A vida de Chuck é um filme com diversos ingredientes capazes de atrair e agradar aos espectadores que curtem ciência, dança, astronomia e a obra de Stephen King.
Carl Sagan e sua obra e seriado mais famosos, "Cosmos", são citados ao longo do filme para denotar a irrelevância do ser humano e do tempo em que vivemos no contexto astronômico.
Uma forma humilde de encarar o universo e a perspectiva do que é importante e "grande".
Ao mesmo tempo em que o filme nos conduz a esse ponto de vista mais amplo, nos faz mergulhar na individualidade de um professor que vê o mundo (esse nosso mundinho cotidiano, do trânsito, do solucionar os perrengues do dia a dia) se desintegrando ao seu redor.
Coisas estranhíssimas estão acontecendo em sua rotina, sem que ele consiga encontrar uma explicação plausível, mesmo sendo um sujeito com pés no chão e científico.
A situação caótica o leva a buscar uma reaproximação com a esposa de quem está separado.
Esse é o "Terceiro Ato" do filme, que na montagem vem por primeiro lugar.
No segundo ato, o mais divertido e leve do filme, o personagem principal, Chuck, assume o protagonismo em todos os planos da narrativa.
Ele está participando de um simpósio sobre contabilidade e no intervalo passa por uma artista de rua, tocando uma bateria em praça pública.
E o inesperado acontece.
Esta sequência é do tipo que surpreende, encanta e enternece, e tem gente que criticou o filme justamente por causa disso.
Gente que não tem sangue nas veias.
Gente que não concorda com Tobias Barreto:
"O coração também é um metafísico:
Estremece por formas invisíveis,
Anda a sonhar uns mundos encantados,
E a querer umas coisas impossíveis…"
Todas essas pessoas que chinelearam
A vida de Chuck
criticaram o filme por seus insights
astronômicos e conversas astrofísicas,
isso é cansativo para elas.
Sim, estofo e conteúdo exigem mais do
espectador que o intensivo
"tcha-tchaka-na-butchaka"
de Anora e quejandos.
Justamente o que cansa uns encanta outros.
O terceiro ato é um enternecedor mergulho na
vida de um garoto que precisa enfrentar
muitas perdas, e ainda assim não desiste,
segue a sua vida inspiradora.
O meu filho de 13 anos disse ao final do filme
que devemos aproveitar a vida, foi esse o
moral do filme para ele.
Acho que o Stephen King ficaria satisfeito com essa análise simples.
Afinal, a singeleza de valorizar as pequenas coisas e cada momento é a essência de A vida de Chuck, a mais nova adaptação fílmica da vertente literária de King menos ligada ao terror, e que nos rendeu
Um sonho de liberdade,
Conta comigo e
À espera de um milagre.
Não sei explicar direito, mas sei que é bom sair do cinema com a sensação de ter "lavado a alma" e visto cenas catárticas, que reforçam a esperança em um cinema íntegro, que suscita debates e que permite diferentes interpretações.
Em tempo: não vou me surpreender se este filme receber indicações para o Oscar, como, por exemplo, Mark Hamill a Melhor Ator Coadjuvante.