segunda-feira, maio 30, 2011

Os agentes do destino

Filme que marca a estreia do roteirista George Nolfi como diretor. Na função de roteirista, tem um currículo até certo ponto sólido, que inclui pelo menos dois grandes sucessos: Onze Homens e outro segredo (2004) e O ultimato Bourne (2007). Para sua estreia como realizador, para não perder o cacoete, escreveu também o roteiro, desta vez com base num conto publicado em 1954, de autoria do cultuado Philip K. Dick: The Adjustment Team. O título original do filme faz um intertexto com o título do conto: The Adjustment Bureau. Mas em português o intertexto se perdeu. Mas se algum dia o conto for traduzido para o português, o tradutor já tem um título para copiar: Os agentes do destino!
Um dos membros da "equipe de ajuste", Harry Mitchell, ajuda o jovem político David Norris (Matt Damon) a encontrar seu obscuro objeto de desejo: a bailarina Elise Sellas (Emily Blunt).
Tipo do filme que não ofende (a inteligência de) ninguém. E, incrivelmente, alcança 60 milhões de dólares de bilheteria sem ter um único tiro. Que elemento atrai o público nesta inusitada mistura de Felicidade não se compra com 1984? Em lugar do cheiro de pólvora, os beijos apaixonados de Matt Damon e Emily Blunt.

quinta-feira, maio 19, 2011

Caminho da liberdade

Quem já se deteve mais do que poucos segundos neste blog já percebeu que os textos aqui publicados não são "resenhas" nem "críticas". São textos do ponto de vista do cinéfilo. Mas não se engane: só porque o cidadão é cinéfilo não quer dizer que não tenha senso crítico nem enxergue os pontos negativos até mesmo nos filmes de seus cineastas prediletos. Caminho da liberdade tem como defeitos principais a falta de carisma de Jim Sturgess (que interpreta Janusz, algo como o protagonista) e a falta de alternativas do roteiro. Na segunda categoria, é preciso dizer que a própria ideia de fazer um filme desses é algo quase inimaginável, ainda mais num tempo em que plateias são bombardeadas com fugas vertiginosas, explosões esquizofrênicas e inversões de expectativa mirabolantes. Diferentemente de John Sturges (que fez de Fugindo do inferno uma aventura trepidante), Peter Weir decidiu realizar seu filme sobre uma longa caminhada (não é à toa que o material usado como inspiração para a película se intitula The Long Walk). De modo que depois da fuga dos prisioneiros do gulag, o espectador que se prepare para uma difícil e pedregosa jornada. Parte da crítica louvou a obra, enquanto outra parte, incluindo Beth Wilson (http://www.trespassmag.com/review-the-way-back/), destacou a incapacidade do diretor em despertar no público empatia pelas personagens. A ênfase seria nas paisagens em detrimento do drama humano.
Acho que a esta altura posso começar a fazer o contraponto, enumerando alguns dos pontos positivos do filme: a fotografia, a música, a montagem, pequenos detalhes tocantes do roteiro e a direção econômica. (Por direção econômica refiro-me a fazer uma tomada de 10 segundos quando muitos diretores metidos a sebo fariam de um minuto.)
Ainda criando um intertexto com Fugindo no inferno: Steve Mcqueen interpreta o irreverente oficial americano que sempre vai para a solitária. Caminho da liberdade tem seu americano: Mr. Smith, encarnado por Ed Harris, que também se destaca pela coragem. Completam os sete fugitivos o fora-da-lei e stalinista Valka (Colin Farrell); o padre Voss (Gustaf Skarsgård); o comediante Zoran (Dragos Bucur); o desenhista Tamasz (Alexandru Potocean) e o garoto Kazik (Sebastian Urzendowsky). Um caso à parte no elenco é o talento de Saoirse Ronan - a órfã polonesa que se une ao grupo de fugitivos no meio do caminho.
Na condição de fã do diretor, seria fácil rotular o filme com uma série de adjetivos bombásticos com o objetivo de "despertar a curiosidade" do leitor. Mas confesso que sou suspeitíssimo neste caso. Só queria dizer que é uma sensação agradável e feliz ir ao cinema para ver o filme de um cineasta do nosso top ten. Por mais defeitos que o filme possa ter, sempre vamos reconhecer nele as qualidades que nos fizeram respeitar e apreciar o seu trabalho. Se fosse para dar um adjetivo, pediria emprestado o que a rígida Isabela Boscov da Veja usou para classificar Caminho da liberdade: "extraordinário".