domingo, julho 30, 2023

Oppenheimer

 Experiência de cinefilia da mais alta potência, caso o espectador seja realmente cinéfilo e faça o esforço para assistir ao filme em um cinema com tecnologia IMAX.

Após Dunkirk, a minha relação com o cinema de Christopher Nolan já havia entrado em uma nova e mais apreciativa fase.

Com Oppenheimer sou obrigado a tirar o chapéu para o cineasta e dizer que agora ele fez algo realmente admirável.

Levar hordas de jovens ao cinema para assistir a um drama em que os diálogos são a base de sustentação do filme é sem dúvida uma façanha digna de nota e que ajuda a criar novas gerações de cinéfilos pensantes.

Já quanto às gerações de cinéfilos mais céticas e maduras, o potencial do filme é outro, ainda mais notório.



O filme de Nolan é daqueles capazes de levar um cinéfilo ao "êxtase de cinefilia", um estado em que os sentidos ficam supridos de imagens, sons, palavras, gestos, sentimentos, tudo em um nível soberbo.

O tema é palpitante em sua superfície, mas Nolan consegue imergir o espectador em vários aspectos do universo da trajetória do físico que comandou o Projeto Manhattan, e faz isso com muito talento e aproveitando ao máximo as oportunidades visuais.

O roteiro é um primor e dificilmente poderia ter uma vírgula tirada ou acrescentada.

Oppenheimer é a obra-prima de Nolan, seu melhor trabalho, e pelo qual receberá mais louros.

O elenco entrega um trabalho magnífico, e temos vários candidatos a indicações a Oscar.


Cillian Murphy sempre fez boas atuações (vide Ventos da liberdade de Ken Loach), mas em Oppenheimer mostra o mesmo que o diretor, um misto irresistível de inspiração e maturidade.

Sim, esse é o tipo de filme capaz de levar o cinéfilo ao êxtase.

E se alguém aí pensa em ver o filme em uma sala que não for IMAX, assista ao featurette a seguir e repense o seu plano:





quinta-feira, julho 13, 2023

Indiana Jones e a relíquia do destino

 Eis o tipo de filme que entrega o que promete.
 

Fãs da franquia, saudosos por um filme de aventura com fundo arqueológico-científico, e, de quebra, com brechas e viagens no tempo, sairão do cinema plenamente satisfeitos.




Recém-chegados e novatos ansiosos por criticar, seja lá por que motivo, terão também um prato cheio para se deleitar: "os furos" do roteiro, as cenas proverbialmente absurdas, a falta disso, a sobra daquilo.

Então, Indiana Jones alcança em seu quinto filme uma nova proeza: agradar e desagradar a gregos e troianos, romanos e cartagineses.

Uma coisa vai ser difícil para os detratores e críticos e sua postura blasé: criticar o "casting" e a presença forte da atriz Phoebe Waller-Bridge na pele de Helena Shaw, e também a do francês Ethann Isidore, que encarna Teddy Kumar, o garoto marroquino fiel escudeiro de Helena em suas peripécias.

Charmosa e carismática, Phoebe é a coadjuvante ideal para Harrison Ford brilhar novamente como um de seus personagens mais icônicos.  




Outros pontos fortes do filme são a recriação de um ano específico no tempo, no caso, 1969, de um modo cuidadoso e minucioso, com uma direção de arte e figurinos maravilhosos; a presença de Antonio Banderas como o capitão do barco caçador de tesouros; e múltiplos detalhes mirabolantes do roteiro, envolvendo uma figura importante da Matemática: Arquimedes (287-212 a.C.), o cientista que ao entrar numa banheira descobriu o princípio do empuxo e saiu pelado nas ruas gritando "Eureca!" (Descobri!). 




E justamente essa ânsia de gritar "Eureca!", de fazer novas descobertas, que move as psiques de Helena Shaw e de Indiana Jones, cada um por motivos aparentemente distintos: a primeira, para ganhar dinheiro; o segundo, por paixão.

No frigir dos ovos, e no fundo, no fundo, porém, Helena também traz em seu espírito um sopro de idealismo, e é nessa ambiguidade que se constrói a relação entre padrinho e afilhada.


O título em inglês, The Dial of Destiny, foi vertido pragmaticamente no título nacional como "Relíquia do destino".

Dial é um termo técnico demais para um título. Ao longo do filme, na dublagem, o termo foi traduzido como "mostrador".

Os distribuidores apelaram para o batido e genérico "relíquia".

Algo que era específico se torna vago, e é isso que os "críticos" do filme têm feito.

Deixam de lado tudo que a franquia tem de especial e mágico para se ater às banalidades de quem adora criticar só por criticar.

Um programa dominical com a família, comprar ingressos e pipoca, foi isso que o diretor James Mangold nos proporcionou com louvor.