domingo, maio 20, 2018

Seres rastejantes

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Sábado chuvoso e frio no invernal outono do RS. Cenário perfeito para aumentar a cultura trash.

Responda, bem rápido: qual a indústria de cinema no mundo que dá mais liberdade criativa a seus roteiristas e diretores? Se você respondeu Hollywood, acertou.

Há muito tempo os figurões dos estúdios aprenderam que vale a pena investir em diretores que mostram uma "centelha criativa", um algo a mais, um talento que desponta.

Bons diretores e roteiristas começaram com trashs incomensuráveis. Que o digam James Cameron e Peter Jackson, com seus respectiva e inigualavelmente trashs Piranha 2 - Assassinas voadoras (1981) e Trash - Náusea total (1987).

Claro que
Seres rastejantes (Slither, 2006) é um trash diferente do citado hipertrash de Peter Jackson. É um trash hollywoodiano, onde baixos orçamentos comparativamente não são tão baixos e onde se conseguem bons serviços por preços módicos.

Um ator de renome (Michael Rooker), efeitos de primeira qualidade com orçamento relativamente baixo, uns rostinhos bonitos, uma trama com romance, traição, proteína, sumiço de cães e gatos, e, é claro, o principal ingrediente: roteiro e direção de um promissor talento.

Estamos falando de ninguém menos que James Gunn, o atual responsável pelo sucesso da franquia Guardiões da galáxia.

Postas todas essas preliminares, vamos ao que interessa: o filme.


O roteiro mistura elementos de vários clássicos da ficção e do terror, põe tudo no liquidificador e bingo: temos um trash que, se não tem nada de incrivelmente inovador, ao menos cumpre à risca a sua função social de entreter um pai e seu filho pré-adolescente numa tarde chuvosa de sábado.

A pessoa nota de longe que esse tal de James Gunn tem bala na agulha (sem trocadilho) quando o assunto é fazer uma mixórdia de gêneros: começando com uma ficção do tipo "infecção espacial" à la Invasores de corpos, vai migrando para uma contaminação mais generalizada, ao estilo de uma Invasão zumbi. A propósito, o título do filme em Portugal é:



Consta que James Gunn se inspirou em dois filmes de David Cronenberg da década de 1970 e também um mangá de terror. Mas é claro que tem umas pitadas de Lovecraft e de George Romero. Pela ambientação numa cidadezinha do interior e pela natureza das criaturas, também lembra um pouco um trash tri-legal de 1990 com Kevin Bacon: O ataque dos vermes malditos!

É essa mescla inusitada que sustenta o interesse, além de um bom humor um tanto irresponsável que permeia o filme, mas com um acréscimo importante: uma louvável e irônica crítica aos famigerados caçadores de cervos, raça que, infelizmente, ainda existe não apenas nos EUA, mas também em terras tupiniquins.

Uma coisa que fica bem clara é que James Gunn como diretor é um excelente roteirista, ou seja, dá para notar que ele já tinha mais experiência numa das habilidades. Escreveu, por exemplo, o roteiro de Madrugada dos mortos (2004), de Zack Snyder. Em Seres rastejantes, James Gunn participa também como ator, no papel de um professor que conversa com a sua colega professora Starla Grant (Elizabeth Banks) e desperta o ciúme do marido dela.

Diga-se de passagem, o que James Gunn faz em Seres rastejantes é algo bem diferente do que Del Toro fez em A forma da água. Esta é a diferença entre inspiração e influência e plágio velado: as influências e inspirações são utilizadas para influenciar e inspirar, não para copiar personagens principais e dar nova roupagem a um enredo.

A propósito, nesse caso da acusação de plágio de Del Toro, a defesa dos produtores se pronunciou, e, por meio de uma inteligente combinação de palavras, não negou o plágio, apenas disse que não houve plágio passível de prova ou indenização. Vamos aguardar os acontecimentos e torcer para que tudo não acabe com um "acordo" com cláusula de confidencialidade... Qualquer acordo nesse caso será muitíssimo suspeito. Digno de seres rastejantes.





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