O melhor antídoto para um filme muito ruim é um filme muito bom.
Lançado em 2022, o documentário de Giuseppe Tornatore, o cineasta de Cinema Paradiso, é um excelente resumo da trajetória do compositor Ennio Morricone.
Um invejável rol de cineastas significativos desfila ao longo de 2h30, alguns em entrevistas especiais para o longa, como Clint Eastwood, Liliana Cavani, Bernardo Bertolucci, Roland Joffé, Tarantino e os irmãos Taviani, outros em imagens de bastidores, como Sergio Leone, Brian De Palma e Terrence Malick.
Pessoas do meio acadêmico, colegas compositores, críticos, cantores, cantoras, produtores musicais e produtores de cinema, enfim, muita gente boa vem dar o seu depoimento e ajudar a contar a história de Ennio Morricone.
Começou a estudar trompete por determinação paterna, Ennio na verdade queria ser médico. As origens humildes, quando o dinheiro da música mal dava para a alimentação, não o deixaram esmorecer.
Matriculado em uma das escolas de músicas mais bem conceituadas da Europa, a Academia Nacional Santa Cecília de Roma, Ennio foi se tornando um profissional do trompete, mas se encontrou mesmo quando começou a estudar composição, incentivado por professores que perceberam o seu talento.
Após concluir os estudos trabalhou em várias funções, mas começou a se destacar como arranjador da RCA Victor, fazendo arranjos inventivos e muito populares para gente como Paul Anka, vide a canção "Ogni Volta":
Ali Ennio já mostrava uma queda por frases musicais melódicas e desconcertantes, que mais tarde fariam parte de seu estilo inconfundível nas trilhas sonoras para filmes, gênero em que se tornou especialista.
A estreia no cinema se deu aos 33 anos e inicialmente sofreu com a crítica dos pares, que arrogantemente desdenhavam esse tipo de composição, considerando uma atividade indigna de um compositor de verdade.
A grande habilidade de escolher os acordes e a música certos para cada cena, o dom de entender a psicologia de cada realizador, tudo isso Ennio foi mostrando e aprimorando, mas o grande talento sempre esteve à mostra, desde o começo.
Prova disso é o quanto é difícil para quem conhece suas trilhas escolher uma década preferida.
A década de 60, com as trilhas de Por um punhado de dólares, O vingador silencioso, Três homens em conflito e Era uma vez no Oeste?
A decada de 70, com as trilhas de Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita, Sacco & Vanzetti e Allonsanfàn?
Ou a de 80, com A missão, Os intocáveis e Cinema Paradiso?
O filme de Giuseppe Tornatore abrange todas as fases, inclusive as mais recentes, em que Tarantino o convidou para fazer a trilha de Os oito odiados, ironicamente, a que lhe valeu seu único Oscar de Melhor Trilha Sonora Original, trilha que segundo o próprio Ennio marca uma ruptura ou "vingança" dos filmes de faroeste, pois compôs uma sinfonia completa.
A colaboração com a cantora portuguesa Dulce Pontes também ganha destaque no filme, e a influência da obra de Morricone na música pop e no rock, em samplings e covers de bandas como Metallica.
Bruce Springsteen e Pat Metheny declaram no documentário a influência de Morricone em suas respectivas carreiras e a sua admiração pela obra dele.
Emocionante e esclarecedor, Ennio, o maestro é um filme imperdível para quem ama cinema.
Bônus:
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