Filme preferido do público em Toronto 2006, Bella é o longa de estréia do mexicano Alejandro Gomes Monteverde. Segundo alega superiormente o crítico Roger Ebert, ele "consegue entender" por que este filme foi a escolha popular e, em vez de dizer o que o filme é, prefere dizer o que não é: nem "profundo" nem "estúpido".
Puxa vida! O famoso resenhista não esclarece, porém, o que ele considera um filme "profundo" e um filme "estúpido". Filme profundo seria, talvez, aquele que possibilita leituras variadas, faz intertextos, gera reflexões, provoca o intelecto ao mesmo tempo que carrega ternura? Filme estúpido seria, talvez, a antítese do filme profundo, aquele que não possibilita leitura alguma, faz pastiches, não gera reflexão alguma, afronta o intelecto ao mesmo tempo que carrega repulsa? Profundo seria Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman? Estúpido seria Fome Animal, de Peter Jackson?
O raciocínio de que Bella "não é estúpido" soa-me uma tremenda estupidez.
Bella é bem mais do que apenas isso. Comparado com a maioria dos filmes atuais, Bella é um filme profundíssimo. Tipo do filme que dá vontade de cultuar e de ver repetidas vezes, assim como Lúcia e o Sexo (leia sobre o filme de Julio Medem em
(http://olharcinefilo.weblogger.terra.com.br/200305_olharcinefilo_arquivo.htm). Por sinal, Monteverde deve ter algum tipo de admiração por Julio Medem. Os dois filmes tecem retalhos intertextuais e sob certos aspectos abordam temas afins.
Em Bella, Jose (o carismático Eduardo Verastegui) trabalha como cozinheiro-chefe do restaurante de seu irmão Manny. No dia em que o exigente Manny despede Nina (Tammy Blanchard) por ter chegado a terceira vez com atraso ao trabalho, Jose abandona a cozinha e segue Nina. Os dois passam o dia juntos, numa jornada de conhecimento mútuo e revelações pessoais. Delicado e sensível, Bella merece a atenção de quem é capaz de apreciar cinema - desde os filmes mais profundos até os mais estúpidos.
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