domingo, janeiro 28, 2018

O touro Ferdinando

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The Story of Ferdinand é um livro publicado a primeira vez em 1936, escrito por Munro Leaf com ilustrações de Robert Lawson. É um livro bem simples, com poucas palavras por página e ilustrações discretas em preto e branco.





A história cativou as crianças e o livro se tornou um sucesso, chamando a atenção dos estúdios Disney. Em 1938, chegou às telas o curta-metragem Ferdinando, o touro, que levou nada menos que o Oscar de Melhor Animação em Curta-Metragem.

Poster for Ferdinand the Bull

O curta dirigido por Dick Rickard é bastante fiel ao livro, com uma ou outra diferença. No livro, Ferdinando é um touro malhado. No curta, é um touro preto. E na cena final na arena também há algumas pequenas diferenças. Mas, em geral, é praticamente a mesma e singela história.



Oitenta anos depois, O touro Ferdinando está de volta, agora em formato de longa-metragem. Os roteiristas fizeram um trabalho bastante criativo em aproveitar a essência dos elementos do livro de Leaf e Lawson, e, ao mesmo tempo, criando personagens coadjuvantes, acrescentando situações, enfim, permitindo que o grande potencial do personagem Ferdinando aflorasse e florescesse.

Sim, a escolha do verbo "florescer" não foi por acaso: Ferdinando, o touro criado por Munro Leaf, tem como principal característica gostar de se sentar quietinho e cheirar o perfume das flores.

No canteiro, no telhado, por todos os lados... Ferdinando as detecta, as admira, as fareja. Há flores em tudo o que Ferdinando vê, mas nem tudo são flores na vida do tourinho. O perspicaz bovino percebe o destino que o espera e resolve fugir, e acaba adotado por uma garotinha chamada Nina. E o que mais agrada Nina? É o que faz ela dizer: eu vejo flores em você, Ferdinando.



O touro Ferdinando (2018) prova que não só as flores de plástico não morrem. As flores com aroma verdadeiro eternamente se renovam. Por isso, não é à toa que o filme de 108 minutos dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha concorreu ao Globo de Ouro (perdeu para Viva, a vida é uma festa, da Pixar) e também vai concorrer ao Oscar de Melhor Animação no dia 4 de março. 

À parte a competência técnica da Blue Sky Studios na parte gráfica e no 3-D, os maiores trunfos de O touro Ferdinando são realmente o excelente trabalho de adaptação (que explorou outros aspectos do personagem e criou mil e uma peripécias para o herói taurino) e a tarimbada direção de Saldanha.


terça-feira, janeiro 23, 2018

Assassinato no Expresso do Oriente

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Beiraria o ridículo uma pessoa que gosta de cinema e de Agatha Christie escrever um post para citar os escancarados defeitos do filme Assassinato no Expresso do Oriente, do diretor Kenneth Branagh. Muita gente supostamente entendida já criticou o ator shakespeariano por ter se autoescalado para encarnar o icônico detetive Hercule Poirot. Com títulos engraçadinhos como "O culpado é Kenneth Branagh", esses textos se concentram no que não funciona no filme. Como sói acontecer na maioria das vezes, 
vou tentar fazer o contraponto.
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O filme é um road movie às avessas com cenas pitorescas do trajeto do famoso trem. O roteiro apresenta sucintamente vários personagens que terão relevância na trama e, como o tempo é um fator limitante na produção, espera o trem andar para tudo se ajeitar, na melhor tradução para o ditado brasileiro "Quando a carroça anda é que as melancias se ajeitam".
Nessa garbosa carroça de Kenneth Branagh, porém, é preciso reconhecer, nem todas as melancias se ajeitam, é verdade. Mas temos algumas soluções gráficas interessantes que resultaram em cenas de pura ação vividas pelo detetive cuja arma principal são as células cinzentas.

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E os percalços do caminho sublimam-se na bem realizada sequência final, a sempre clássica cena que se repete em quase todos os romances policiais de Agatha Christie protagonizados por Poirot. O belga reúne todos os suspeitos e vai desafiando uma a uma das possibilidades até revelar a verdade. 
No frigir dos ovos, Assassinato no Expresso do Oriente é uma iniciativa louvável de colocar a obra de Agatha Christie em foco. Com elenco e figurino de luxo, uma direção obcecada com os detalhes e efeitos especiais de última geração, o filme de Kenneth Branagh insufla uma revigorante lufada de ânimo na imortal obra da Dama do Crime.  

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Jumanji - Bem-vindo à selva


O filme de Jake Kasdan (filho do também diretor Lawrence Kasdan) aproveita os pontos fortes do roteiro para apresentar um consistente entretenimento. As atuações do elenco múltiplo (os 4 protagonistas são interpretados cada um por 2 atores diferentes) permitem que a história se desenvolva em vários níveis, em um típico filme "para toda a família", com destaque para as tiradas cômicas.

Falando em cenas engraçadas, Jack Black é o cara. O experiente ator arrasa na pele de um avatar, Shelly Oberon, escolhido por Bethany, uma das adolescentes que é sugada pelo velho e misterioso jogo Jumanji. Uma patricinha na pele de um coroa barrigudinho é uma situação bem esquisita, e Jack Black valoriza ao máximo as estranhas circunstâncias enfrentadas pelo personagem.



Uma turma de 4 alunos por diferentes motivos disciplinares acaba na sala do diretor da escola. São enviados a uma sala estranha, parecida com um depósito, com o objetivo de cumprir uma penalidade, ou seja, fazer uma tarefa estipulada. Muito apropriadamente no local está o tal jogo, e, sem mais delongas, os 4 escolhem seus avatares e são sugados para outra dimensão.

O enredo envolve esse "drama" divertido de ter que completar o jogo com apenas três vidas à disposição e, de quebra, desvendar outros enigmas importantes ocultos no universo de Jumanji.

Outro que mostra bom humor é Dwayne Johnson. Tendo de interpretar "um personagem por trás do personagem", não decepciona os fãs, muito pelo contrário.



Por sua vez, o diretor Jake Kasdan dá o passo mais seguro de sua carreira um tanto oscilante. Será que agora vai?

segunda-feira, janeiro 15, 2018

Dolores

Quem acompanha este blog sabe que volta e meia escrevo uma "matéria" off-topic sobre alguma banda que aprecio ou algum show que tenho a sorte de presenciar. Hoje, o
olhar cinéfilo homenageia uma voz que vai continuar arrepiando muita gente, por muito tempo.



domingo, janeiro 14, 2018

Filhas das trevas




Filhas das trevas
a.k.a. Escravas do desejo (Daughters of Darkness ou Les Lèvres Rouges, 1971),  filme do diretor belga Harry Kümel (Malpertuis), aborda vampirismo e lesbianismo com apuro estético e elegância quase insuperáveis. O enredo investiga a mítica personagem húngara Condessa Elizabeth de Báthory (Delphine Seyrig), que demora um pouco para entrar em cena.



Um casal em lua-de-mel se hospeda num hotel deserto à beira-mar na cidade de Ostende. Enquanto aproveita a estadia, os dois acompanham pelos jornais as notícias sobre mortes seriais de moças que são encontradas sem uma gota de sangue no corpo. Uma das mortes ocorre em Bruges, e o casal aproveita para visitar a cidade. De volta ao hotel, aumenta o suspense quando chegam mais duas hóspedes misteriosas. O concièrge reconhece uma delas, a Condessa Bathory, que teria se hospedado no hotel há quarenta anos. Com um detalhe: ela não envelheceu nesse período.

A condessa Bathory é interpretada pela grande atriz francesa Delphine Seyrig, com figurinos perfeitos para sua silhueta esguia. Ela transcorre o filme inteiro com um sorriso nos lábios, sussurrando suas falas, a voz meiga, as atitudes suaves, contrastando com o mistério que parece esconder. O marido também esconde algo da esposa, pois pede ao concièrge mentir que não consegue ligar para alguém que seria sua "Mamma". Nesse meio-tempo, as duas sinistras, porém sensuais recém-chegadas se interessam imediatamente pelo casal que já estava hospedado no hotel, e a partir daí o filme desenvolve um jogo de atração e erotismo entre os quatro personagens, pontuado por interesses e necessidades orgânicas mais fortes que o desejo sexual.




A alemã Andrea Rau interpreta Ilona, a acompanhante da condessa. Ela tem o cabelo moreno curto e olhos claros. Experiente em filmes eróticos, a sedutora morena estrela 
algumas das cenas mais sensuais do filme. Ela faz um depoimento nos extras elogiando o belga Harry Kümel, que teria sido muito meticuloso em suas instruções para ela viver a personagem. Por sua vez, o comentarista de filmes Alex Good fala que adora a atuação da atriz neste filme.
Já Danielle Ouimet, a loira que vive a pombinha Valerie, declara que Filhas das trevas foi o melhor dos treze filmes que estrelou, mas afirma ter sido esbofeteada por Kümel e que o diretor belga lhe deixava perdida, pois nunca dava instruções claras. Por incrível que pareça, acho que as duas atrizes podem estar falando a verdade.

Das duas, uma: ou Kümel quis propositalmente deixar a atriz perdida, pois realmente Valerie, a recém-casada, é a mais frágil e mais "vítima" na história, ou o problema de relacionamento que surgiu entre os dois devido a um atraso da loira no set impediu que a comunicação se tornasse mais franca, e a leitura disso por Danielle foi a de que Kümel queria inovar a cada tomada, em vez de dar ordens precisas sobre o que ele queria.

Seja como for, até mesmo a atriz que teve problemas com o diretor reconhece que o filme marcou sua carreira em vários sentidos, e que costuma visitar o túmulo de Delphine Seyrig, de quem se tornou amiga no set.

Deixando à parte essas questões sobre a realização do filme, analisando apenas o produto, assistido em pleno 2018: trata-se de um filme de cadência lenta, com poucas cenas de sangue. Tudo é involucrado em um véu de mistério, e a história é contada mais com base no implícito do que no explícito. Arrisco a dizer que Filhas das trevas se tornou um cult justamente por isso. A parcimônia em termos de locações e de elenco é contrastada nos cuidados técnicos, na fotografia, figurino e música. Foram essas cenas estudadas milimetricamente para abordar com delicadeza vampirismo e lesbianismo que tornaram Filhas das trevas um clássico do horror erótico.

Trailer do filme:


quinta-feira, janeiro 11, 2018

O importante é amar


Conforme prometido, dei uma nova chance ao diretor de origem polaca nascido na Ucrânia Andrzej Żuławski. Ou seria melhor afirmar: dei a mim mesmo uma nova chance de conhecer de verdade a obra desse controvertido diretor.

Escolhi um filme dele anterior a Possessão, o filme que me provocou uma intensa repulsa anos atrás. A propósito, quando terei coragem de rever Possessão? Talvez nos próximos dias. Talvez até o fim de 2018. Talvez só depois de obter um panorama da obra de Andrzej Żuławski. O tempo dirá. Seja como for, já sei também o motivo de toda aquela rejeição.


Andrzej Żuławski é o diretor antipossessivo por excelência. Em seus filmes, todo e qualquer sentimento de ciúme e possessividade é ridicularizado sem dó nem piedade. Disso resulta que uma categoria importante de personagens zulawskianos sejam maridos patéticos, peripatéticos. Vide o personagem de Sam Neill em Possessão e o Jacques Chevalier de O importante é amar (Jacques Dutronc, em uma atuação memorável).


O importante é amar, filme realizado por Andrzej Zulawski em 1975, em última análise é um estudo de personagens que poderia ser rotulado de "triângulo amoroso". Algo não muito diferente do que ele realizaria em Possessão (1981). Com um talento acachapante para criar personagens femininas ambíguas e misteriosas, Zulawski cria em seus filmes as condições ideais para aflorar o talento das atrizes. Neste filme brilha Romy Schneider, como Nadine Chevalier, a atriz de filmes pornôs que é um dos vértices deste bizarro triângulo amoroso.


Na segunda ponta está Jacques Dutronc, que interpreta Jacques, o engraçado marido de Nadine. Sob todos os prismas, as atitudes de Jacques são pautadas por um intenso amor por Nadine, e, ao mesmo tempo, um reconhecimento da incapacidade de satisfazê-la, ou de entendê-la, ou de ser suficiente para ela. O marido de Nadine protagoniza cenas bizarras em todo o filme, entre elas, uma cena em que ele prepara café, e aparece um grande frasco de Nescafé, e outra em que ele imita Napoleão.

Na terceira ponta está outra alma desolada, Servais Mont, interpretado pelo italiano Fabio Testi, fotógrafo e cinegrafista de filmes pornôs que (na minha leitura) se apaixona perdidamente por Nadine, mas não consegue lidar com isso, com o fato de ela ser casada. Klaus Kinski tem seu momento no filme como o ator shakespeariano que não aceita críticas negativas. 



Sem quase nunca tirar a jaqueta verde ao longo do filme, Servais resolve interceder ao pegar dinheiro emprestado para financiar uma peça teatral, desde que Nadine seja a estrela e que ela não saiba sobre a sua intervenção. O personagem oscila ao longo da história entre o pudor de estragar um casamento, a vontade de ficar com Nadine e a dependência financeira de um despudorado curador de filmes eróticos, que não aceita a decisão de Servais de se afastar das filmagens.

Nesse meio-tempo, Zulawski move sua câmera pelos cenários e nos retrata o curioso e avassalador entrelaçamento do destino desses personagens. O principal ambiente é a sala transformada em quarto pelo casal Chevalier, forrada de pôsteres de filmes, como East of Eden (Vidas amargas, com James Dean) e Le Fils de Zorro. O site Films in Films traz uma lista de todos os pôsteres expostos na mencionada sala.
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É muito fácil se viciar neste filme, basta terminar de assisti-lo que já dá vontade de recomeçar a revê-lo, nem que seja para tentar ampliar as interpretações sobre os atos de cada um.

Mas é justamente isto que torna tão especial O importante é amar: Andrzej Żuławski não julga ninguém, não quer defender nenhum ponto de vista, apenas mostrar a angústia de ser humano, demasiadamente humano.

Sentimentos contraditórios são expostos e decupados, atitudes incompreensíveis são retratadas sem necessidade de explicar nada, afinal, a vida é como ela é, existem pessoas imprevisíveis, pessoas que podem ser rotuladas de "loucas" por sua inconstância, volubilidade e ambiguidade.

Por isso que o cinema de Andrzej Żuławski não é facilmente deglutível para quem espera um posicionamento prévio, um preconceito, um ato falho.

Como bônus do post, uma coleção dos pôsteres deste filme incongruentemente desconcertante... ou seria desconcertantemente incongruente?









domingo, janeiro 07, 2018

A última onda


Considerado por muitos um clássico do cinema australiano, A última onda (1977) é o terceiro longa-metragem de Peter Weir, após The Cars that Ate Paris (1974) e Picnic at Hanging Rock (1975). Clássico ou não, é um filme raro em todos os sentidos. Raro de se conseguir: apenas locadoras de grande acervo dispõem desse título, pouco procurado pelo "público em geral". Tipo do filme destinado a mofar nas prateleiras até que apareça alguém interessado nele, coisa que só ocorre... raramente. 
Rara também é a construção da película, rara é a atuação de Richard Chamberlain, raros são os temas abordados, rara é a mescla de atores aborígenes com os australianos brancos. Outra raridade é a esotérica trilha sonora, que nos remete a um clima fantástico, a uma bizarrice que permeia a história e, cena após cena, vai dominando o espectador.



Chamberlain vive David Burton, um advogado tributarista que tem uma rotina tranquila em uma metrópole australiana, na companhia da esposa, das duas filhas e do padrasto, um pacato pastor. Mas essa falsa aparência de tranquilidade aos poucos será desmantelada por fatos extrínsecos e intrínsecos ao personagem. Mudanças climáticas começam a se manifestar. Tempestades, granizo, chuva negra. Paralelamente, um aborígene aparece morto e um grupo de cinco homens, também aborígenes, é considerado suspeito.
Burton é convidado a coordenar a defesa dos réus. Isso serve para desencadear uma série de sonhos e visões no contido advogado, que desperta no meio da noite em sobressaltos premonitórios. Com o andar da investigação, ele se convence de que os aborígenes são inocentes, e que a morte envolve feitiçaria tribal, perpetrada por Charlie, um estranho líder espiritual dos aborígenes.



O choque cultural é extremo em cenas como o jantar na casa dos Burton, ao qual Chris, um dos aborígenes, é convidado, levando junto com ele o misterioso Charlie. E também na proverbial sequência de tribunal, único momento em que o filme ameaça tornar-se um pouco acadêmico. Mas a cena é rápida e serve para mostrar um júri todo composto por descendentes de europeus julgando os aborígenes.
Em 66 minutos, A última onda aborda, com rara ousadia, assuntos palpitantes como misticismo espiritual, fragilidade ambiental, contraste cultural, preconceito racial e transformação pessoal. Um dos pontos altos de sua fase australiana, The Last Wave é um bom exemplo do cinema de Peter Weir, um adepto dos "finais abertos".



Sobre The Last Wave, o escritor Andrew Nette afirmou que o filme "mina nossas certezas culturais, induzindo-nos a contemplar a existência de algo mais profundo e mais poderoso sob o exterior da Austrália branca".
Por sua vez, na introdução da obra The films of Peter Weir, Jonathan Rayner resume a dimensão da obra do diretor australiano, que, como Almodóvar, também não frequentou escola de cinema:

"A obra de Weir exibe uma unidade estilística na qual os conceitos de autoria europeus e americanos convergem. A carreira dele é marcada por um estilo europeu de autoria de filmes artísticos, com base em escritos pessoais e expressão visual, na Austrália, e por um estilo americano de autoria, com base na revisão de gêneros, em Hollywood. Nas duas fases, uma consciência sobre as convenções dos gêneros (da indústria hollywoodiana e do gênero de filmes artísticos) elucida temas e preocupações pessoais articulados por uma expressão visual individual. Dono de um estilo idiossincrático e versado na modificação dos gêneros, Weir estava bem preparado para entrar no establishment de Hollywood no começo dos anos 1980, época em que a indústria estava repleta de diretores americanos que também reconheciam a influência do filme de arte europeu e buscavam dirigir de maneiras inovadoras e individuais.
(...) Peter Weir é um diretor com intenções definidas e discerníveis, mesmo se ele não tiver necessariamente uma "mensagem" específica para transmitir. Ao extrairmos significado do conjunto delineado dos textos de Peter Weir, devemos buscar um equilíbrio, por um lado, entre a liberdade de interpretação individual e associações intertextuais mais amplas, e, por outro, o reconhecimento da construção textual e referências intertextuais deliberadas, encenadas pelo diretor e seus colaboradores."*

*Excerto da obra Rayner, Jonathan. The Films of Peter Weir, 2nd ed., p. 12, 15-16.


sábado, janeiro 06, 2018

O rei do show


O rei do show é um musical inspirado na vida de P. T. Barnum (Hugh Jackman), personalidade que criou o show business como o conhecemos. Trabalhando com o capital dos outros (leia-se, captando empréstimos nos bancos), Barnum criou um museu que depois se transformou em circo cujas atrações eram pessoas diferentes. Formou uma inusitada trupe que contava com mulher com barba; homem com o rosto inteiro coberto de pelos; portadores de nanismo, gigantismo e albinismo; irmãos siameses, etc. Atraiu multidões para seu circo e foi galgando degraus até conquistar o público considerado mais requintado, promovendo a turnê de uma cantora lírica. Mas quando tudo parece estar indo bem, contratempos vão surgir. Tudo isso vem involucrado em canções melosas incessantemente entoadas por Jackman e outras personagens, que enfrentam preconceitos de toda sorte, como a trapezista e o sócio de Barnum, romance não tolerável pela aristocracia da época. O talento de Jackman e sua experiência em musicais levam o filme de Michael Gracey nas costas. É tão eficiente a atuação do australiano e sua capacidade de atrair empatia a seu controvertido personagem, por muitos considerado o príncipe das falcatruas, que no final temos a sensação de que o mundo precisa de gente como Barnum, capaz de arriscar, empreender e aglutinar pessoas em torno de um objetivo comum.