domingo, janeiro 22, 2006

As loucuras de Dick e Jane


A premissa até não é ruim: analisar, pelo lado cômico, a situação vivenciada por funcionários de grande conglomerado empresarial que, embora apresente balanços lucrativos, está à beira da falência. Dick (Jim Carrey) é promovido a VP de comunicação de sua empresa. No primeiro dia na nova função, porém, é bombardeado em rede nacional de TV por uma série de perguntas para as quais ele não tem resposta. Neste meio tempo, a esposa, por sugestão dele, pede demissão do trabalho. A empresa de Dick vai à bancarrota e o casal vê-se desempregado, com um filho e uma empregada para sustentarem. O tempo vai passando e nenhum dos dois consegue novo emprego. O filme padece do principal problema atual das 'comédias' americanas: as situações são forçadas, o humor é exagerado, e as risadas são mínimas.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Querida Wendy


Com locações na Dinamarca e Suécia, produzido na Alemanha, Querida Wendy tem estreia nacional nesta sexta-feira. Conta o relacionamento entre Dick (Jamie Bell, de Billy Elliot) e sua amiga Wendy. A delicada, bonita e sensual Wendy. O filme começa numa situação quase final (Dick escrevendo uma carta para Wendy), explica o que aconteceu para tudo chegar naquele ponto, para então desembocar na desconcertante seqüência desenlace.
Assustados com a violência crescente na cidade, adolescentes pacifistas de Etherslope, pequena cidade do sudeste americano, sem o conhecimento do xerife da cidade (Bill Pullman), criam grupo de encontro semanal numa indústria abandonada com o paradoxal objetivo de estudar armas de fogo. Autodenominam-se ‘Dândis’, treinam tiro-ao-alvo, assistem a vídeos de medicina forense, fazem manutenção dos revólveres e pistolas e fortificam suas individualidades, prometendo nunca brandir as companheiras em público. Quando um integrante novato do grupo comenta que a avó Clarabelle quer visitar a tia, mas não o faz por medo e insegurança, os Dândis resolvem fazer um esquema de segurança para ajudar Clarabelle.
O roteiro distingue-se pela lentidão, ou falta de pressa, em fazer engrenar a história; o modo com que as coisas que se esperam acontecer não acontecem; o modo com que a realidade acaba se sobrepondo à fantasia; o modo com que a violência e o uso de armas são abordados e a maneira como é dada importância à trilha sonora, que inclui a canção de 1968, Time of the Season, dos Zombies.
Dirigido por Thomas Vinterberg e escrito por Lars Von Trier, dinamarqueses integrantes do Dogma 95, movimento que, pela autenticidade e despojamento, agitou o cinema underground nos anos 90, Querida Wendy pode ser visto ou como um faroeste – os Dândis podem ser um moderno contraponto do bando selvagem retratado em Meu Ódio Será Sua Herança, ou uma nova versão dos ‘mocinhos’ do clássico de John Sturges, Sete Homens e Um Destino (com a diferença que os Dândis são cinco caras e uma guria), ou ainda um drama de adolescentes desajustados, na linha de Vidas Sem Rumo e O Selvagem da Motocicleta. Seja sob qual o prisma, quer você imagine que o filme é uma ‘fábula’ ou uma crítica ao comportamento americano em relação às armas, quer não, Dear Wendy parece ter sido concebido – e tem estofo - para se tornar um pequeno cult.

sábado, janeiro 07, 2006

Domino



Richard Kelly, o diretor e roteirista de um dos filmes mais cultuados do novo século (Donnie Darko), assina o roteiro do novo filme do maninho de Ridley - Tony Scott. Enjoada da vidinha de estudante e moradora de Beverly Hills, Domino (a engraçadinha Keira Knightley) chuta o balde e se une a dois caçadores-de-foragidos-da-justiça (Edgar Ramirez e Mickey Rourke, este em nova ascensão na carreira) para fugir do tédio, despejar adrenalina no sangue e, de quebra, exercer o espírito de Robin Hood. O que seria mais um conto de uma moça-mimada-rebelde-sem-causa torna-se, nem tanto pela direção habitualmente segura de Scott, e mais pela originalidade do roteirista Richard Kelly, num material passível de promover a ingestão de algumas pipocas num sábado à tarde numa cidade do interior num tórrido mês de janeiro.

A passagem


Marc Forster nasceu em Ulm, na Alemanha, mas foi criado no bucólico interior da Suíça. Quando, aos 12 anos, assistiu um filme pela primeira vez (Apocalypse Now, na televisão), resolveu ser diretor de cinema. Sua filmografia densa inclui Everything Put Together (2000), história de uma mãe que luta para se recuperar da perda trágica do filho; A Última Ceia (Monster’s Ball, 2001, que valeu o Oscar de Melhor Atriz a Halle Berry), sobre uma mulher que se envolve com o policial que executou o marido no corredor da morte – uma das cenas mais fortes do filme é o suicídio do personagem de Heath Ledger; e em 2004, Finding Neverland (Em Busca da Terra dos Sonhos), em que a mãe de quatro filhos está com os dias contados. Diga-se de passagem: em 1998, no período de três meses, Forster perdeu pai, avó e irmão (este, por suicídio).
A obsessão do diretor Marc Forster por temas mórbidos permanece em Stay (A passagem, 2005), onde Henry Letham (Ryan Gosling) é um estudante de Belas Artes que confessa, na quarta-feira, ao psiquiatra substituto (Ewan McGregor), que pretende suicidar-se no sábado à meia-noite. O psiquiatra conta o fato à sua namorada de cicatrizes nos pulsos (Naomi Watts), pessoa indicada para tentar ajudá-lo a evitar que Henry cumpra o prometido. O roteiro é um jogo de xadrez com o espectador, que nunca sabe o que é verdade ou delírio. Pelas cenas oníricas e detalhes enigmáticos, o filme lembra o cult belga Malpertuis, com Orson Welles. Diálogos desencontrados, atos falhos, dúvidas recorrentes, gêmeos incidentais, visões fantasmagóricas e conversas surreais, tudo costurado por fusões ágeis e uma câmera dinâmica, mantêm o interesse até a sequência final – que pretende ser explicativa, mas provoca uma série de questionamentos.