sexta-feira, abril 02, 2010

How to train your dragon


Soluço é um menino que desonra a tradição de seu povo. Não tem vocação nenhuma para matar dragões - a razão de ser dos vikings. Considerado um caso perdido pelo seu exigente e incompreensivo pai, participa assim mesmo junto com uma turma de crianças de um treinamento para combater dragões numa arena (tipo um Coliseu viking). Triste e sentindo-se pressionado pelo stablishment, um belo dia o garoto encontra um dragão manietado na clareira de uma floresta. Em vez de matá-lo, Soluço corta as cordas que prendem a fera - uma das espécies mais raras e desconhecidas, o Fúria da Noite. É o começo de uma amizade que vai render muitas surpresas e aventuras. Soluço descobre o lago onde o dragão mora e o conquista com peixes frescos. Estabelece-se uma relação de mútua vantagem: Soluço instala um estabilizador no rabo do dragão (que perdera um dos lados da barbatana), possibilitando assim que ele pudesse voltar a voar. Banguela (assim batizado por Soluço pois o dragão consegue recolher os dentes) permite que Soluço o conduza nos voos. Com referências literárias (a mais óbvia sendo Beowulf, a obra seminal da literatura inglesa) e cenas planejadas especialmente para otimizar os efeitos 3-D, Como treinar o seu dragão é melhor entretenimento que muitos "filmes-cabeça" por aí.

quinta-feira, abril 01, 2010

Conta outra


Hoje está na moda chamar poetisas de poetas, mas teve uma época em que se ensinava na escola que o feminino de poeta é (era) poetisa. Feministas acreditam que poetisa é um termo sexista, talvez por isso a atual popularidade de poeta comum de dois. Só queria dizer uma coisa. Poetisa é uma palavra bonita. Mais bonita até do que poeta. E mais feminina e delicada.

Pois este post tem a intenção de comentar o lançamento do livro da poet(is)a Márcia Knop.
[by the way: poet (is) a Poe tis' a poetiza
poetisa!]

Como ia dizendo, essa moça baiana e cosmopolita morou em Porto Alegre (entre outros e variados lugares) e hoje mora em Washington, D. C., digo, Brasília. A tradução literária nos uniu colegas em duas memoráveis oficinas. Eis que o talento da menina não se limitava à sociologia e a voos tradutórios: por baixo, mansa e subterraneamente, corria um regato que aflorou em água de cristalina poesia: Conta outra, da Editora Livronovo (http://www.livronovo.com.br/).
Finura nos dois sentidos: de um fino moderno (ou seja, à la Manoel de Barros) e de uma finèsse irretocável, uma sensibilidade refinada. Do tipo que fica melhor a cada releitura. Abaixo duas amostras pinçadas dos 38 poemas:

Alta-costura
o meu vestido
indefectível
foi feito à mão
é um romance
de mistério
a trama do tecido
é elaborada
a textura,
sem emenda,
provoca
uma sensação
visual e outra tátil
segredos
somente desvendados
pela alta-costura
abrir seus botões
é um risco

Microplaneta
projeta-se para frente,
mês a mês,
esférica
ao vê-la,
a associação é imediata
globo terrestre
um hábitat
completo,
por longas
40 semanas

(Knop, Márcia. Conta outra. São Paulo: Livronovo, 2009)