Pois é. Eis-me aqui, o arauto do olhar cinéfilo, o defensor dos diretores oprimidos pelas críticas ferozes, na situação de estar prestes a me tornar um iconoclasta.
Guillermo del Toro é um diretor que acompanho e costumo apreciar o seu geralmente honesto pendor pelo fantástico, visto, por exemplo, em estranhezas como O labirinto do fauno e A colina escarlate.
Nada mais natural que eu me colocasse na posição de ficar torcendo para A forma da água levar o Oscar de Melhor Filme. Em se tratando de um cinéfilo que se considera coerente e fiel aos cineastas preferidos, isso seria mais do que natural. Seria naturalíssimo.
Só que não.
A forma da água é um pastiche de pretensas críticas
ao "sistema", um amontoado de cenas ansiosas para levantar bandeiras
e avisar: olhem só, eu sou politicamente correto!
Nessa vibe, Del Toro cria o
vilão mais estereotipado dos últimos tempos: machista, consumista, chauvinista,
torturador, militarista.
Torço mesmo para que, entre os 9 concorrentes, existam filmes melhores e menos "ansiosos" por
ganhar o Oscar do que Dunkirk e A forma da água.
Entre os favoritos, só falta assistir a Três anúncios para um crime,
que estreia dia 15 de fevereiro. Mas se fosse para escolher entre Dunkirk e A
forma da água, Dunkirk seria a minha escolha.
Por mais pretensioso que o
Christopher Nolan consiga ser, Dunkirk é um filme
infinitamente melhor que este conformado A forma da água.
Nem a boa atuação de Octavia Spencer como a amiga da moça muda salva o filme. Ela também é casada com um marido estereotipado, um estafermo feito sob medida para agradar as feministas.
Nem a boa atuação de Octavia Spencer como a amiga da moça muda salva o filme. Ela também é casada com um marido estereotipado, um estafermo feito sob medida para agradar as feministas.
Nem a caracterização de uma
indústria do cinema em recessão, perdendo o fôlego diante do fenômeno da
televisão salva o filme.
Nem a homenagem ao clássico O monstro da lagoa
negra (The creature from the black lagoon, 1954) salva o filme.
A
acusação de plágio não ajuda muito nesse contexto.
Let
Me Hear You Whisper, de Paul Zindel, tem um enredo no mínimo com elementos
semelhantes. Del Toro alega desconhecer a peça teatral sobre a senhora da
limpeza que tenta salvar um golfinho que é cobaia de laboratório. Mais informações sobre as flagrantes semelhanças das duas obras você pode encontrar neste post.
Certamente o diretor mexicano
não desconhece o conto A queda da casa de Usher, de Edgar Allan
Poe, no qual ele pode ter se inspirado para realizar A colina escarlate.
Confesso que fiquei esperando alguma menção tipo "inspirado na obra de
Edgar Allan Poe", mas talvez Del Toro tenha considerado desnecessário.
Acontece que no caso de A
forma da água estamos falando de direitos autorais em plena
vigência, enquanto a obra de Poe está em domínio público.
Vamos acreditar na palavra de Del Toro. Ele nunca ouviu falar antes dessa tal peça teatral. Mas será mesmo que nenhuma pessoa em toda a produção do filme não notou as flagrantes semelhanças entre as duas histórias? Smells like very unlikely.
O desinformado Del Toro realizou um filme repleto de ideias disformes: A forma da água.
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