terça-feira, dezembro 08, 2020

Repo Man: a onda punk

 


Neste cult de Alex Cox, Emilio Estevez é Otto, um "punk" revoltado contra o sistema, mas que por influência de Bud (Harry Dean Stanton) torna-se um "agente do confisco", ou "repo man", um cara que trabalha para "repossess", ou recuperar, veículos de pessoas inadimplentes.



A trama paralela (ou central) tem a ver com um misterioso veículo com placas de Roswell, Novo México, dirigido por um misterioso senhor com óculos tapa-olho. Quem abre incautamente o porta-malas do carro...




A cena inicial é um exemplo de simplicidade e eficiência para capturar o espectador.



O filme se tornou cult não por conta dos efeitos especiais relativamente toscos, mas sim pelas críticas sociais embutidas e os diálogos cortantes. 

Em tempo: o subtítulo "a onda punk" foi uma discutível jogada de marketing dos distribuidores brasileiros. Otto não é um punk de verdade, apenas tem uma atitude revoltada e às vezes dança pogo com seus amigos. Mas por incrível que pareça o subtítulo pegou, para o bem ou para o mal.








segunda-feira, dezembro 07, 2020

Pânico no ano zero!


O grande ator Ray Milland acumula neste clássico da ficção científica o cargo de diretor. 

Mas o grande astro do filme é o roteiro.

Filmado em preto e branco, em plena guerra fria, Pânico no ano zero! (1962) explora o pânico de uma guerra nuclear.


A família Baldwin madruga e pega a estrada com um trailer rumo a uma pescaria de fim de semana.

Harry (Ray Milland) e Ann (Jean Hagen) estão animados, ao contrário dos filhos adolescentes Rick (Frankie Avalon) e Karen (Mary Mitchell), emburrados por ter que acordar cedo com um só objetivo: peixes. 

No caminho rumo às montanhas, estranhas explosões luminosas espocam no horizonte em vários pontos e momentos. 

Os clarões são intensos e a família logo desconfia que algo não está certo.

Quando o pior cenário se confirma (os EUA estão sofrendo ataques nucleares em várias cidades), a família tem um dilema: voltar ou não voltar para tentar resgatar a mãe de Ann. Relutante, Harry dá meia-volta com o carro.



Mas o pânico começa a se instalar na rodovia sinuosa, com uma caravana de carros fugindo de Los Angeles. A família estaciona numa lanchonete de beira de estrada para coletar informações e tomar café.

Então tomam a difícil decisão: a sobrevivência individual de cada membro do núcleo familiar será a prioridade nos próximos dias. 

Será impossível voltar para buscar a vovó.

Agora os seres humanos começam a sentir os efeitos de uma situação desesperadora e anômala.

Medidas extremas podem ser tomadas, a selvageria contida pela civilização aflora...

Ética, civilidade e solidariedade saem de cena.



A lógica do "cada um por si, Deus por todos" está valendo agora, mais do que nunca.

A família esconde o carro e passa a morar numa caverna, evitando ao máximo o contato com outras pessoas.




Mas a perversidade se materializa na forma de uma gangue de marginais que não tem escrúpulos para matar e estuprar.


Como ator não há o que dizer de Ray Milland, que ganhou Oscar de Melhor Ator ao interpretar um alcoólatra em Farrapo humano, em 1945, dirigido por ninguém menos que Billy Wilder.

O seu trabalho na direção é discreto e eficiente, um trabalho de quem aprendeu o ofício observando os mestres.









quinta-feira, dezembro 03, 2020

Colossus 1980

 


Filme de ficção científica de 1970 que funciona e trabalha em dois níveis: a dicotomia entre "criador" e "criatura" (lembrando a obra de Mary Shelley, Frankenstein) e a ameaça da inteligência artificial para a humanidade (na esteira do sucesso de 2001, uma odisseia no espaço).

O doutor Forbin é o criador de Colossus, um computador imenso que passa a controlar o arsenal nuclear dos Estados Unidos. A União Soviética, porém, também lança um projeto semelhante, o Guardian.


O suspense se instala quando os dois computadores inadvertidamente estabelecem uma conexão perigosa. Quando o ser humano súbito se torna refém da máquina, o terror substitui o suspense, em um filme que tem lá seu charme.

Uma das curiosidades do roteiro é o estratagema bolado pelo Dr. Forbin para trocar informações com a equipe sem ser vigiado por Colossus. 

Diuturnamente controlado por câmeras instaladas em todos os cômodos e salas, Forbin convence Colossus que precisa de "privacidade" algumas noites por semana para encontros sexuais com sua amante.




O diretor Joseph Sargent é um especialista em cumprir a deadline, um sujeito que trabalhou de 1966 a 2008 ininterruptamente fazendo mais de 40 filmes, sem ganhar notoriedade ou reconhecimento.



O "grande" Roger Ebert (que, como todo bom crítico de cinema, cospe na trajetória da pessoa e se agarra apenas "no que acabou de ver") o classificou de incompetente.

A maior honraria que Sargent recebeu na carreira foi uma indicação à Framboesa de Pior Diretor pelo filme Tubarão 4, a vingança.

E a maior qualidade de Sargent é fazer o que gosta, ser um "pau-pra-toda-obra" da indústria cinematográfica, mostrar a sua resiliência e sua capacidade de continuar, apesar das críticas muitas vezes superficiais e ridículas. 

Em tempo: O sequestro de metrô 123, filme de 1974, foi o auge de sua carreira no cinema, dirigindo Walther Mattau, Robert Shaw, Martin Balsam e Héctor Elizondo.