segunda-feira, outubro 28, 2019

A incrível aventura de Rick Baker







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Uma boa matinê para um domingo chuvoso, com direito a pipocas recém-estouradas na pipoqueira sem óleo.

As paisagens neozelandesas enchem os olhos, a história parece uma mistura de vários outros filmes, o diretor Taika Waikiti é o mesmo do premiado Boy (2010), Thor - Ragnarok (2017) e do surpreendente Jo Jo Rabbit (2019), que valeu ao neozelandês nada menos que o Oscar de Melhor Roteiro Original na cerimônia de 2020.

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Escrito e dirigido pelo neozelandês de origem maori, A incrível aventura de Rick Baker acompanha a trajetória de um menino de 12 anos, que durante o filme completa 13 anos. Ricky (Julian Dennison) é adotado por um casal que mora nos confins da civilização e tenta fugir.

Mas o amor que a sua mãe adotiva lhe dedica acaba amolecendo o coração deste adorável preá (forma sincopada e carinhosa de "pré-adolescente").

O moçoilo não vai com a cara do Tio Hec (Sam Neill).

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Neste começo o dejavù que eu tive foi com "Minha vida de cachorro", mas se eu contar o motivo, será spoiler. Mais pro final me veio à mente uma cena de "Thelma e Louise".

 Acho que o diretor Taika Waikiti foi construindo seu roteiro assim, com várias referências e múltiplos intertextos.


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O nonsense de muitas situações acaba se tornando uma das características mais significativas do filme. A relação entre Ricky e o tio Hec é a base emocional em que se constrói todo o roteiro. O fato é o que filme ganhou um séquito de admiradores, e mantém um site com um quiz para ver se você sobreviveria na mata.

Para quem gosta de cinema neozelandês, ou para quem gosta de um misto de comédia e aventura, A incrível aventura de Rick Baker é uma boa pedida para a matinê de um domingo chuvoso, com direito a pipocas recém-estouradas na pipoqueira sem óleo.


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Eu vi no Brasília: Selvagens cães de guerra

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Esta série de três posts encerra hoje com um filme cuja cena mais forte permaneceu gravada em minhas retinas de cinéfilo precoce. O menino que ia todos os sábados às matinês no Cine Brasília de Carazinho não selecionava. Caiu na rede é peixe.

Se você analisar os três filmes que compõem a série (Pânico na multidão, Orca, a baleia assassina e Selvagens cães de guerra), eles têm em comum várias coisas.


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Uma delas é o fato de terem sido desdenhados pela crítica. Foram severamente massacrados com resenhas nada lisonjeiras. Os guias os classificam com cotações inferiores.

Isso não impediu de se entranharem em minhas lembranças cinéfilas mais ternas, de terem provocado sensações fortes e inesquecíveis, que ficaram guardadas com carinho na gaveta das cenas mais chocantes e memoráveis já vistas na sala escura.

No caso, na sala escura do Cine Brasília.

A música dos discos de Frank Pourcel. O badalar que avisava: as luzes vão ser apagadas. A expectativa para o começo da projeção. O lanterninha que ajudava os retardatários.

Muitas vezes, antes do filme, passava o cinejornal do Canal 100, com gols de partidas de futebol, em geral dos times do Rio do Janeiro.


Em seguida, a abertura.





Selvagens cães de guerra abre ao estilo dos filmes de James Bond, com uma "música tema" tocando com imagens temáticas sucessivas. Somos enviados ao continente africano, o cenário em que se passará a ação.

A música "The Flight of the Wild Geese" é de Joan Armatrading e se tornou um sucesso da cantora. A letra da canção consegue um equilíbrio perfeito entre o comercial com pitadas de cunho social. Dê o play no vídeo acima e acompanhe a inspirada letra:
Sad are the eyes
Yet no tears
The flight of the wild geese
Brings a new hope

Rescued from all this
Old friends
And those newly found
What chance to make it last
When there's danger all around
And reason just ups and disappears

Time is running out
So much to be done
Tell me what more
What more
What more can we do

There were promises made
Plans firmly laid
Now madness prevails
Lies fill the air

What more
What more
What more can we do

What chance to make it last
What more
What more can we do

O roteiro do filme é de Reginald Rose, o mesmo roteirista do clássico Doze homens e uma sentença, inspirado no livro de Daniel Carney.

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Agora na revisita pude aproveitar todo o humor da parte inicial, que envolve a contratação e o recrutamento dos mercenários que empreenderão uma perigosa missão em um remoto país da África.

São impagáveis as cenas da apresentação dos personagens de Richard Burton (Coronel Faulkner), Roger Moore (Tenente Fynn) e Richard Harris (Capitão Janders).

Este filme marcou época na categoria de "compor uma equipe para cumprir uma missão militar". A cartilha é seguida à risca e a sequência em que os oficiais entrevistam os praças candidatos a participar da missão é outra que provoca muitas risadas e divertimento.

A ação em si também é diversão pura. O diretor Andrew  V. McLaglen não é nenhum diretor grandioso, mas me lembra um pouco outro diretor "matter-of-fact", ou seja, que não faz alarde e cumpre o prometido: John Sturges.

O corpulento diretor, que pode ser visto no featurette da première de The Wild Geese, realiza um trabalho focado na simplicidade e eficácia das cenas.



Acho que ele acertou em cheio no tom que imprimiu ao filme. Um nome nos créditos não pode deixar de ser mencionado: John Glen, que trabalho na montagem e também como diretor de segunda unidade. Ele estava "pedindo passagem" e mais tarde acabou se tornando um diretor especializado em ação, com vários filmes da franquia James Bond no currículo.

Glen ou McLaglen: quem terá dirigido a cena que ficou na minha cabeça por décadas? 

Sei que só agora pude revê-la, ao lado de meus dois filhos (7 e 12 anos).


O mais velho assistiu ao filme inteiro comigo. 

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O mais novo só foi chamado a partir da hora em que um dos mercenários utilizaria uma besta com setas envenenadas para eliminar os sentinelas. Falar isso foi o suficiente para ele interromper o jogo de Plantas x Zumbis Garden Warfare e vir correndo conferir.

E adivinhe, o garotinho não desgrudou os olhos da tela até o fim do filme e ficou bastante impressionado. Tanto que no dia seguinte contou à mãe dele sobre o filme e adivinhe qual cena ele descreveu? Exatamente a mesma cena que me deixou impressionado no cinema, a cena que eu jamais havia esquecido!

A qual, é claro, não será descrita aqui.

Quem já teve o privilégio de assistir ao filme deve saber de qual cena estou falando.


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Ao rever o filme fiquei com a impressão de que o Cine Brasília apresentou uma versão cortada do final. Era normal alguma emenda do rolo se perder em meio à peregrinação que o filme fazia desde ser lançado nos grandes centros até chegar a uma longínqua e aprazível cidadezinha do interior.

Seja como for, os cortes faziam parte da experiência de ser um assíduo frequentador do Brasília, e, quando aconteciam, o público sempre se manifestava com uma sonora vaia.


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Aguarde em breve uma espécie de "Epílogo" para esta série, em que vou resenhar o curta-metragem realizado sobre o Cine Brasília.

terça-feira, outubro 22, 2019

Fratura

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Um dos lançamentos recentes na Netflix é uma incursão no gênero explorado com maestria por Scorsese em Ilha do medo e por Harry Kümel no cult Malpertuis.

O tênue limite entre o real e o fantástico, a sanidade e a loucura.

Com direção de Brad Anderson, cujo trabalho mais importante foi O operário (The Machinist, 2004), estudo sobre paranoia e sanidade mental protagonizado por Christian Bale, Fratura (Fractured, 2019) tem no protagonista seu maior trunfo.

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O ator Sam Worthington torna Ray Monroe um personagem crível, com o qual podemos nos identificar. Ou seja, um ser humano falho, recuperando-se do alcoolismo, que já sofreu um grande abalo na vida e está tentando reconstruí-la. 

 Começando com uma discussão familiar na rodovia que cruza a gélida paisagem, o filme tem um clima bastante soturno e claustrofóbico, pois se passa quase todo dentro de um hospital. Corredores, salas de espera, elevadores, salas de atendimento coletivo, seção de medicamentos, sala de cirurgia, escritório da segurança, recepção... Enfermeiros, médicos, recepcionistas, guardas. Todos esses locais serão frequentados por Ray Monroe em sua busca por respostas. Todos esses profissionais serão colocados à prova ao lidar com esse homem desesperado para achar a família.


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A fotografia é granulada, cinzenta e neutra. A atmosfera que o roteiro perpassa mescla o assustador com o horripilante, o revoltante com o paranoico, o grotesco com o arabesco, e pitadas de uma neurose com a "indústria" da doação de órgãos, algo que remete ao clássico literário "Coma".


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A pergunta que não quer calar: vale ou não vale a pena assistir ao filme?

Vai depender do quanto você é um espectador resiliente e decidido a tirar proveito da experiência.

Falar mais seria cometer o sempre famigerado
e odiado

SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER SPOILER



POR FAVOR, SÓ TERMINE DE LER APÓS TER ASSISTIDO AO FILME

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Comentar o filme seria incorrer em "tentar explicar" e para isso já tem muitos sabe-tudos na web que fizeram posts do tipo "Entenda o final", "Fãs ficaram chocados", etc.

Sendo assim, apenas vou declarar que pessoalmente fiquei um pouco chateado com o rumo do filme. Em vez de ser o tipo de "Redenção do protagonista em quem ninguém acredita" é do tipo "Prova cabal de que, de médico e louco, todo mundo tem um pouco".

A trajetória do protagonista enerva porque torcemos por ele, para que tudo comece a fazer sentido em sua vida, para que ele se recupere, para que seja tudo verdade.

Mas o filme acaba usando alguns subterfúgios para "enganar" a plateia desavisada. (Claro que jamais vão conseguir "surpreender" uma pessoa que já bebeu da fonte, conforme já mencionei lá no início.) 

Considero esse tipo de recurso (mostrar uma coisa "como sendo" real que depois se comprova ser "imaginação" de um personagem) uma espécie de "golpe baixo" narrativo.

Seja como for, Fratura tem lá seus méritos por manter a tensão e a dúvida até o final. E uma informação que ajuda a entender a "reviravolta" final é que o diretor o considera uma tragédia com pitadas de terror

Ele conta que acrescentou um detalhe que não estava no roteiro, ou seja, aquele olhar de "cair a ficha" que Sam Worthington faz no finzinho foi ideia do diretor Brad Anderson, não do roteirista Alan B. McElroy, de Halloween 4 e da franquia Pânico na floresta.

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quarta-feira, outubro 16, 2019

A ganha-pão

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Com direção da experiente irlandesa Nora Twomey, A ganha-pão, atualmente em cartaz na Netflix, é um filme multipremiado que nos faz mergulhar na realidade árdua de Parvana, uma menina afegã de 11 anos, que vive na Kabul sob controle do Talibã. 

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A menina acompanha o pai, um ex-professor que teve a perna amputada devido a ferimentos na Guerra Soviética-Afegã, em seu ofício de vendedor ambulante. O pai dela é preso injustamente, e a menina precisa se fazer passar por menino para conseguir alimento para a família.

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O elemento fantástico do filme brota quanto Parvana entretém o irmãozinho Zaki com histórias mirabolantes de um garotinho em busca de recuperar as sementes roubadas pelo perverso Rei Elefante.

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Mas a perversidade do mundo real é mais intensa e, à medida que os confrontos entre facções e a guerra civil recrudescem, Parvana e seus familiares precisam sair de Kabul. Será que ela conseguirá resgatar o pai da prisão?

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É uma animação que vale a pena assistir junto com os filhos, para que eles conheçam outras realidades e valorizem muitas coisas singelas que em geral costumamos "take for granted", como ter o direito a viver uma infância digna e em um ambiente de paz e harmonia.

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Quem se interessar mais, existe um site sobre o filme que disponibiliza vários materiais, inclusive um Guia de Estudo. Em tempo: o filme é uma adaptação do livro escrito pela canadense Deborah Ellis.

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terça-feira, outubro 15, 2019

Coringa

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Joaquin Phoenix já ameaçou várias vezes abandonar a carreira. Fez bem em não cumprir as ameaças. Se, porém, deixar de atuar após encarnar o Coringa, tudo bem. Dificilmente alcançará o mesmo nível de atuação em outro papel.

O atual companheiro de Rooney Mara lança mão de todos os seus trunfos para representar o papel. E as "deficiências" ou "deformações" de seu corpo, desta vez, só ajudam na caracterização do personagem. 

O eterno mano mais novo de River na pele do Coringa acaba de terminar a mais surpreendente transformação: o patinho feio metamorfoseou-se em cisne. A atuação dele será motivo de estudo por anos a fio.

Mas nem só de boas atuações vive um filme. 



O roteiro tem citações interessantes. Por exemplo, é inegável o intertexto com Réquiem para um sonho. Além de uma conturbada relação mãe e filho, o filme de Darren Aronofsky (atualmente em cartaz no Netflix) apresenta a obsessão da mãe de Harry (Jared Leto, que, por sinal, já viveu o Coringa no filme Esquadrão Suicida) em ir a um programa de tevê.

A mesma obsessão é alimentada por Arthur, o patético humorista que tenta ser engraçado, mas não consegue. 

Discorrer sobre detalhes do roteiro é incorrer no mais infame dos pecados resenhísticos: a súbita e infame inserção de spoilers infames.

Por essas e outras que ultimamente me reservo o direito de não fazer "sinopses" aqui.

Mas não será um spoiler infame mencionar que a rotina de Arthur é um tanto conturbada, e que ele tenta sobreviver e sustentar a casa ganhando uns trocos como pode.

Gotham City está à beira da convulsão social, uma mistura de Equador com Hong Kong, e o submundo parece estar à espera de um líder, de um símbolo, de alguém que se oponha aos líderes "fascistas" da cidade.

Todd Phillips, o diretor, é um especialista em comédias tipo besteirol. A sua carreira pode ser uma metáfora da trajetória do Coringa: cansado de inutilmente tentar fazer os outros rirem, chuta o balde e mira a violência extrema.

Algumas redes de cinema negaram-se a exibir Coringa com medo de que gerasse violência real. 

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A coisa mais assustadora durante a sessão em Passo Fundo foi a reação da plateia a uma cena que põe em xeque as características físicas de um personagem.

Sem dúvida, como você reage àquela cena diz muito sobre quem você é.

Eu reagi com pasmo, terror e surpresa. 

Mas não me senti à vontade para achar graça.

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No frigir dos ovos, é o que eu sempre digo: ao final e ao cabo do filme, há coisas a serem debatidas?

Em se tratando do Universo DC Comics, há muita coisa, muitos detalhes, muitas dúvidas.

Em se tratando de metáforas ao mundo real e as relações humanas, também.

O hiperviolento Coringa suscita reações e provoca debates.


sexta-feira, outubro 11, 2019

Nada de bandeja

Nada de Bandeja | Site Oficial Netflix 

Este é o tipo de produto no qual a Netflix se destaca. Uma série documental rápida e repleta de atrativos para quem gosta de esporte, geografia, antropologia, etc. São muitas as disciplinas que se entrecruzam nesta bem realizada série, que vem sendo muito elogiada pela "crítica especializada".

O foco é a paixão pelo basquete da comunidade de Chinle, município situado na reserva do povo Navajo, no Estado do Arizona, nos Estados Unidos.


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Cada jogador é focado em um momento, enquanto a rotina de treinos e jogos é contrabalançada com as dificuldades econômicas e as aspirações acadêmicas de cada um. O craque do time é Cooper Burbank, que tem um índice de acertos de arremessos absurdo.

Ao longo da temporada, sob a batuta do novo e exigente técnico, o time infantojuvenil vai se entrosando e aspirando a conquista do tão sonhado campeonato estadual.


Cooper Burbank Wiki, Family, Chinle Wildcats Captain, Basketball or Nothing

Como já mencionado, são muitas as interfaces que podem atrair alguém a assistir esta série. À emoção do esporte soma-se a herança cultural e histórica do povo Navajo. Um dos episódios mostra o gerente da equipe fazendo uma corrida em meio ao cânion por onde os antepassados foram obrigados a deixar suas terras, com grandes perdas humanas.

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Eu sou suspeito para falar, porque o basquete é um dos meus esportes prediletos, tanto para jogar quanto para assistir. Então naturalmente senti-me atraído pelo título Basketball or Nothing, mas é preciso frisar que o título brasileiro ficou muito bom. Nada de bandeja é um título melhor que o original. As pessoas só lembram de falar em tradução quando é para criticar. Nada mais justo que se fale também para elogiar.