terça-feira, agosto 29, 2017

LIVE AND LET DIE











A franquia 007 continua sendo um grande sucesso, mas poderia se inspirar em filmes como este para recuperar um ingrediente importante: o senso de humor.
O James Bond anda muito sisudo hoje em dia. Não estou falando do ator em si, não estou apenas comparando Daniel Craig com Roger Moore, estou me referindo ao roteiro, à dosagem de ação, de aventura, com as cenas de alívio cômico.

O roteirista Tom Mankiewicz  se esmerou nesta parte. 007 - Live and Let Die contém algumas das cenas mais engraçadas da franquia, e também um dos personagens coadjuvantes mais queridos, e que, devido à acolhida do público, voltou a aparecer no filme seguinte: o impagável xerife J. W. Pepper, interpretado por Clifton James, falecido em abril deste ano.
Na parte da icônica perseguição das lanchas, o xerife Pepper tem uma atuação destacada, praticamente se torna o protagonista da história.
O clima do filme é todo permeado por um humor essencialmente britânico, que brinca com as palavras e com as idiossincrasias das personagens.
Desde o primeiro diálogo entre Bond e M (Bernard Lee), a verve cômica/irônica/satírica do roteirista domina a obra, sem, é claro, perder de vista as proverbiais cenas de ação inacreditáveis.

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Assistir a um filme realizado em 1973 também suscita outros prazeres: é voltar ao tempo em que se fazia cinema com cenas descaradamente gravadas em estúdio (cena de Bond na asa-delta, cena de Felix Leiter e Bond no barco), mas, em contrapartida, em que os dublês eram bastante exigidos. Nada de efeitos especiais digitalizados e o diabo a quatro. Tudo orgânico e visceral.
Falando em visceral, que tal mencionar um pouco do "enredo"?
O argumento é inspirado no romance homônimo de Ian Fleming, mas é tão fiel ao texto quanto são parecidas as capas das muitas edições da obra.
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Três agentes britânicos são mortos e Bond é escalado para investigar. Em pleno bairro Harlem de Nova York, se infiltra no covil do Sr. Big, temido chefe local, que usa a casa noturna Fillet of Soul como fachada para seus negócios escusos. James Bond tem sua pistola inutilizada por Tee Hee, que tem um braço mecânico e um alicate no lugar da mão. Na ocasião, conhece ali Solitaire (Jane Seymour), uma bela moça que tem o dom de ler o futuro nas cartas do tarô. Ela pede para Bond puxar uma carta e se surpreende quando ela é virada: é a carta dos amantes.

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Claro que Bond aproveita a deixa e vai acabar seduzindo a moça, apenas uma das três "Bond-girls" que ele leva para cama no filme. A namoradinha da cena inicial e também a agente da CIA, Rosie Carver (Gloria Hendry). Rosie é o apoio de Bond na ilhota de San Monique, no Caribe, dominada pelo misterioso Mr. Kananga, o tutor/protetor de Solitaire, e suposto sócio/amigo de Mr. Big. Outro personagem que surge em momentos chave do filme é o Barão Samedi, uma espécie de performer que volta e meia aparece nas circunstâncias mais bizarras (vide última cena).Resultado de imagem para live and let die

A direção é assinada por Guy Hamilton, que marcou época na franquia, realizando nada menos do que quatro filmes, três deles com roteiro de Tom Mankiewicz. Hamilton é o tipo do diretor pragmático que entrega o produto involucrado especialmente para o público-alvo, e, na percepção dele, o público de 007 queria se divertir, ver cenas apenas possíveis nos filmes da franquia. Hamilton faleceu em 2016 e neste artigo é chamado de um "importante arquiteto de nossa cultura pop contemporânea". 
Outra particularidade do filme é a música-título, de autoria de Paul McCartney e Linda McCartney, interpretada pela banda do casal, Wings, que não só toca na abertura e no final, como também ao longo da história.
A música fez tanto sucesso que até hoje está no setlist dos shows de Mr. Paul McCartney.

domingo, agosto 27, 2017

DUO RITTER & CORDELLA




No dia 26 de agosto de 2017, no Teatro do SESC, em Carazinho - RS, apresentaram-se os musicistas Alexandre Ritter (contrabaixo) e Fernando Cordella (cravo).

O espetáculo foi aberto com o Improviso sobre Sonnerie de Ste. Geneviève du Mont-de-Paris, de Marin Marais (1656-1728).

Em seguida, os dois explicaram a gênese do projeto, e Alexandre Ritter declarou sentir-se honrado com o convite para tocar na cidade natal de Cordella, que é o diretor artístico da OSINCA (Orquestra Sinfônica de Carazinho).






Johann Baptist Vanhal (1739-1813) compôs o concerto para contrabaixo com cravo que deu continuidade aos trabalhos. O concerto teve três movimentos: allegro moderato, adagio e allegro.

Ao término do concerto de Vanhal, o duo ausentou-se do palco para um intervalo.

Após o descanso necessário, na segunda parte do espetáculo, o duo apresentou o concerto para contrabaixo com cravo de Carl Ditters von Dittersdorf (1739-1799), também em três movimentos: allegro moderato, adagio e allegro.

Ao cabo da apresentação, o público aplaudiu de pé e pediu bis.

Em tempo: o próximo concerto promovido pela OSINCA será em 30 de setembro, na bela Igreja da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Carazinho - RS, com os solistas da OSINCA interpretando movimentos da 5ª Sinfonia de Beethoven, entre outras peças selecionadas.

quinta-feira, agosto 10, 2017

A Bandinha no Teatro do SESC - Carazinho - RS

Rosivaldo Cordeiro, virtuose das cordas radicado na França

O projeto Sonora Brasil, circuito 2017/2018, trouxe a Carazinho a banda formada por oito músicos amazonenses.


Banjo open-back e cavaquinho

De formação eclética, A Bandinha inclui militares reformados, maestros, professores universitários, músicos de renome e também um estudante (Paulo Dias, no trompete), cujo Trabalho de Conclusão de Curso terá como tema A Bandinha e a sua trajetória, incluindo a turnê dentro do projeto do SESC.



Maestro e flautista Cláudio Abrantes

O ingresso foi um kg de alimento não perecível.


No clarinete, o polonês Vadim Ivanov, radicado em Manaus

A nossa família compareceu inteira, apenas o pequeno de 5 anos, que havia acordado muito cedo, capotou antes mesmo de ouvir a percussão, que só começou a funcionar na terceira música do repertório.

Paulo Dias no trompete



A propósito, o setlist seguiu uma ordem cronológica e mostrou a evolução das composições, desde as quadrilhas do século XIX, com influências europeias e cinco movimentos, até o surgimento do xote, do choro e da lambada.



Jonaci Barros no saxofone

Carlos Alexandre no sousafone

Mas, diga-se de passagem, o caçula prestou bastante atenção no começo, tanto que cochichou para mim, apontando para o percussionista:

"Por que aquele não está cantando (sic)?".



O percussionista Ronalto Alves e Rosivaldo Cordeiro

Antes de cada música, o flautista Cláudio Abrantes e o especialista em instrumentos de corda (banjo, cavaquinho) Rosivaldo Cordeiro contextualizavam o compositor e a peça a serem executados.



A Bandinha executou dez peças formando um panorama histórico

Muito curiosa a história da verdadeira "lambada", surgida com a mescla de influências das fronteiras amazonenses com a Colômbia e o Peru.


Rodrigo Nunes no bombardino

Além dos três musicistas já citados, completam A Bandinha: Jonaci Barros (saxofone), Vadim Ivanov (clarinete), Rodrigo Nunes (bombardino), Carlos Alexandre (tuba ou sousafone) e Ronalto Alves (percussão).


Obrigado, SESC, obrigado, Bandinha!


Carlos Alexandre, sua incrível tuba
e o menino Félix com o CD "Jonaci e seu sax, na arte do Beiradão"



terça-feira, agosto 01, 2017

Em ritmo de fuga


Baby Driver, de Edgar Wright, é a antítese de Dunkirk. Os personagens têm nome (ou codinome) e  outros sentimentos além daqueles motivados por instinto de sobrevivência, patriotismo e orgulho.

É um filme simples sobre a importância da música, da audição e do amor.

Também os realizadores não poderiam ser mais díspares: Edgar Wright é o despretensioso e bem-humorado responsável por filmes de orçamento relativamente baixo, à exceção deste Baby Driver, que conta com um elenco de atores mais conhecidos e até oscarizados, como Jamie Foxx e Kevin Spacey.

O roteiro do próprio Wright faz o espectador criar empatia com o protagonista. Ele se autodenomina Baby, e é um jovem com cicatrizes no rosto que sofre de um problema auditivo, um zumbido que não cessa. Por isso, escuta constantemente músicas em fones auriculares.

O background do personagem é contando em flashbacks, que mostram o relacionamento conturbado dos pais e o acidente que deixou o então menino com as sequelas físicas mencionadas. As sequelas
psicológicas? Essas, jamais cicatrizam.



O trabalho que Baby executa é dirigir. E no mundo da superespecialização, Baby tem a sua especialidade: dirigir carros em fuga para quadrilhas de assalto a banco. 

Seu destino está inexoravelmente atrelado a Doc (Kevin Spacey), um figurão do mundo do crime que alicia Baby para fazer seus trabalhos sujos. Mas Baby está prestes a ficar quites com ele, e, assim, talvez libertar-se do jugo deste mafioso/fora-da-lei.

Nesse meio-tempo, Baby se apaixona pela garçonete Debora (Lily James), que inevitavelmente será envolvida no submundo.

Mas felizmente o casal de pombinhos não pretende ser uma nova versão de Bonnie & Clyde, nem dos doidos desvairados de Assassinos por natureza.



Ao contrário: Baby (Ansel Elgort) é um gentleman, um estranho no ninho com o coração selvagem. Não gosta de homicídios e se dedica a cuidar de Joseph, o seu tutor surdo e paralítico.

Após sua trilogia de sangue e sorvete (Todo mundo quase morto, Chumbo grosso e Heróis de ressaca), o diretor Edgar Wright começa uma ascensão irresistível aos blockbusters...

Espera-se que ele não deixe isso lhe subir à cabeça.