terça-feira, agosto 27, 2019

Era uma vez em Hollywood

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Não seria leviandade afirmar que o nono filme de Quentin Tarantino brinca com coisa séria. Sei de uma pessoa que vai concordar comigo: a filha de Bruce Lee. Por sua vez, Emanuelle Seigner, a esposa de Roman Polanski, também deu sua alfinetada em Tarantino.

Também não seria nenhuma novidade afirmar que tornou-se um clichê incensar Tarantino. Disparadamente é o cineasta mais "queridinho da crítica" (e também do público geek). Parece não existir crítico com sangue nas veias e a coragem para descer a ripa no Tarantino. 



Por exemplo, no "Veredito" do Omelete, um trio de críticos analisou o filme. Dois curtiram bastante, só a loirinha timidamente fez algumas ressalvas. Essa é uma boa amostragem do que acontece por aí nas resenhas ditas "especializadas". A tendência sempre é ver seus filmes com olhos condescendentes. Quem cria um mito agarra-se a ele para não colocar em risco a própria credibilidade construída sobre um cabedal infinito de elogios que beira a lisonja e a tietagem. 

Tanto melhor que vozes dissidentes se manifestam. Por exemplo, Caspar Salmon do The Guardian classificou as fantasias de Era uma vez em Hollywood como pueris e misóginas e lamentou que Tarantino parece não ter algo significante a dizer. Já o New York Times listou fontes de pesquisa sobre OUATIH.

Eis que me encontro na salutar categoria de um cinéfilo que não é fã de Tarantino (não está em meu TOP 10 de diretores vivos) e, assim, posso assistir a Era uma vez em Hollywood com certo distanciamento, sem a paixão de quem "quer gostar a qualquer custo".

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Sem sombra de dúvidas Tarantino é um bom arquiteto de diálogos. Seus roteiros apoiam-se nessa extrema habilidade de tecer conversas cortantes e críveis. A escritora que mais vendeu livros em todos os tempos, Agatha Christie, também se destacava nesse quesito e, por isso, é difícil largar um livro dela. Por isso também é difícil não se deixar levar por um filme de Tarantino, tal é a sua habilidade de criar um sem-número de situações curiosas, engraçadas, bizarras e surpreendentes. Sob certo prisma, Era uma vez em Hollywood mantém essas características. A diferença é que desta vez Tarantino está brincando com fatos e personagens reais.




Em seu nono filme, Tarantino começa a brincadeira no título, uma alusão direta aos filmes de Sergio Leone, Era uma vez no Oeste e Era uma vez na América. É como se Tarantino quisesse homenagear o cineasta italiano e oferecer uma terceira parte para uma possível trilogia.

Os personagens principais do filme são um ator e seu dublê, vividos por DiCaprio e Pitt. O ator é vizinho de Sharon Tate. Aí que começa o "jogo", ou "brincadeira", entre realidade e ficção. Essa proximidade espacial é a deixa para mesclar as histórias de personagens fictícios com personagens que realmente existiram. 



Ousadamente (ou arrogantemente?) Tarantino está a fim de transgredir as barreiras entre a ficção e a realidade, entre o que aconteceu e o que poderia ter acontecido. Tarantino chutou o balde ao declarar que não pediria permissão nem autorização de ninguém, nem tampouco para Roman Polanski, por retratar ficcionalmente Sharon Tate, a atriz que esperava um filho do cineasta polonês quando tudo aconteceu.

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A propósito, será que alguém entra no cinema sem ter o tétrico "conhecimento prévio" sobre o que significa a palavrinha "tudo" da frase anterior? 
Invejo essa pessoa que desfrutará do filme de um modo que eu não pude desfrutar.


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A rigor isso não faz diferença para Tarantino. Ele não está nem aí com o conhecimento prévio do espectador porque, na opinião dele, ele é um cineasta que pode tudo.

Pode ridicularizar um ídolo das artes marciais, pode alterar a linha do tempo, pode criar um final alternativo.  

Que eu saiba se alguém usar o nome ou imagem de pessoas reais tem que ter permissão sob o risco de levar um processo. O raciocínio parece não funcionar no caso de Quentin "pode-tudo" Tarantino. E o que é pior: ele se aproveita da situação de que algumas das pessoas caricaturizadas por ele já estão mortas ou encarceradas em prisão perpétua. Será que vale tudo para fazer um filme?


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Tarantino, um mestre no marketing pessoal, declarou bombasticamente que só fará 10 filmes na carreira. Depois disso, começou megalomaniacamente a anunciar seus filmes com um número ordinal acoplado. Que importância tem para o espectador se é o nono ou o décimo sétimo filme da filmografia? Em geral, o espectador nem se importa muito com o nome do diretor, à exceção, é claro, de fenômenos como... Tarantino. O espectador quer assistir a um filme honesto, que não exsude pretensão do início ao fim. Este vídeo discute se EUVEH ultrapassa os limites:




E o "meu" veredito? No frigir dos ovos, Era uma vez em Hollywood é um filme com boas atuações e algumas cenas divertidinhas, mas a serviço de uma ideia que não tem nada de "madura". Metalinguagem aqui é cortina de fumaça para falta de imaginação. EUVEH beira a irresponsabilidade pela maneira como trata de personalidades não fictícias. Flerta com a sensação de "não estar nem aí", de que a "arte" (ou, melhor dizendo, a arte dele) está acima de tudo. Foi esse o principal sentimento que o filme me transmitiu.

As far as I am concerned, que venha logo o décimo e derradeiro filme, e que Tarantino possa se aposentar e ter uma rotina parecida com 

SPOILER SPOILER SPOILER 
SPOILER SPOILER SPOILER
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a daquele velhinho que passa os seus dias dormindo na cabana, talvez o personagem mais honesto de todo o filme.

Margot Robbie as Sharon Tate in Once Upon a Time in Hollywood.



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