. O que vale é a "verdade por trás da ficção", ou seja, o quanto os episódios contados no filme retratam aspectos da realidade do meio policial. É a revelação dessa realidade espantosa que faz os espectadores terem a necessidade de falar e meditar sobre o filme.
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