sexta-feira, agosto 23, 2019

Eu vi no Brasília: Pânico na multidão

 
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O blog olhar cinéfilo vai homenagear o saudoso 
Cinema Brasília de Carazinho numa série de três posts, começando com este.

O Brasília e o Recreio foram os cinemas de minha infância. Sim! Naquela época, Carazinho ainda tinha dois cinemas.

No Brasília passavam os filmes melhores. Do outro lado da rua, no Recreio, a programação era mais focada em trash movies, faroestes spaghetti, filmes de kung fu e quejandos. 

Aquele gurizinho frequentava o Brasília, parafraseando o diretor Joe Dante, como se aquele local fosse um templo, um local de peregrinação.  Não me pergunte como ele conseguia entrar em filmes proibidos para menores de 18 anos. Naquela época as coisas eram menos rígidas.

Assim foi se moldando uma capacidade de "gostar" de tudo que é filme, de apreciar o que os filmes têm de melhor, independentemente do estilo ou público-alvo.


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Um dos filmes marcantes que assisti no Brasília, na época em que ele era uma sala gigantesca (depois foi reduzido apenas ao mezanino), foi este Pânico na multidão (Two-minute warning, 1976), dirigido por Larry Peerce e indicado ao Oscar de Melhor Edição. 


Em recente visita a Porto Alegre, estive numa locadora icônica da capital, E o vídeo levou, onde encontrei na seção de filmes que eram do acervo de outra locadora que fechou, a Espaço vídeo, por míseros 10 reais, a edição de colecionador de Pânico na multidão.



Não pestanejei e comprei.

Foi a segunda vez que assisti ao filme. E com olhos diferentes.

O menino só assistia, ávido pela história, pelo desenrolar do drama e do suspense.

O agora pai de dois meninos pesquisa, medita e questiona. 




 















O roteiro baseia-se no livro homônimo de um escritor que teve seus dias de glória, mas hoje é completamente obscuro, pois nem página tem no Wikipedia: George La Fountaine. Em compensação, existe um vídeo no YouTube em que ele dá um depoimento sobre os conflitos vividos por um escritor.



Com a idade, é inevitável nos tornarmos mais chatos, digamos assim. Aos olhos do inocente menino, Pânico na multidão teve contornos de "filmão", com todos os ingredientes de um thriller palpitante. Ainda bem que o menino não havia lido a resenha de Roger Ebert, que na época esculachou a produção, nem a crítica do New York Times. Sugestivamente, o blog "Filmes para doidos" tem uma opinião contrária.

Mas o menino cresceu e se tornou um cinéfilo que escreve. Terei me tornado tão chato quanto um crítico deve ser?

Claro, aspectos e detalhes que me passavam despercebidos, "falhas" ou "furos" do filme, já são mais facilmente detectados. Mas ao revisitar este clássico do cinema-catástrofe quero enaltecer as qualidades que o filme tem.

Começa efetivo em despertar a curiosidade e o interesse do espectador. A câmera se posiciona como se fosse o olhar do personagem. Suas mãos montam uma arma de precisão, e o rifle é levado à janela do hotel. Um casal está pedalando numa rua das imediações. A luneta da arma focaliza a provável vítima e um tiro é disparado. A próxima cena é a mulher gritando segurando a cabeça ensanguentada do marido abatido como se fosse caça.

O homem desce ao saguão e faz o check-out. A câmera não mostra o seu rosto e continua na estratégia de narrar "em primeira pessoa". O assassino entra no carro e sai com o rádio ligado, e o assunto é o grande jogo de futebol americano que acontecerá na cidade, com 90 mil espectadores e a presença do presidente dos EUA.

Esta parte é o "prólogo". Em seguida vários personagens são apresentados, e o elenco é bem conhecido. Eis alguns dos nomes:


Charlton Heston é o chefe da polícia que é alertado sobre a presença de um suspeito no estádio e chama a SWAT para ajudar no caso. John Cassavetes é o sargento que comanda o pelotão da SWAT. Martin Balsam é o administrador do estádio. Beau Bridges traz a esposa e dois filhos para ver o jogo. 

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David Janssen e Gena Rowlands encarnam um casal em meio a uma certa estagnação ou crise no relacionamento. 

Tem ainda um padre que é aficionado pelo esporte e recebe um ingresso de um dos jogadores. Ele vai sentar-se ao lado do personagem de Jack Klugman, um apostador que pede ao padre rezar para que seu time ganhe, caso contrário ele vai estar em maus lençóis.

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Esta é a tônica do filme: sem pressa, vai apresentando os pequenos dramas de alguns membros da audiência, enquanto paralelamente as ações do suspeito são monitoradas, até que o capitão Peter (Charlton Heston) avisa a SWAT que ela pode agir a partir do toque do "Two-minute warning", que é um aviso nos jogos de futebol americano, a dois minutos do fim do jogo.


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O suspense é bem construído até a hora em que "bate o pavor" em todos os presentes. A partir daí, muita gente vai ser pisoteada, esmagada, obrigada a se dependurar e a cair de locais altos. Nesse sentido, o modo como o filme é construído lembra uma barragem que vai estancando a ação até o ponto em que ela se rompe e leva tudo pela frente.

Por isso, em termos de ação, o melhor de Pânico na multidão está na parte final, após o "aviso de dois minutos" típico do futebol americano.
 
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Sequência clássica: em meio ao pânico, a multidão invade o campo e avança em direção aos jogadores que, atônitos, também começam a correr, não apenas pelos tiros, mas para não serem atropelados pela turba alucinada. Vide trailer abaixo.



Ebert criticou o filme porque ele seguia uma fórmula e não questionava os motivos do atirador, nem se mostrava interessado em quem ele era. A minha ressalva seria do tipo "por que tal personagem não fez tal coisa", mas nem sempre a decisão mais lógica numa situação é a mais interessante para manter o drama e o suspense.

Pânico na multidão não ganhou o Oscar de Melhor Edição e não entrou na história de filmes premiados pela Academia. Mas passou no Brasília naquela matinê de sábado e assim entrou para a história de minha vida como cinéfilo. Entrou na lista de filmes marcantes que vi no Brasília.  

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A série de três posts se completa com 

2) Um cult com a sensual Charlotte Rampling; e

3) Uma proverbial e clássica aventura de mercenários, com uma música-tema inesquecível.





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