sábado, abril 13, 2024

A arte de Sergio Corbucci em três anos, três filmes e três frases

NAVAJO JOE, O PISTOLEIRO IMPLACÁVEL (NAVAJO JOE, 1967)

A alma do povo nativo-americano pulsa em cada fotograma e cada belo acorde da trilha sonora de Ennio Morricone nesta saga de vingança; Navajo Joe tem a esposa escalpelada por caras-pálidas que dizimam tribos indígenas por dinheiro e só vai descansar após matar um por um dos facínoras. 




OS VIOLENTOS VÃO PARA O INFERNO (THE MERCENARY, 1968)

Elementos que se repetem na filmografia de Corbucci aqui se delineiam de forma expressiva: a amizade entre um revolucionário e um mercenário, uma garota disputada por ambos, a hipnotizante trilha sonora de Morricone; em 1970, Corbucci faria uma espécie de remake deste filme em versão mais descontraída, Vamos a matar, companheiros




O VINGADOR SILENCIOSO (THE GREAT SILENCE, 1969)

Com a imortal trilha sonora de Morricone, fotografia belíssima de paisagens nevadas, uma história sangrenta e visceral com um desfecho dos mais impactantes da história do cinema spaghetti, O vingador silencioso representa o ápice da arte na filmografia de Corbucci.




segunda-feira, abril 01, 2024

O menino e a garça



 Dizia minha saudosa vó Godiva, "O mundo é dos reclamadores". A expressão passou de geração em geração em minha família, é um dos valores que cultivamos. Quando temos uma coisa a reclamar, reclamamos, com educação, é claro.

Pois na segunda-feira reclamei aqui sobre a programação dos cinemas regionais e na quinta-feira entra em cartaz um filme pra lá de alternativo, um filme cuja adjetivação bem pode incluir a palavra "artístico".

Nada mais, nada menos, que O menino e a garça, o vencedor do Oscar de Melhor Filme de Animação, do Studio Ghibli, com direção do lendário Hayao Miyazaki (nascido em 1941).

Se puder, faça um favor para seus sentidos e neurônios, assista a O menino e a garça em uma sala de cinema.



É uma experiência sensorial impactante, uma imersão em mundos fantásticos, onde pulsam emoções, delicadezas, sentimentos.

Sempre surpreendente e tocante, o roteiro acompanha a saga de Mahito. O menino sensível que, às vezes, se torna um pouco marrento por necessidade, mora em Tóquio durante a Segunda Guerra Mundial. A mãe dele trabalha em um hospital que é bombardeado e pega fogo. O pai leva o garoto órfão para se refugiar no idílico interior do Japão, onde o menino passará por um processo de amadurecimento à força, submetido à repugnância dos meninos locais, à presença de uma estranha garça e à companhia de 7 senhorinhas bizarras.

Mas quem deve cuidar de Mahito é uma moça bonita, muito parecida com a mãe dele.

Quem será ela? Qual a natureza real daquela esquisita garça? Que mistérios escondem a vila e o casarão onde Mahito vai passar os próximos meses?

Os detalhes do roteiro são muitos, é uma composição em várias camadas. Você não precisa tentar interpretar, ou buscar uma explicação, em um primeiro momento. Apenas dê a mão para Hayao e ao codiretor, Toshio Suzuki, e deixe-se levar nessa aventura desconcertante e bonita. 

Finda a experiência, dê tratos à bola para encontrar "explicações" e entender tudo que viu, de preferência com a ajuda de outro(s) cérebro(s) pensantes e argutos. Discutir um filme desses em família é outro dos prazeres que ele proporciona.



NÃO LEIA AGORA SE AINDA NÃO ASSISTIU AO FILME 

A solução mais óbvia nos remete a Lewis Carroll. O menino e a garça seria uma Alice no país das maravilhas às avessas, em que a bizarra garça faz as vezes do coelho e conduz o protagonista a essa terra da qual Mahito voltará uma pessoa diferente. Enquanto em Carroll Alice se deixa levar por curiosidade, em Miyazaki Mahito mergulha como fuga de seu  doloroso luto, do inescapável bullying que sofre dos meninos locais, da dor de descobrir algumas verdades sobre a vida. Kimitachi wa Dō Ikiru ka (君たちはどう生きるか) nos conduz a um universo paralelo, um no qual a vida de Mahito se torna tolerável. Um mundo em que ele encontra novas amizades, novas responsabilidades e novas perspectivas. Um mundo no qual ele deixa de ser Marrento para se tornar Mahito.