Sempre que penso em escrever algo sobre o cinema de Zack Snyder me vem à mente uma palavrinha da língua inglesa: self-indulgement.
Essa palavrinha, além de bonita e chique, exige do tradutor algo mais que uma solução fácil.
Na categoria de dificuldade para traduzir, enquadra-se como "tricky".
A letra de uma canção de Lulu Santos me vem à mente quando me lembro da palavra "self-indulgement".
Tempos modernos
Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia
Que insiste em nos rodear
Eu vejo a vida mais clara e farta
Repleta de toda satisfação que se tem direito
Do firmamento ao chão
Eu quero crer no amor numa boa
Que isso valha pra qualquer pessoa
Que realizar a força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade pra dizer mais sim do que não
Hoje o tempo voa, amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo que há pra viver
Vamos nos permitir
Zack Snyder é o tipo do cara que, mesmo sem conhecer a canção de Lulu Santos, vive se permitindo fazer filmes assim, self-indulging.
E digo mais. Eu sou o tipo do cinéfilo que se permite assistir a filmes de Zack Snyder pelo puro prazer de assisti-los.
Ficar julgando um filme de Zack Snyder com palavras rasas é algo surreal como Sucker Punch, outro filme de Zack Snyder, talvez o mais self-indulging de todos os filmes, com o elenco mais delicioso de todos os tempos.
Eis que a discussão sobre Rebel Moon empacou numa outra palavrinha, esta da língua portuguesa. Você lê os comentários do honorável público sobre o filme e se depara em 7 a cada 10 com variações desta palavra.
"Raso".
Até o fato de essa palavra se repetir parece uma certa falta de profundidade, ao menos por parte desses pseudocríticos de araque de plantão.
Em se tratando de algo como arte, o que é raso e o que é profundo varia conforme a percepção de cada um.
Às vezes, a profundidade pode estar oculta no que aparenta ser "raso".
"Cópias" podem ser encaradas como influências e citações ou homenagens.
Mas, entrando no mérito da questão, acredito que, em seu novíssimo filme Rebel Moon, disponível na Netflix, Zack Snyder não tentou ser profundo. Tentou ser ele mesmo.
E não há maior mérito a um diretor autoral.
Ele não é o tipo de pessoa que a toda hora tenta chamar atenção para si mesmo, dizendo: "Olhem como sou profundo".
Se você quiser posar de cinéfilo metido a profundidades, assista aos filmes de Ingmar Bergman e Fellini.
Escreva sobre eles.
Não assista ao novo do Zack Snyder só para malhar.
E se quiser malhar, não seja "raso" na escolha dos adjetivos, procure embasar melhor o seu texto, com uma resenha de meio, começo e fim.
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