domingo, outubro 25, 2015

Pai, você é...

Meu pai está de aniversário no dia de Halloween.

Dedico esta resenha multimídia a ele.

RESENHA DE O PAPAI É POP


Pai, você é...
Henrique Guerra
 Como resenhar O papai é pop? Tarefa tão complexa quanto trocar fralda no banheiro de avião com um pouquinho de turbulência. Não deve ser uma resenha longa, pois o livro é daqueles rápidos (mas não rasteiros). Não deve ser também muito formal, afinal de contas, estamos falando de textos bem-humorados e (aparentemente) leves. Parece inevitável, então, resenhar O papai é pop sem delongas e sem muitas formalidades.
Nem me considero o público-alvo da obra. Tá certo: no Dia dos Pais, ganhei o livro de presente de uma ouvinte do programa de rádio Pretinho Básico, uma recém-balzaquiana que ao ler as crônicas do livro escuta a voz do autor, como se o Piangers estivesse narrando. A mesma mulher, diga-se de passagem, que me tornou pai, mas devo reconhecer que ler crônicas não é considerado algo típico de um pai de família. Papais tradicionais deveriam estar lendo algo mais denso e informativo, não algo que tenha certo efeito catártico, que provoque risos e talvez algumas lágrimas, que descreva (com detalhes, às vezes, escatológicos) momentos de ternura em família, angústias paternas e flagrantes em hotéis mexicanos.
É inevitável constatar: o público-alvo é feminino. Afinal de contas, os personagens do livro são, em essência, quatro mulheres. A mãe, a esposa e, é claro, as duas filhas. Com um olhar de contínua admiração e absoluta surpresa, o autor transita nesse universo feminino relatando cenas do cotidiano, meandros da inter-relação de um homem sempre estupefato com a evolução e a extrema articulação desses seres imprevisíveis.
Chega a indefectível hora de destacar crônicas e trechos marcantes... Para isso, o calejado resenhista pega a obra, vai folheando e fazendo citações. Mas, puxa vida, nem sou um resenhista tão calejado tampouco estou com o livro aqui e agora. E além do mais, cada um dos textos suscita múltiplas sensações, não só o que fala da culpa por viajar sem os filhos, não só o que desnuda as agruras do período de adaptação, não só o que conta o martírio que é enfrentar a teimosia da prole no shopping, não só o que narra a emoção de rever filmes marcantes em companhia da filha, não só o que registra o momento crucial em que a mãe desistiu de fazer o aborto que impediria o nascimento de um papai escritor.
A propósito, esse drama familiar é um subtema (ou subtexto?) da obra, algo que vai permeando cada entrelinha e cada página, sem neuras, mas também sem tapar o sol com a peneira. Esse detalhe dá ao livro um estofo inusitado, espécie de “pano para manga”, e o leitor se torna solidário a ponto de ficar imaginando: em algum lugar do planeta, o pai do autor não sentirá uma ponta de orgulho do filho que não ajudou a criar? Não pensará em tentar uma aproximação? Afinal, não raro a ternura chega com uma geração de atraso, e papais distantes tornam-se avôs atenciosos.
Pais e mães modernos têm a oportunidade, durante a leitura de O papai é pop, de comparar, reavaliar, meditar, questionar e, simplesmente, se identificar. Sim, não há nada mais recompensador do que andar de bicicleta em família e ser surpreendido por um comentário perspicaz da(o) filha(o). E se você é um papai que passeia de bike com os filhos e ainda por cima lê O papai é pop, então, como diz meu caçula, entoando um refrão que aprendeu na escola: “Você é o cara!”.

INTERTEXTO COM STAR WARS
 Aproveitando a deixa do livro do Piangers, numa das crônicas ele conta que assistiu ao filme O Império contra-ataca em companhia da filha. A cena que ele menciona é nada menos que uma das mais inesquecíveis da história do cinema. Na conclusão desta resenha múltipla, o leitor terá à disposição alguns links para conferir a referida cena.
 Já que estamos aquecendo as turbinas para conferir em breve o Episódio VII, também resolvi rever a franquia, agora em companhia do filho de oito anos. A primeira dúvida: por onde começar? Episódio I ou Episódio IV? Falou mais alto a relevância em termos de cinema e também a curiosidade por rever cenas clássicas. Então, aí vai a resenha de Guerra nas estrelas, que hoje virou
                          Episódio IV - Uma nova esperança
 Citada na obra "O livro perigoso para garotos" entre os filmes que todo garoto deveria ver, a saga de Star Wars inicia aqui, em 1977. O roteiro enxuto e sem firulas de George Lucas funciona às mil maravilhas: apresenta os principais personagens deste universo (C3P0, R2D2, Princesa Leia, Darth Vader, Luke Skywalker, Obi Wan Kenobi Alec Guinness dublado com a voz clássica do hoje octogenário ator e dublador Isaac Bardavid, ainda na ativa –, Han Solo e Chewbacca), delineia os aspectos essenciais que governam a mitologia starwariana, explica o que é a Força, insere terminologias (Jedi, hiperespaço), tudo isso sem perder de vista a ação e a cadência da história.
À parte a excelência do roteiro, outro fator que garantiu o sucesso foram os efeitos especiais: não foram poupados esforços para tornar verossímil toda essa ficção, embora sob os parâmetros atuais alguns efeitos pareçam toscos (vide os disparos das 'blasters' ou armas de plasma). Até nas lâminas dos sabres de luz  se nota uma evolução rápida entre os filmes de 1977 e 1980, por exemplo. Mas esses detalhes fazem parte do charme de rever Guerra nas estrelas (ou Episódio IV - Uma nova esperança, como queiram): notar como tudo continua tão significativo, embora a estética tenha elementos que hoje possam soar um pouco "kitsch", como a representação dos aliens na superclássica cena em que Obi Wan Kenobi, Luke, Han Solo e Chewbacca entram no bar. Mas as batalhas entre caças estelares garantiram ao filme o Oscar de Melhores Efeitos Visuais.
Outra coisa que salta aos olhos é o combate entre Darth Vader e Obi Wan Kenobi. A coreografia da luta parece bastante minimalista para os padrões de hoje. Mas enfim o que interessava ali eram mais os diálogos e não a violência ou o malabarismo dos golpes.
Por fim, a música de John Williams não pode deixar de ser lembrada, afinal é reproduzida em múltiplas mídias, inclusive em jogos infantis do Club Penguin, e reconhecida por gente de várias gerações.
Em suma, a experiência de revisitar o filme lançado em 1977 com o título de Star Wars é extremamente recompensadora para qualquer cinéfilo que se preze, ainda mais se ele estiver acompanhado de seu curioso e arguto filho, tecendo comentários que nunca lhe haviam passado pela cabeça.
Subtema da sub-resenha
* A TRADUÇÃO EM STAR WARS *
Sobre os aspectos específicos do roteiro, vou puxar a brasa para o meu assado. Um dos pontos que vale a pena citar é a importância da tradução na trama. O robô C3PO só é adquirido por Obi Wan Kenobi porque é um bom tradutor. Falando em tradução, assisti ao filme dublado (para o filho acompanhar sem precisar ler a legenda) e com as legendas em inglês ligadas (para ir admirando a objetividade do roteiro e a sempre elogiável qualidade das dublagens brasileiras). Numa hora, porém, a 'piada' se perdeu na tradução da dublagem. Num diálogo entre Jabba e Han Solo, o personagem de Harrison Ford diz ao alienígena sarcasticamente que ele é um "wonderful human being".
LINKS + 2 LIVROS QUE AINDA NÃO LI 
O.k. Voltando ao livro do Piangers. Ele conta na crônica que tentava explicar à filha o lance familiar entre o Dark Lord of the Sith Vader e o Luke Skywalker. Para ilustrar esta resenha, então, dois links.
Este tem a sequência da famosa cena do duelo entre os dois:
Este traz a revelação mais bombástica do cinema em várias línguas:
E conforme prometido, as capas de dois livrinhos curiosos que ainda não li, mas pretendo em breve ter o prazer de fazê-lo:

 
 
 

CONCERTO DUO E CONCERTO DE CÂMARA EM CARAZINHO

 Carazinho não tem cinema, mas tem música!

Dia 16 de outubro, duo de flauta e cravo.
A plateia presente na igreja treinou seus ouvidos com acordes bachianos.
O duo, que começou a se formar com ensaios há seis anos, abriu os trabalhos com uma sonata em que mostrou todo o entrosamento. Em seguida, cada musicista tocou uma peça solo, para depois se reunirem novamente (ver programa abaixo).
Com sua flauta especial, Leonardo Winter mostrou sua técnica apuradíssima, entoando peças que, reza a lenda, Bach compôs para um flautista virtuose da época. Por sua vez, Fernando Cordella dedilhou as hipnotizantes harmonias setecentistas com seu estilo inconfundível, ora aprumado, ora curvado delicadamente sobre as teclas de seu cravo. Como sempre, também, teceu enriquecedores comentários sobre a contextualização das obras, inclusive o fato de que o príncipe encomendou as sonatas porque sofria de insônia. Em suma, talento de nível mundial em pleno planalto rio-grandense.


Dia 17 de outubro, Concerto de Câmara com OSINCA e Orquestra Jovem da Academia de Música

Alunos que se tornam professores e formam novos alunos num ciclo virtuoso. Essa frase pode resumir a emoção que pulsou na Capela São José Operário durante as apresentações exaustivamente ensaiadas, que incluíram momentos solo de alunos destaque da Orquestra Jovem, mesclados com peças tocadas pelos já tarimbados componentes da Osinca.

O programa, que incluiu, entre outros, Beethoven, Bach, Christina Rossetti (A Thousand Years, trilha da saga Crepúsculo) e Heinrich Franz von Biber, culminou com um trecho da trilha sonora do filme Piratas do Caribe - a maldição do Pérola Negra, o primeiro da franquia cinematográfica.

Confira no vídeo abaixo a parte final da apresentação:

https://www.facebook.com/vivian.nolasco.5/videos/931965940211778/

O compositor Klaus Badelt (que já fez a trilha de muitos e muitos filmes, vide http://klausbadelt.com/) com certeza aprovaria!

segunda-feira, outubro 12, 2015

Jurassic World - o mundo dos dinossauros

De volta em grande estilo ao mundo dos dinossauros! Para quem gosta de um blockbuster daqueles bem vertiginosos, para usar um adjetivo ultimamente em voga neste blog, você escolheu o filme certo! É o protótipo do cinemão para as massas com a máxima qualidade que só Hollywood alcança nesse quesito. Ame ou odeie, mas não diga que o roteiro não tem coisas bem legais (e para não perder o hábito, muitos furos também). Entre as coisas legais estão os diálogos espirituosos entre Claire e Owen, o caliente casalzinho aí em cima, que se alfinetam até não poder mais. Quem desdenha, quer comprar, e basta assistir ao filme para ver de que modo toda essa marra entre as personagens de Bryce Dallas Howard e Chris Pratt vai acabar. Outros detalhes bacanas são as inúmeras citações dos filmes anteriores da franquia e a relação fraterna entre Zach e Gray, irmãos cujos pais estão se separando e, por isso, são enviados para ficar com a tia no parque Jurassic World, na Costa Rica.
Só que a tia Claire anda muito ocupada e sem tempo para ciceronear os guris, que acabam numa enrascada. Menção honrosa do elenco vai para Omar Sy, vencedor do César de Melhor Ator no filme Intocáveis, de 2011.
Entre os furos do roteiro, é difícil citá-los sem cometer SPOILER, mas basta comentar que são furos do tipo "ah, mas se fosse assim, então assado", o tipo de lapso que se não ocorresse, não teria filme. Coisas que também tinham nos primeiros filmes da franquia, aliás. Diga-se de passagem, antes de levar o primogênito ao cinema, fizemos o "dever de casa", ou seja, uma imersão familiar nos três primeiros da série, os dois dirigidos pela lenda viva Steven Spielberg e o terceiro por Joe Johnston. Assim, o garoto chegou ao cinema Arcoplex de Passo Fundo no dia 11 de outubro com todas as informações necessárias para apreciar, ao lado do primo passo-fundense, o quarto filme, primorosamente dirigido pelo desconhecido Colin Trevorrow, que só tinha realizado o independente Sem segurança nenhuma (Safety not Guaranteed, 2012). O fato de um filme que estreou em junho estar voltando ao cartaz já diz muita coisa sobre o sucesso comercial dele.
Boa ideia da Arcoplex. Permitiu que os retardatários assistissem ao filme no local mais indicado: na sala de cinema! Os primos curtiram bastante o filme, que tem um efeito colateral significativo para as crianças: serve para aguçar o interesse pela ciência.
Aproveitando a deixa do primeiro filme do Colin Trevorrow: no Jurassic World, a segurança não é garantida, mas a diversão é!
 

domingo, outubro 11, 2015

Hotel Transilvânia 2

O moscovita Genndy Tartakovsky tem uma trajetória curiosa no mundo da animação. Veio da Rússia aos 7 anos para viver o American way of life, mas sempre se sentiu um estranho no ninho. Só começou a se livrar da sensação de ser um estrangeiro quando passou a estudar animação e cinema, e logo se enturmou com almas gêmeas do ramo. Na faculdade criou um filme que se tornaria a inspiração para o futuro desenho animado O laboratório de Dexter, produzido pela Hanna Barbera para o Cartoon Network, na qual atuou como roteirista e diretor de 1996 a 1999. Depois disso, colocou no currículo a participação em outras franquias/séries animadas produzidas para a televisão, como Meninas Superpoderosas e Star Wars: Guerras Clônicas. O salto na carreira da tevê para o cinema aconteceu primordialmente com Hotel Transilvânia (vide o post http://olharcinefilo.blogspot.com.br/2012/10/hotel-transilvania.html), que conquistou muitos fãs mundo afora.
Fãs que fielmente compareceram em massa para conferir a continuação, cuja sinopse seria: Drac, no primeiro filme, o pai superprotetor de Mavis, agora se torna um avô obcecado em fazer do neto Denis um monstro e corre contra o tempo, pois os  caninos de vampiro precisam aparecer até o guri completar 5 anos; para isso, o vovô aproveita um fim de semana para tentar levar o neto para "o bom caminho", com a ajuda da horri(deso)pilante trupe Múmia, Homem Invisível, Lobisomem, Frank e a bolha verde Blobby.
Não vou aqui fazer comparações entre os dois filmes, mesmo porque, quase sempre, o segundo traz menos novidades e precisa superar um padrão já estabelecido. O fato é que algumas ideias fazem de Hotel Transilvânia 2 um filme que se sustenta por si só. Essas ideias incluem a mania com a interatividade e com a instantaneidade (postagem de selfies e vídeos na internet), a insensibilidade das novas gerações com os monstros, ou, em outras palavras, a baixa "assustabilidade" que os monstros clássicos desfrutam atualmente. Outro trunfo do filme é a inclusão do rabugento Vlad, o pai de Drac (dublado em inglês por Mel Brooks). A partir da entrada do bisavô, Hotel Transilvânia 2 aproveita a deixa para abordar, de forma bem-humorada, complexas relações familiares, expectativas quanto a netos e bisnetos, e como, às vezes, os pais ficam meio anestesiados e "de mãos atadas" em meio à tanta ansiedade.

Era uma vez na Anatólia

Certas sessões se tornam emblemáticas para um cinéfilo por uma conjunção de fatores. Sem dúvida, entre minhas experiências cinematográficas de 2015, o filme do turco Nuri Bilge Ceylan se insere nessa categoria. E quais fatores seriam esses?



1. Sessão do Clube de Cinema
Ando meio afastado da capital e só de vez em quando tenho a oportunidade de marcar presença. Temos a tendência de valorizar mais tudo aquilo que obtemos com um pouco mais de dificuldade. As sessões do clube sempre têm uma aura especial, são cinéfilos até o tutano dos ossos reunidos num horário diferenciado, com o objetivo único de mostrar seu amor pelo cinema, em suas distintas manifestações. Apesar da relativa distância, sempre que posso, compareço, e tenho tido a sorte de comparecer justamente em fins de semana com sessões bastante significativas.

2. A volta do Cine Capitólio
O reencontro com uma sala charmosa, anos após ter sido fechada para o público, traz, por si só, um fator emocional forte para quem gosta de cinema. O apuro com que tudo foi restaurado, a mescla de novo com o antigo, o cheiro da madeira das poltronas, tudo isso cria uma atmosfera de reverência à sétima arte (por que tem gente que não gosta desse termo?), um clima propício a degustar um filme estranhíssimo.

3. Um diretor que vale a pena conhecer

Sempre que vou assistir a um filme de um diretor que não conheço, também é um momento relevante. Em geral, é no primeiro contato que a gente decide se vai apreciar ou torcer o nariz para a filmografia da pessoa. A primeira impressão é a que fica. Eu não havia me informado muito sobre Nuri Bilge Ceylan, mas na breve preleção antes da sessão ficamos sabendo que ele é o cara, ou seja, ganhou nada menos que uma Palma de Ouro em Cannes com o filme Sono de inverno. E quando começa Era uma vez na Anatólia, o espectador logo percebe que se trata de um diretor inusitado, com suas ideias bem próprias sobre tomadas, cadência, edição. Em outras palavras, um diretor cuja marca registrada é a falta de pressa em tudo o que ele faz. Um diretor que cita entre as principais influências Ingmar Bergman (http://olharcinefilo.blogspot.com.br/2007/07/colhendo-morangos-silvestres.html), Robert Bresson, Michelangelo Antonioni, Andrei Tarkovsky e Yasujiro Ozu (confira a intertextualidade no post http://olharcinefilo.blogspot.com.br/2012/12/era-uma-vez-em-toquio.html). Um diretor antítese da medíocre ânsia pela vertiginosidade que grassa em nossas telonas ultimamente.

4. Uma história difícil de definir
Na verdade é um daqueles filmes "em tempo real". A câmera acompanha meticulosamente uma comitiva de veículos em sua peregrinação no interior da Turquia para localizar um corpo. A trupe multidisciplinar é formada por policiais, médico-legista, promotor, coveiros, e, é claro, os suspeitos do crime, no caso, dois irmãos. As motivações e as circunstâncias do crime tinham sido apenas sugeridas no prólogo. A partir daí, cada palavra, cada suspiro e cada gesto vão entretecendo um emaranhado de situações, umas prosaicas, outras insólitas. Uma sequência digna de nota é quando todos resolvem fazer uma parada numa aldeia das imediações e acontece um blecaute. A filha do anfitrião, dona de uma beleza hipnotizante, vem oferecer bebida a todos, inclusive aos suspeitos de homicídio. A troca de olhares silenciosos desta perturbadora cena é desses instantes que ficam incrustados na retina do cinéfilo para sempre.

Isoladamente, qualquer um desses fatores já seria suficiente para tornar uma sessão "emblemática". Quando todos esses fatores se unem, então, temos a sessão mais emblemática do ano!


quinta-feira, outubro 01, 2015

Corações de ferro


Baita filme. Pouco mais tenho a acrescentar. O diretor David Ayer conta a história de cinco americanos que tripulam um carro de combate, mais especificamente, o tanque Sherman, em 1945, na Alemanha. O filme tem tudo que um bom filme de guerra necessita, sem desperdiçar tempo com firulas. Algumas das cenas de combate mais bem filmadas dos últimos tempos, entre elas algumas originais, cenas jamais filmadas (pelo menos, até onde vai o meu conhecimento), ou, no mínimo, jamais filmadas com tanto realismo e técnica, como, por exemplo, o trepidante combate entre três tanques Sherman (aliados) contra um Tiger (alemão). Algumas cenas intimistas também, como o inusitado dueto entoado por Emma (Alicia von Rittberg), uma bonita aldeã germânica, e o recruta Machine (Logan Lerman) ao piano.
Afiadíssimo, o elenco é liderado por Brad Pitt, que encarna o sargento Wardaddy, e conta também com Shia LaBeouf (o artilheiro Bible), Michael Peña (Gordo) e Jon Bernthal (Coon-Ass). De um modo singelo, entremeados em grandes sequências de combate, medo, heroísmo, insegurança, bravura, covardia, todos os sentimentos inerentes a uma guerra são expostos em Corações de ferro. Baita filme. Desde O resgate do soldado Ryan não se via um filme de guerra com tanto sangue, tripas e fibras. E a situação em que o tanque Fury é colocado na sequência final é de arrepiar. Os cinco atores se tornaram muito unidos durante o treinamento militar recebido durante a preparação para o filme. Outro cuidado que o diretor teve foi convidar ex-tripulantes do Sherman, senhores lúcidos de seus mais de 90 anos, para contar suas experiências em pessoa para o quinteto principal do elenco. Todo esse apuro é perceptível no resultado final. David Ayer, nascido em 1968, antes de se aventurar na direção já havia realizado bons trabalhos como roteirista, por exemplo, U-571, de Jonathan Mostow, e Dia de treinamento, de Antoine Fuqua. Na direção, assinou Os reis da rua, com Keanu Reeves, até realizar Corações de ferro. Nunca é demais repetir: baita filme!

quarta-feira, setembro 30, 2015

Alien de Ridley Scott

Na matiné dum sábado qualquer, nas poltronas de um cinema simples de uma cidadezinha pacata, dois irmãos sentiram o medo de mergulhar no claustrofóbico universo da Nostromo. A experiência foi muito forte, e o menino mais novo teve de sair do cinema antes mesmo de John Hurt estrebuchar na mesa do refeitório, numa das cenas mais chocantes da história do cinema.


Em retrospectiva, é fácil de entender porque o filme de Ridley Scott foi alçado à condição de clássico, dando início a uma franquia das mais criativas: direção de primeira categoria, elenco de peso, produção requintada. Vamos esmiuçar cada um desses itens.

Direção de primeira categoria: Ridley já havia realizado Os duelistas, uma estreia mais do que promissora. Um filme de época com pinta de cult. Depois de mostrar seu cartão de visita, em Alien, seu segundo longa, Scott definitivamente confirmou as expectativas: caprichou em todos os detalhes para construir uma tensão pulsante e crescente. O começo do filme é cadenciado, não tem nada de vertiginoso. Existem poucas cenas de violência explícita. A sensação de terror e sufocamento é moldada pelo desconhecido, pelo que não é mostrado, apenas sugerido. Paulatinamente, a história se desenrola, funcionando como espécie de conto fantástico digno de um Lovecraft, uma tripulação mínima envolvida num pesadelo por conta de uma macabra trama de interesses gananciosos da Companhia, a empresa dona da nave. É um dos orgulhos de minha vida de cinéfilo ter me tornado fã desse diretor, que entra fácil na minha lista de top ten diretores vivos (e bem vivos, pois acaba de lançar Perdido em Marte). Sua filmografia mantém um padrão admirável, de Blade Runner (1982) a Gladiador (2000), de Thelma e Louise (1992) a Um bom ano (2006), de Falcão Negro em perigo (2001) a Prometheus (2012).
















Elenco de peso: além do olhar ortodoxo e ao mesmo tempo inovador de Scott, o cast de Alien não podia ser melhor. A tripulação conta com Tom Skerritt, Sigourney Weaver, Veronica Cartwright, Harry Dean Stanton, John Hurt, Ian Holm e Yaphet Kotto. Respectivamente, o capitão Dallas, a subtenente Ripley, a navegadora Lambert, o engenheiro auxiliar Brett, o imediato Kane, o oficial de ciências Ash e o engenheiro chefe Parker. Não vamos esquecer, é claro, do gatinho Jones. De antemão, todos sabiam que participariam numa espécie de Então não sobrou nenhum versão espacial. Uma hórrida narrativa numa nave mórbida na qual, um por um, quase todos os tripulantes seriam sacrificados. Com a diferença que os atores que encarnavam as vítimas já eram atores consumados, com carreiras ricas e prolíficas. À exceção, talvez, de Sigourney, que tinha experiência de teatro, mas praticamente estreava no cinema. Ela entrou justo no papel de Ripley, inicialmente pensado para Veronica Cartwright, que teve de se contentar com a Lambert. Outra substituição de última hora foi a entrada de John Hurt na vaga de Jon Finch, que adoeceu no primeiro dia das filmagens.

Produção requintada: dos storyboards de Ridley Scott, cujas naves e roupas espaciais remetiam a 2001: uma odisseia no espaço e já apresentavam influência de Star Wars, até a criatura e os cenários criados pelo artista H. R. Giger, tudo contribuiu para tornar verossímil um roteiro que havia sido exaustivamente trabalhado. Méritos a quem os merece: além de Dan O'Bannon e Donald Shusett, outras três pessoas acrescentaram muitas ideias ao roteiro, inclusive todo o lance que envolve o personagem Ash, e o fato de o filme ter uma heroína. Os nomes definitivos dos personagens foram criados por esse trio. Eles são: Walter Hill, David Giler e Gordon Carroll. Foram eles também que escolheram Ridley Scott para encabeçar o projeto. Por sua vez, O'Bannon convidou artistas de dois outros projetos em que ele estivera  envolvido (o filme Dark Star de John Carpenter e Dune, projeto abortado de Alejandro Jodorowsky) para colaborar no processo criativo. Todo esse esforço colaborativo e esse cuidado com os detalhes resultou numa legião de fãs e na conquista de várias gerações de cinéfilos.
        Recentemente, a Editora Aleph publicou uma nova tradução da novelização, escrita por Alan Dean Foster.




 








Para quem quiser saber mais sobre o assunto, com uma espécie de resenha da obra, em meu outro blog sobre minhas traduções e revisões.

sábado, setembro 26, 2015

Chappie

Casado com a roteirista canadense Terri Tatchell (coautora do roteiro de Chappie), o sul-africano Neill Blomkamp chega com Chappie ao terceiro longa-metragem da carreira (após ter realizado Distrito 9, em 2009, e Elysium, em 2013). Apadrinhado por Peter Jackson, Blomkamp tem uma forte queda por ficção científica, direcionada em Chappie para uma abordagem da inteligência artificial. Uma breve sinopse do roteiro do casal Tatchell-Blomkamp seria: a indústria robótica Tetravaal, comandada por Michelle Bradley (Sigourney Weaver) (por sinal, comentam à boca pequena que ela e Blomkamp já fecharam negócio para filmar o Alien 5), tem uma rivalidade latente entre os dois engenheiros Deon (Dev Patel) e Vincent (Hugh Jackman). É do primeiro o projeto que está em alta, a produção dos scouts (escoltas, na dublagem brasileira), um exército de robôs policiais que ajuda no policiamento ostensivo de Joanesburgo (cidade natal do diretor, e, na vida real, uma das cidades mais violentas do mundo, com alta taxa anual de homicídios). Isso deixa Vincent enciumado, pois vê o seu projeto, o robô gigante Moose (Touro, na dublagem brasileira), relegado a segundo plano. Numa cena chave do filme, chefes da polícia local assistem a uma demonstração do Moose e dizem que os escoltas dão conta do recado e que só precisariam de algo assim se a situação da segurança piorasse, e muito. Nesse meio-tempo, Deon tenta avançar seus experimentos com IA, mas acaba sendo raptado pelos esquisitos facínoras Ninja e Yolandi (interpretados por Ninja e Yolandi, membros da esquisita banda sul-africana Die Antwoord) que o obrigam a criar um escolta para ajudá-los num assalto. Dessa situação nasce Chappie, um bebê em forma de robô.

O vínculo criado entre Chappie e Yolandi, que adota o robô como se fosse mãe dele, beira a inverossimilhança, mas é um exemplo da ternura bizarra que permeia alguns trechos do filme.
A parte mais legal de Chappie é justamente a "criação" dele, com Deon ensinando-o a pintar e a dar asas à imaginação, Ninja ensinando-o a ser malandro e a usar armas de fogo e Yolandi lendo para ele, antes de dormir, um livro infantil sobre ovelhas negras. Interessante análise de como o meio pode afetar alguém intrinsecamente bom.
Nesse processo de aprendizado, Chappie é submetido a algumas situações extremas, em algumas das cenas mais tristes dos últimos tempos. Mas o cinema (e a literatura, como na obra O pessoal de July, de Nadine Gordiman) da África do Sul é pródigo nesse tipo de angústia exasperante, de um mundo em que a ingenuidade e a pureza são implodidos pela impactante realidade. Tanto isso é verdade que Chappie me lembrou de outro filme angustiante, também sul-africano: Dirkie (Perdido no deserto), de Jamie Uyis, inspirado na história real de um menino de 8 anos e seu cãozinho numa jornada de sobrevivência. Como Dirkie no deserto de Kalahari, Chappie tenta sobreviver no deserto de harmonia que é o caos de Joanesburgo. O blu-ray de Chappie traz um final alternativo no mínimo digno de nota. Como bônus deste post, um pôster para relembrar um filme assistido há um bom tempo no hoje finado Cinema Brasília de Carazinho:

segunda-feira, setembro 21, 2015

Mad Max: Fury Road

Dystopia: imaginary place or state in which everything is extremely bad or unpleasant.
O sucesso de Mad Max: a estrada da fúria confirma uma tendência atual: a avidez por ficção distópica, de adolescentes a adultos. A escritora Alex Campbell levantou a seguinte tese num artigo sobre a crescente popularidade da ficção distópica:
"Será possível uma correlação com a ascensão da ficção distópica e as redes sociais? Enquanto ostentamos nossa felicidade unidimensional em sorridentes perfis no Facebook e fotos no Instagram que colocam tudo num prisma agradável, será que sentimos uma necessidade crescente de satisfazer as áreas mais sombrias da condição humana por meio das páginas que lemos?".

Ou, completaria eu, dos filmes a que assistimos?


É uma tese interessante.
Mas é preciso lembrar que, geração após geração, esse tipo de literatura e de cinema sempre teve um público cativo, para dizer o mínimo. E assim como atrai certas pessoas, também espanta quem é mais pé no chão, pessoas que não gostam de fantasia.

Noutro artigo, a jornalista Francisca Goldsmith listou as principais características da ficção distópica: um mundo ou sociedade futurista; habitantes controlados com mão de ferro; a conformidade é boa, a individualidade é indesejável; falta de consciência da maioria das pessoas; um protagonista frustrado pelos controles que age sem considerá-los; a percepção de um problema no mundo real por meio do exagero no universo ficcional. Desnecessário dizer que todas essas características pulsam no universo de Mad Max.
 Goldsmith entrevistou adolescentes leitores e indagou por que eles gostavam desse tipo de ficção. Algumas das respostas foram: "acho interessante e reconfortador ao mesmo tempo"; "gosto da complexidade!" e "me ajuda a pensar que nosso mundo ou sociedade pode mudar, que eu posso ajudar a mudá-lo". Ela conclui que os motivos pelos quais os adolescentes gostam desse tipo de ficção não são sombrios.


Essa introdução é apenas para dizer que, trinta anos depois, Mad Max está de volta. De 1979 a 1985, o médico George Miller, nos intervalos de seus plantões na sala de emergência, realizou os seus primeiros três longa-metragens: Mad Max (1979), Mad Max 2: Road Warrior (1981, Mad Max 2: a caçada continua) e Mad Max: Beyond Thunderdome (Mad Max além da cúpula do trovão). Por que o diretor australiano demorou exatos 30 anos para revisitar o personagem da trilogia cujo ápice foi o segundo filme não chega a ser um pleno mistério. Natural que o criador, um tanto saturado com sua criação, se afastasse um pouco. Mas quando a tecnologia e a certeza de que ele poderia voltar àquele universo para insuflar mais sangue e mais vida se cristalizaram, havia chegado a hora inexorável de ceder à necessidade latente.
Um problema: encontrar o substituto de Mel Gibson. O preferido do diretor seria Heath Ledger. A escolha então recaiu no londrino Tom Hardy, ator com uma carreira consolidada em minisséries como O morro dos ventos uivantes (2009), em que interpretou Heathcliff, e blockbusters como Batman, o cavaleiro das trevas ressurge (2012), em que interpretou o líder terrorista Bane. Bem diferente da aposta Mel Gibson, que no primeiro Mad Max realizava o segundo filme apenas. Mas para a maioria do público, Hardy ainda é um rosto relativamente novo.

Bullit na areia. O filme de Peter Yates é considerado o supremo filme de perseguição no asfalto. Mad Max: Fury Road é o derradeiro filme envolvendo fugas sobre rodas na areia. Motores e veículos dos mais estapafúrdios (que remetem ao desenho animado Corrida maluca) em cenas trepidantes de incrível habilidade dos dublês e da equipe (que em alguns momentos lembram as performances dos melhores artistas circenses).
O 3-D acaba sendo a tecnologia ideal para maximizar (sem trocadilho) os efeitos artísticos e catárticos do novo pesadelo (sonho para os fãs) de George Miller.

A parceria de Hardy com Charlize Theron, que interpreta Furiosa (talvez a personagem feminina mais enigmática, ambígua e forte do cinema contemporâneo, algo similar ao que Sigourney Weaver fez com a Ripley), é um dos trunfos do filme. Os dois encontram um equilíbrio delicado entre o protagonizar e o coadjuvar (verbinho feio mas existe) e alçam o novo Mad Max a um patamar além da cúpula dos melhores filmes de ação.

domingo, setembro 20, 2015

Não confunda alhos com bugalhos: os dois George Miller

Os dois nasceram na década de 1940 e começaram a carreira no final dos anos 1970. Os dois têm sangue australiano nas veias, embora um deles não tenha nascido na Austrália, e sim na Escócia. Os dois acabaram abraçando a mesma profissão, são talentosos e construíram ao longo de quatro décadas um currículo eclético e variado. Para confundir ainda mais o cérebro dos cinéfilos, os dois gostam de variar bastante de estilo, os dois fazem filmes para adultos e para crianças, os dois fazem a maioria de seus filmes "down under" (sim, na boa e exótica terra australiana) e os dois assinam seus filmes como George Miller.

O George Miller mais famoso, digamos assim, é médico e estreou na direção de filmes com o acachapante Mad Max em 1979. Ele nasceu em  1945 em Brisbane, a capital de Queensland e terceira maior cidade da Austrália. Tornou-se septuagenário no ano em que lançou o quarto filme da franquia, Mad Max: Fury Road, que mal posso esperar para ver daqui a pouco. Ele tem na estante um Oscar por Happy Feet, melhor filme de animação em 2007. Além do Happy Feet 1 e 2 e da franquia Mad Max, seu abrangente portfólio inclui também: The Twilight Zone: Além da imaginação (1983, episódio 4, Pesadelo a 20 mil pés, com John Lithgow), As bruxas de Eastwick (1987), O óleo de Lorenzo (1992) e Babe, o porquinho atrapalhado (1995).



O outro George Miller (que às vezes assina como George T. Miller, T. de Trumbull), também é de origem australiana, mas nasceu na Escócia em 1943 e estreou como diretor de cinema em 1982, obtendo o prêmio de filme mais popular no festival de Montreal com o faroeste The Man from Snowy River (título brasileiro: Herança de um valente, uma raridade nas locadoras), com Kirk Douglas. O filme se passa nas pradarias australianas e se baseia no poema homônimo de Banjo Paterson, composto no fim do século XIX.
Outros filmes de sua autoria incluem:
O aviador (1985, com Christopher Reeve), A história sem fim 2 (1990), Um amor no fim do mundo (1992), André, uma foca em minha casa (1994, excelente filme para ver com a criançada), Zeus e Roxanne, quase feitos um para o outro (1997), Robinson Crusoé (1999, com Pierce Brosnan), Supercão (2003), O ataque do dente-de-sabre (2005) e o horror sobrenatural Prey (2009).


Dois xarás, dois belos e bizarros currículos, um pouco difíceis de distinguir, mas não de admirar.

segunda-feira, setembro 07, 2015

Arsène Lupin

Para quem tem dois filhos pequenos, é quase impossível querer assistir a um filme "adulto", até mesmo de vez em quando. A menos que o casal possa deixar os filhos com os avós, o que não é o meu caso na maior parte do tempo, a solução é assistir o filme em partes. Este filme de 2 horas e 10 minutos levei a semana inteira para ver, em flashes de 15, 20 minutos. Então, para mim, pareceu mais uma minissérie ou um seriado. E na verdade o roteiro tenta condensar muita coisa, para ser sincero.
Começando pelo começo: aluguei o filme num sábado (e aluguei-o pelo simples fato de que costumava ler os romances de Maurice Leblanc que eu pegava na biblioteca municipal) numa locadora de minha cidade, um dvd com a caixinha já quebrada na ponta, e como não era mais lançamento, e o dono da locadora é camarada, ele fez uma "diária estendida". Isso permitiu colocar em ação o meu plano de assistir o filme nas brechas. Durante o fim de semana nem pude dar muita atenção a ele, afinal o pequeno teve surtos de febre de 39 graus, e estivemos às voltas com pediatras, laboratórios de análises e o diabo a quatro, tudo para descobrir que não passava de uma virose benigna autolimitada.
Voltando à vaca fria, e com a temperatura do filho já em ordem, pude terminar a saga de ver este Arsène Lupin, com direção de Jean-Paul Salomé, protagonizado pelo ator Romain Duris, do cult De tanto bater, meu coração parou.
Esse Maurice Leblanc viaja mesmo, e se tudo que tem no filme tiver no livro, é de se tirar o chapéu para ele, e também para os roteiristas que conseguiram adaptar de modo razoável coisas que nas páginas são contadas com elegância e precisão. O elenco, como de costume em filmes franceses, já vale o filme. Este em especial conta com duas belas e hipnóticas atrizes: Eva Green, a priminha apaixonada por Arsène, e Kristin Scott Thomas, a enigmática, às vezes sedutora, às vezes pérfida, Josephine, a condessa de Cagliostro, personagem redondíssima (aquela que segundo a teoria literária se comporta de modo imprevisível e tem várias facetas, ou seja, personagem totalmente anticlichê) e leitmotiv do filme. Com um ritmo alucinante que lembra outro filme francês da mesma época (Pacto dos lobos), Arsène Lupin, o filme de 2004, serve para introduzir as novas gerações ao charmoso personagem. Sendo um apaixonado por essa interface literatura-cinema, aproveito a deixa para publicar as capas de algumas edições do livro que serviu de inspiração ao filme.



domingo, abril 12, 2015

Uma viagem extraordinária

T. S. Spivet (Kyle Catlett) mora com os pais, o irmão gêmeo Layton que usa armas de fogo e a irmã mais velha que sonha em participar de um concurso de beleza num rancho de Montana que se situa numa região divisora de águas. A água que chove a Leste corre ao Oceano Atlântico, a que chove a Oeste corre ao Pacífico. Águas correm para lados opostos, e opostas são as qualidades desse menino filho de um casal bastante heterogêneo. O pai de poucas palavras é um prático criador de cabras. A mãe articulada é uma teórica que cataloga insetos. T. S. nasceu com esses dois talentos e enquanto cada pessoa e animal do rancho toca a sua vida aparentemente pacata, o menino de 10 anos faz desenhos, escreve artigos e projeta protótipos. Mas ninguém parece dar muita bola para seus talentos, nem o professor de ciências da escola, nem o seu pai, a quem T. S. apresenta uma maquete para solucionar um problema de captação de água do rancho. Quando a família se depara com a fatalidade, cada membro reage à sua maneira. T. S. precisa superar a perda e resolve fazer uma longa jornada por conta própria, para receber um prêmio científico pela invenção de um mecanismo de movimento perpétuo.
O diretor Jean-Pierre Jeunet (de filmes aparentemente tão díspares quanto O fabuloso destino de Amélie Poulain e Alien, a ressurreição) adapta em 3-D o romance de estreia de Reif Larsen, The Selected Works of T. S. Spivet  (por sinal, o escritor nascido em Cambridge, Massachusetts, em 1980, acaba de lançar o segundo livro, chamado I am Radar). O resultado é similar aos demais itens da não prolífica filmografia desse diretor: bizarro, exótico, estranho, esquisito, excêntrico... A qualidade do 3-D é excelente, pois o filme foi realizado com equipamento para essa tecnologia, e não adaptado em "pós-produção" para caçar níqueis. Mais uma prova cabal de que o 3-D pode enriquecer outros "gêneros" além de ficção, aventura e animação. Para quem torce o nariz para o 3-D ou fica tonto (como acontece com minha irmã, por exemplo), o blu-ray tem a versão 2D, mas é uma pena perder a sutileza com que Jeunet usa a tecnologia em prol de contar a terna história de um menino em busca de ser reconhecido e... amado.

terça-feira, março 10, 2015

Uma noite no museu 3 - o segredo da tumba

A franquia assinada pelo diretor Shawn Levy chega ao terceiro e, aparentemente, último filme. Se bem que a sequência final dá uma pequena esperança aos que já imaginavam impossível uma nova continuação. Enfim, quem viver, verá.
Espinafrado por apaixonados por obras profundas, nem por isso Uma noite no museu 3 - o segredo da tumba deixou de agradar os fãs de Ben Stiller e de comédias nada pretensiosas. Só posso testemunhar que levei a família ao cinema e presenciei ao vivo as gargalhadas de muitos espectadores. E quem dá gargalhadas nesse tipo de filme? Alguém que paga ingresso para ir ao cinema e que não se infiltra na sala de cinema com o único objetivo de comparar um filme com outros que considera "cinco estrelas"; alguém que talvez até conheça a obra de Eisenstein, Kurosawa, Lynch, Bergman, Fellini e quejandos, mas sabe apreciar o cinema em suas diferentes manifestações, sem precisar "desligar o cérebro". Tanto melhor que Shawn Levy não se importa muito com isso. Prefere agradar as massas, embora talvez entenda e aceite o trabalho de pessoas que já entram na sala de cinema determinadas a serem rigorosas. Mas sua filmografia confirma que o diretor canadense não se deixa abalar muito fácil: Recém-casados, Doze é demais, A pantera cor-de-rosa, além da trilogia Uma noite no museu. Todos filmes com mais sucesso de "público" do que de "crítica".

Minha ligação com este filme vai além de cinéfilo curioso: fui contratado pela Novo Século Editora para traduzir a novelização da obra, antes mesmo de o filme ser lançado nos cinemas brasileiros. Ou seja, pude conhecer a trama e alguns diálogos em primeira mão e participar um pouco da criação desses diálogos em nossa língua materna. Mais detalhes sobre essa minha faceta tradutória
no blog:
http://oliveiraguerra.blogspot.com.br/.