Daisy Miller, de acordo com Italo Calvino, em Por que ler os clássicos (Companhia das Letras, tradução de Nilson Moulin), é, na obra de Henry James, "(...) um dos textos mais claros, com uma personagem de moça cheia de vida, que explicitamente aspira a simbolizar a falta de preconceitos e a inocência da jovem América. Contudo, é um conto não menos misterioso que outros desse autor introvertido, inteiramente tecido como é pelos temas que se apresentam, sempre entre sombra e luz, ao longo de toda a obra."
No Brasil, os leitores não podem se queixar: a noveleta de Henry James tem no mínimo três traduções no mercado: a da Imago (Daisy Miller e um Incidente internacional, 1991) (tentei durante meia hora descobrir o nome da tradutora na Internet mas não achei, o que só comprova o quanto é desvalorizado este nobre ofício), a da L&PM, minha estreia como tradutor (A volta do parafuso seguido de Daisy Miller, 2008) e a da Armazém Digital (de Ana Maria Simeão Funck).
Lembro que, enquanto eu traduzia a noveleta, trabalho realizado dentro da Oficina de Tradução Literária de Beatriz Viégas-Faria, tive a oportunidade de assistir ao filme homônimo, dirigido por um dos diretores mais imprevisíveis de Hollywood: Peter Bogdanovich, cara que assina desde excelentes películas até outras no mínimo pouco tragáveis.
O filme realizado em 1973 é uma adaptação bem decente da noveleta, com destaque para atuação da então namorada e musa do diretor, Cybill Shepherd. Abre parênteses para uma fofoca. Por sinal, a atriz, em sua autobiografia (Cybill Disobedience: How I Survived Beauty Pageants, Elvis, Sex, Bruce Willis, Lies, Marriage, Motherhood, Hollywood, and the Irrepressible Urge to Say What I Think), revela ter traído o diretor durante as filmagens, com um produtor careca. Talvez o sexto sentido do diretor (sim, homens também pressentem quando estão sendo traídos) tenha até ajudado para que ele imprimisse à película certa melancolia que enriqueceu a obra. Melancolia que, diga-se de passagem, está presente nas páginas de James, na amargura e na inação de Winterbourne (interpretado no filme por Barry Brown, ator que pouco depois acabou se suicidando), o americano com modos europeus que não consegue dar o braço a torcer à paixão que sente por Annie P. Miller, a Daisy. Quem quiser saber como eu traduzi a célebre frase que resume a personalidade da personagem protagonista (I'm fearful frightful flirt!) pode adquirir o exemplar 669 da L&PM pocket.
Olá Henrique...
ResponderExcluirSei que este post é de 2010... mas só agora que fiz um estudo sobre a obra. Gostei muito da sua postagem e da curiosidade despertada em relação a tradução da expressão.
Ah, e o nome da tradutora da obra em 1991 é Onélia Célia Pereira de Queiroz.
Abraços.
Oi, Luana, obrigado pelo comentário e pela informação sobre a tradutora! Abraço.
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