Eu não caio mais nessa.
Certa vez indiquei um filme "sem pé nem cabeça" para um amigo meu, que jamais me perdoou.
Era o piloto do Twin Peaks, que foi lançado em formato de longa-metragem.
Eu achei que estaria alargando os horizontes de meu amigo, em hipótese alguma eu queria deixá-lo irritado ou fazê-lo perder tempo.
Portanto não vou indicar para ninguém este filme aqui, porque ele é da categoria de
mãe!, do Darren Aronofsky,
Eraserhead, de David Lynch,
Malpertuis, de Harry Kümel,
O anjo exterminador, de Buñuel,
e outros tantos filmes que flertam com o surreal.
Filmes que a pessoa tem a dificuldade de "rotular" dentro de um gênero.
Em geral esses são os meus preferidos.
Em dois ou três momentos de estou pensando em acabar com tudo os pelos de meus braços se eriçaram.
Arrepio de emoção?
Não: arrepio de medo mesmo.
Foram momentos rápidos, e o terror não é o foco do filme, mas isso já mostra o poder que o diretor-roteirista Charlie Kaufman tem sobre o espectador.
Ele vai manipulando nossas sensações, criando uma sinistra atmosfera de frio, intimidade, desencanto, mistério, humor, ilusão, mas com pitadas que nos fazem pensar que estamos imersos num conto fantástico de Guy de Maupassant, E. T. A. Hoffman ou Henry James.
E nesse ambiente somos obrigados a ficar atentos a todos os detalhes.
Mas claro, não para "tentar entender".
Não, esse filme não é como certas mulheres, que não precisam ser entendidas, e sim amadas...
Basicamente é uma experiência a ser fruída com o máximo de seus neurônios em conexão, o máximo de seus poros abertos e o máximo de seus cinco sentidos aguçados.
O que você vai aproveitar dessa experiência depende de suas idiossincrasias, de quem você é e quem quer vir a ser.
A propósito, este artigo do El País diz exatamente isso, que o filme pode emocionar uns e irritar outros. De quebra, faz um perfil de Charlie Kaufman, conta sua trajetória e menciona seus mais recentes projetos.
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