O diretor italiano Giuseppe Tornatore (nascido em 1956) logo em seu segundo filme alcançou um sucesso descomunal. O Oscar de Melhor Filme Estrangeiro abiscoitado por Cinema Paradiso (1988) alavancou a carreira incipiente para um patamar talvez inesperado para o jovem realizador. O mais recente filme de Tornatore mostra as muitas qualidades aprimoradas em uma sólida carreira como roteirista e cineasta. Porém, dá margem a algumas críticas, em especial, por indícios de megalomania.
Por exemplo, ao terminar o filme, aparece o nome do diretor em letras garrafais. Como se ele tratasse o próprio nome como grife ou marca. Nada de "dirigido e roteirizado por", apenas "GIUSEPPE TORNATORE". Em sua defesa, poder-se-ia dizer que, em se tratando de cinema autoral, o mérito artístico é e sempre foi atribuído ao cineasta. Tornatore apenas arrumou um meio mais escancarado de chamar a atenção para isso. Deixando essa discussão de lado, a pergunta que eu quero responder aqui é: valeu a pena passar 150 minutos de minha vida no cinema para assistir a Baarìa, a porta do vento (2009)?
Confesso que a resposta também merece letras garrafais: SIM!
O filme abarca três gerações da família Torrenuova, natural de Bagheria, localidade próxima a Palermo, na Sicília. A ênfase é em Giuseppe Torrenuova (Francesco Scianna), conhecido pelos familiares como Peppino. Giuseppe na juventude se filia ao Partido Comunista e vive aventuras e desventuras tentando se eleger deputado, ao mesmo tempo em que casa com Mannina (a insinuante Margareth Madè) e cria uma penca de filhos. As ideias políticas de Giuseppe vão se tornando mais amenas ao longo de sua vida para, no final, tornar-se um "reformista". Que, segundo a descrição de Peppino, é alguém que aprendeu que não adianta dar murro em ponta de faca. Mas a faceta política do filme não chega a ser aprofundada. O filme nem de longe lembra a densidade e o engajamento de um Ken Loach, por exemplo. O approach de Tornatore é mais suave, com um senso de humor apurado e transições rápidas entre um episódio e outro. Devido ao dinamismo do roteiro e da montagem, o espectador nem sente o tempo passar. Isso, por si só, já credencia e explicita a qualidade da película. Momentos divertidos e ternos não faltam. A trilha musical inconfundível vem do talento de Enio Morricone. Mas que ninguém vá ao cinema para ver Monica Belucci. Ela só faz uma pontinha na cena em que alunos de uma escola param a aula para espiar um pedreiro aos beijos com uma linda mulher num prédio em construção.
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