Pois o tema da concubina volta com força no mais novo filme de Chen Kaige, a superprodução O mistério do gato chinês (The Legend of the Demon Cat, 2017). O perfeccionista diretor caprichou no visual para contar uma história intrigante.
Tudo no filme gira em redor de um misterioso gato que deixa um rastro de sangue por onde passa. Quem é essa entidade? Que segredos ela guarda? E o que isso tem a ver com a linda concubina do imperador chinês de 30 anos atrás?
Uma dupla inusitada, poeta chinês e monge japonês, é quem tenta amarrar os pontos soltos dessa história, que resulta na descoberta de um manuscrito com revelações surpreendentes sobre um famoso imperador da dinastia Tang, outro período relevante na história chinesa.
Parte considerável da metragem é dedicada a esse flashback, e uma comentarista ocidental alegou que esta é a parte mais interessante. A caucasiana realça que o filme demora a engrenar e desaconselha seus seguidores a conferir o filme.
Por sua vez, uma comentarista de traços orientais postou no YouTube um longo solilóquio sobre o filme. Nos 25 minutos de sua análise, ela divide a resenha em duas partes, com e sem spoilers. Ela classifica o filme como "multilayered", ou seja, um tanto hermético, com várias camadas a serem descobertas pelo espectador. No frigir dos ovos, a visão dela é bem mais positiva.
Eis agora a opinião de um espectador ocidental, que concordou mais com a comentarista oriental.
De fato, o filme pode parecer um pouco lento para quem esperava, por exemplo, uma sequência de lutas de artes marciais. Não é o caso. O ritmo lembra mais o de uma investigação policial, com os dois curiosos detetives mergulhando em explicações fantásticas para fatos históricos.
Acredito que há uma barreira cultural quase intransponível na cadência e nos temas deste filme, e no modo como tudo se desenrola. O mundo ocidental anda muito impaciente, enquanto no Oriente ainda existe espaço para transcendência, meditação, poesia... para o romantismo, sacrifícios, amores impossíveis e almas reencarnadas...
Ouso afirmar que as pessoas mais imaginativas e acostumadas com "filmes estrangeiros" podem desfrutar das qualidade de O mistério do gato chinês com mais facilidade. Quem está acostumado com o "jeito americano de filmar" terá mais propensão a criar um estranhamento com o filme de Chen Kaige.
Como sói acontecer no escuro do cinema, tudo depende do quanto você está disposto a se desfazer de seus preconceitos e de assistir ao filme com olhos mais abertos e com um olhar mais... cinéfilo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é bem-vindo!