Assistir ao filme Adeus à linguagem de Jean-Luc Godard é como entrar num museu de arte moderna.
A gente nunca sabe se o artista é um gênio ou um doido, ou simplesmente um enganador.
O quanto há de arte por trás desse estilo "experimental"?
O som entrecortado no começo do filme dá uma sensação inquietante, será que o Blu-ray veio com problema?
Pelo menos o 3-D é forte mesmo.
Não sei que câmeras Godard utilizou, parece que foram câmeras pequenas, sem parafernálias e gruas.
Eis que o resultado é de um 3D de fato, não de um 3D convertido.
Também não sei o que dizer sobre este filme. Não que ele provoque um vazio, um monte de pontos de interrogação; não, apenas, como eu disse, não sei se o Godard está senil ou se cada vez melhor.
Na entrevista que veio como extra, Godard, um senhorzinho muito arguto, porém de fala meio titubeante ou trêmula, tartamudeia respostas a perguntas ininteligíveis.
A entrevista foi feita em francês, mas as legendas em inglês permitiram-me anotar alguns trechos.
Então, o que você ler entre aspas a seguir são palavras de Godard que foram legendadas e agora vertidas livremente ao português.
SOBRE A HISTÓRIA DO FILME
"A história é simples. Entre os personagens, tem um homem e uma mulher, e, a certa altura, quando eles estão se desentendendo, aparece um cachorro, e o cão restabelece o equilíbrio."
MENÇÃO A HITCHCOCK
"Apliquei a teoria de Hitchcock: para que as pessoas entendam, fale duas vezes. Por isso, são dois casais."
ROTEIRO
"O roteiro não vem antes da filmagem, mas sim após a montagem."
MENSAGEM DO FILME
"A mensagem é a ausência de mensagem."
3D
"O 3D me permite estar nesta área, nesta paisagem."
O Blu-ray traz também um ensaio sobre o filme, de autoria de David Bordwell. O ensaio é um bom auxílio para tentar entender a arte por trás de Adeus à linguagem.
Bordwell nos informa que o nome do cachorro é Roxy e usa a interessante terminologia Couple 1 e Couple 2 para se referir aos dois casais.
O ensaio é dividido em 3 partes: Desmantelando a cena; Agressão e digressão; Planos e volumes.
Em Planos e volumes, a função e a estética do 3D no filme são esmiuçadas.
É um ensaio bastante útil.
Mas, afinal, que tipo de filme traz junto um ensaio escrito por um intelectual?
Por si só, isso já diz bastante sobre o filme.
Ah, e agora enfim já sei o que dizer sobre o filme!
É o tipo de filme que é preciso ver mais de uma vez para que tudo fique mais claro.
O problema é que ver uma vez já foi difícil.
Então, ver de novo não está exatamente na pauta urgente.
Será que eu fui claro?
Claro, "difícil" não é necessariamente sinônimo de ruim.
Denso, hermético, são aproximações no campo semântico.
Semanticamente, é um filme difícil.
E se a mensagem é a ausência de mensagem,
que tal uma resenha que é a ausência de resenha?