domingo, setembro 23, 2007

Ligeiramente grávidos

O filme de estréia do roteirista e diretor Judd Apatow, O virgem de quarenta anos, rendeu 110 milhões de dólares e boas críticas, além de lançar ao estrelato Steve Carell. Nascido em 1967, Apatow obtém no segundo filme resultados não menos surpreendentes: 150 milhões de dólares, novamente com um elenco sem figurões. Os motivos do sucesso? Os mesmos que os do primeiro filme: uma premissa interessante, um roteiro simples, um elenco engajado e algumas cenas diferenciadas. E o que distingue um bom filme de um filme mediano, senão algumas cenas diferenciadas?
Knocked up (Ligeiramente grávidos, 2007) é a crônica de um romance casual que, por um detalhe logístico, transforma-se em assunto sério. Alison Scott (Katherine Heigl) trabalha na TV e, na semana em que recebe uma promoção, sai para dançar com a irmã Debbie. As duas bonitas loiras furam a fila de uma casa noturna, graças ao olhar clínico e ao crivo do porteiro. Lá dentro, dançam e recebem assédio de uns rapazes. Debbie tem que sair pois o marido ligou e a filha está com catapora. Alison fica, então, à mercê do recém-conhecido Ben Stone (Seth Rogen), um never-do-well cuja principal atividade é a criação de um site na Internet sobre nudez em filmes que nunca entra em funcionamento. Mas ele é atencioso, simpático e Alison está a fim de comemorar. Quando, depois de muitas cervejas, Ben recebe um convite para ir à casa de Alison, mal consegue acreditar em sua sorte. Alison só lembra do fato de novo dois meses depois, quando passa a sentir enjôos. O teste de gravidez dá positivo e ela manda um e-mail a Ben.
Entre as cenas diferenciadas, está a que Alison, grávida de sete meses, e a irmã Debbie tentam entrar no mesmo estabelecimento do começo do filme. O diálogo entre Debbie e o porteiro é dessas pérolas que tornam bom um filme que seria mediano. A propósito: como foi dito, Ligeiramente grávidos funciona, entre outros motivos, devido ao elenco sem estrelas, porém engajado. E há maior engajamento que o trabalho em família? Leslie Mann, a atriz que interpreta Debbie, é a mulher do diretor Judd Apatow. E as duas meninas da película são as filhas Iris e Maude Apatow. Raridade em cartaz: comédia norte-americana não apelativa e com sinais de inteligência.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Hairspray


Antes de falar sobre Hairspray (2007), umas palavras sobre o autor do 'source material': John Waters. Diretor fora do mainstream, na década de 70 especializou-se em filmes escatológicos estrelados pela travesti Divine, como o célebre Pink Flamingos (1972). Suas películas mais recentes são Cry Baby (1990), com Johnny Depp, Serial Mom (Mamãe é de morte, com Kathlen Turner, 1994) e A Dirty Shame (2004). O Hairspray original é de 1988, com Divine fazendo o papel de Edna Turnblad. Na nova versão, dirigida por Adam Shankman, Edna é interpretada por John Travolta.
Para Tracy Turnblad (Nicole Blonsky), o amanhecer é motivo de alegria em Baltimore. Sua vida é freqüentar o colégio e assistir ao "Corny Collins Show", em que vários dançarinos se apresentam. O sonho de Tracy é um dia participar do programa. O único problema é que... bem, o único problema é que Tracy é filha de Edna, e herdou da mãe, senão a altura, a sua, vamos dizer... fofura. Mas Tracy não é uma fofinha 'recalcada', muito antes pelo contrário: adora dançar e não tem vergonha de suas formas convexas. Quando uma dançarina do Collins Show precisa ser substituída devido à gravidez, abre uma vaga e Tracy tenta a sua sorte, junto com a amiga Penny Pingleton (Amanda Bynes). John Travolta e Christopher Walken estão hilários como Edna e Wilbur Turnblad, os pais de Tracy. O elenco de apoio é forte: Queen Latifah (a líder comunitária Motormouth Maybelle, que defende a integração racial), Michelle Pfeiffer (a produtora maquiavélica Velma von Tussle) e James Marsden (o engomado apresentador Corny Collins). Por sua vez, a estreante Nicole Blonsky não decepciona no papel de Tracy. Boa diversão, respeitando a tradição dos musicais norte-americanos.

A última cartada


O diretor Joe Carnahan tem no currículo Blood, Guts, Bullets and Octane (1999) e Narc (2002). Tido como (mais um?) seguidor de Guy Ritchie e Quentin Tarantino, seu novo filme é Smokin' Aces (A última cartada, 2007).
O enredo envolve um homem com coração a prêmio - o sem personalidade Buddy Aces Israel (Jeremy Piven) - e a peregrinação de policiais e matadores de aluguel até o hotel de luxo, situado em Lake Tahoe, na divisa da Califórnia com Nevada, onde o imbecilizado alvo passa os dias cheirando cocaína e transando com prostitutas. O roteiro imita filmes de outras décadas e apresenta um por um todos os candidatos (entre eles, os alucinados irmãos Tremor) a obter a recompensa de 1 milhão de dólares, que, segundo corre o boato, será paga pelo mafioso Primo Sperazza (Joseph Ruskin) a quem matar Aces - e extirpar seu coração. Paralelamente, o FBI monta uma parafernália para proteger Aces. Andy Garcia e Ray Liotta são policiais, enquanto Ben Affleck e Alicia Keys (na foto), caçadores de recompensas.
O melhor que o filme tem a oferecer, além da carnificina inevitável, é o diálogo cínico entre dois matadores no estacionamento. Não recomendado para mulheres grávidas e outras pessoas sensíveis.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Paranoia

Em Janela Indiscreta (Rear window, 1954), de Alfred Hitchcock, o fotógrafo interpretado por James Stewart tem a perna quebrada e precisa ficar de molho em seu apartamento, sob os cuidados de ninguém menos que Grace Kelly. Sem alternativas melhores para passar o tempo, entrega-se ao voyeurismo e, pela janela dos fundos, passa a esquadrinhar o prédio vizinho e fica intrigado com o comportamento estranho de um de seus moradores.
Essa ideia do voyeur que presencia - ou pensa que presencia - um crime no imóvel próximo foi reciclada em Dublê de corpo, de Brian De Palma, e agora é aproveitada em Paranoia (Disturbia, 2007).
O jovem Kale (Shia LeBeouf), após uma pescaria tranqüila com o pai, guia a pickup no caminho de volta para casa. O que acontece nesse dia deixa-o traumatizado e, por conta desses distúrbios emocionais, um ano depois, agride o professor de espanhol e é condenado à prisão domiciliar. Um sensor é colocado no tornozelo do jovem de 17 anos, limitando sua movimentação num raio de 30 metros a partir do seu quarto. Esse é ponto de partida para que o perturbado Kale começasse a usar seu tempo de modo destrutivo, ignorando as súplicas de sua mãe Julie (Carrie-Anne Matrix Moss). Inevitável nesse processo que Kale ficasse conhecendo a rotina de todos os vizinhos. Diferente do fotógrafo de Janela indiscreta, cujo campo de visão limitava-se a uma janela apenas, Kale tem várias à disposição, inclusive a que dá para a piscina de Ashley (Sarah Roemer), recém-chegada no bairro. Ao mesmo tempo em que mergulha na obsessão pela nova vizinha, Kale, com a ajuda do amigo Ronnie (Aaron Yoo), passa a investigar com bastante desconfiança os passos do misterioso Mr. Turner (David Morse).
Na atual carência de bons filmes de suspense, Paranoia não chega a ser uma decepção completa. Assina a direção D. J. Caruso (de A sombra de um homem, 2002 e Roubando Vidas, 2005), com história de Christopher Landon.